Arte no Mundo

Veja a gigantesca instalação de Huang no Monumenta 2016

Por Marina Mantoan - maio 30, 2016
7108 0
Pinterest LinkedIn

Depois de Anselm Kiefer, Richard Serra, Christian Boltanski, Anish Kapoor, Daniel Buren e Ilya e Emilia Kabakov, Huang Yong Ping é o artista convidado à ocupar a nave central do Grand Palais, em Paris, na Monumenta desse ano. O evento foi iniciado em 2007 com o objetivo de apresentar o trabalho de um artista contemporâneo de renome mundial em grande escala. Eles dispõem de um espaço de 13.500 m2 e 35 metros de altura para criarem suas obras. A princípio pensada como uma manifestação anual, a Monumenta assume hoje um formato bienal por duas razões. Primeiramente por motivos financeiros e, em segundo lugar, para que a Bienal de arte contemporânea de Lyon, que acontece nos anos ímpares, dispusesse de toda a atenção, adquirindo desse modo um caráter nacional – explicou a ex-ministra da cultura Aurélie Filippetti. Huang Yong Ping teve, assim, dois anos para preparar o seu projeto entitulado Empires.

 

Huang Yong Ping

Foi na ocasião da exposição Magiciens de la terre (Magos da terra) em 1989, no Centre Pompidou, que o artista Huang Yong Ping (1954-) veio à Paris expor seu trabalho e decidiu deixar a China para instalar-se de vez na Europa. Dez anos mais tarde, ele dividia o pavilhão francês da 48a Bienal de Veneza com o artista Jean-Pierre Bertrand. Fundador do movimento “Xiamen dada”, Huang Yong Ping é uma figura maior da arte contemporânea chinesa. Em uma de suas obras mais emblemáticas, A Historia da pintura chinesa e a Historia da Arte Moderna ocidental lavadas na máquina durante dois minutos (1987), o artista colocou o livro de Wang Bomin (escrito em 1965 e publicado em 1982) e de Herbert Read (sua versão chinesa foi lançada em 1979) por dois minutos numa máquina de lavar e, em seguida, apresentou o resultado do processo sobre um vidro quebrado apoiado sobre uma caixa de madeira. Huang Yong Ping “lava” a historia da arte e torna o que eram duas culturas diferentes em uma massa de papel ilegível, nos impossibilitando de distinguir onde começa um livro e onde termina outro.

Conheça a maior pintura que Picasso já fez e você nunca viu


Empires

Fazendo eco a sua obra Serpent d’océan (Serpente do oceano) realizada em Saint-Brevin-les-Pins, para sua instalação Empires Huang Yong Ping constrói o esqueleto de uma serpente de 250 metros de comprimento, que percorre as oito montanhas levantadas por containers sobrepostos. Bem ao meio da obra, o artista suspendeu entre duas dessas ilhas de containers um bicórneo de grandes proporções. Pensada para ser uma obra espetacular e ao mesmo tempo acessível, cada elemento da instalação traz suas devidas referências- mesmo o artista afirmando a possibilidade de uma interpretação aberta que possa fugir da problemática proposta.

Com a serpente, Huang Yong Ping coloca em jogo imaginários da arte ocidental e da arte oriental dentro da mesma figura. Uma reflexão constante em seu trabalho é o diálogo e o conflito entre a cultura ocidental e a cultura oriental, tendo como intenção contestar uma certa ordem já estabelecida. Os containers coloridos e estampados com as marcas de diversas companhias funcionam como o sinônimo da mundialização e fazem também alusão a crise migratória. Como explica o curador da exposição, Jean de Loisy, os containers são « os mensageiros da fortuna e o refúgio dos infortunados ». Finalmente, o bicórneo, construído a partir do scan 3D do chapéu que Napoleão Bonaparte vestiu na batalha de Eylau, e considerado por muitos como um elemento desnecessário a instalação, é colocado aqui como um símbolo de guerra e como a vontade de alguns de construir seu próprio império. Em Empires, Huang Yong Ping cria uma paisagem simbólica do nosso atual contexto econômico e coloca a mundialização no centro da discussão,   como um possível novo império – único e singular.

Programação paralela
No dia 19 de maio a programação da Monumenta previa a apresentação de um parcours acrobático feito pelos aprendizes yamakasis e acrobatas da Academia Fratellini (uma reputada escola de circo inaugurada em 2003 e dedicada a criação, formação e produção de espetáculos na área). Segundo a descrição do programa, os aprendizes iriam se « deslocar » entre os containers da instalação e andar sobre os « picos dos impérios das sociedades moderna ». Organizar uma programação paralela e em relação a uma exposição com o intuito de ampliar o potencial do que esta sendo exposto ao criar um novo diálogo é uma prática comum de muitas instituições, e que deve ser incentivada. Contudo, a prestação dos acrobatas da Academia Fratellini parecia não se integrar, desafiar « sem medo e sem asas » e nem se impor a instalação de Huang Yong Ping. Se tratando de uma « obra de arte », os aprendizes talvez não estivessem no ambiente mais propício à suas práticas. Além disso, o som produzido pelas suas mãos batendo contra os containers e ressonando no espaço expositivo, e o contraste entre seus corpos e os containers tornaram as acrobacias quase que desnecessárias.

Além de uma mesa redonda, uma conversa com críticos e curadores e um concerto de encerramento, dia 9 de junho é a vez das Performances dansées (Performances dançadas) ocuparem Empires. A apresentação faz parte do projeto Dancing Museums, patrocinado pela União Européia, e que une de 2015 a 2017 oito museus e cinco organizações de danças da Europa com o objetivo de desenvolver novos métodos de aproximação entre o público e a arte. Quem sabe dessa vez não seja só os artistas que vejam Empires através de uma outra perspectiva.

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.

Você quer receber informações sobre cultura, eventos e mercado de arte?

Selecione abaixo o perfil que você mais se identifica.

Inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários