Arte

Durval Pereira: as paisagens do Brasil

Por Equipe Editorial - julho 12, 2018
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Marinhas, casarios de cidades coloniais e paisagens do Brasil adentro eram temas frequentes na obra de Durval Pereira (1918 – 1984). Impressionista num tempo em que predominavam os modernistas e abstracionistas, Durval foi um artista de produção prolífica: pintava de três a quatro telas por dia. A partir do dia 18 de julho, o público paulistano poderá conhecer de perto um recorte de sua extensa produção durante a Exposição SESI Durval Pereira – Impressões Brasileiras / 100 anos, exposição panorâmica realizada pelo Instituto Origami e patrocinada pelo SESI, que acontece no Memorial da América Latina.

Com curadoria do pesquisador e arquiteto Lut Cerqueira, a mostra chega a São Paulo depois de ter passado por espaços culturais de Recife e Ouro Preto. A exposição reúne cerca de 220 trabalhos do artista, marcando diversas fases e temáticas de suas pinturas. Os visitantes poderão ainda conhecer um pouco mais de sua trajetória em tours virtuais, concebidos em realidade 3D, entre uma tela e outra.

Durval Pereira

“Aproveitamos o centenário de seu nascimento para reapresentá-lo ao público. Essa mostra é muito mais do que um resgate da memória de Durval Pereira ou de sua obra. É o caminho, dentre tantos que o artista percorreu pelo Brasil afora, de reaproximá-lo daquilo que ele mais amava: o público apreciador da verdadeira arte”, pontua o curador, que encarou o desafio de trazer à tona a obra de um dos mais importantes impressionistas do país, pintor premiado, que caiu no esquecimento após sua morte.

Fases e temas

Viajante ávido, Pereira se inspirava nos cenários brasileiros para dar vida a seus quadros. O artista percorria cidades das mais diversas regiões do país na direção de um Ford Landau, sempre em busca de inspiração para suas telas.

Seja qual fosse o destino, Durval sempre voltava com centenas de fotos, a ponto de ter percebido a necessidade de aprender a revelar os filmes, tendo montado posteriormente um estúdio de revelação em sua própria casa. Esses registros fotográficos eram utilizados como referências para suas pinturas, com uma total licença criativa na concepção das paisagens, com a inserção e exclusão de elementos, distorção de perspectivas e alterações significativas no próprio objeto a ser pintado.

Durval Pereira

A expedição por seu universo começa nos tons de ocre, do amarelo esmaecido ao laranja intenso, pincelados em quadros de casarios de cidades coloniais mineiras e do Sul e Nordeste do país. A partir da década de 1970, o artista insere nesta temática um novo cenário: a Favela do Buraco Quente, então próxima à sua casa, no bairro do Planalto Paulista. As pinturas desta fase trazem um misto de cores inusitado, retratando a vida simples e a estrutura frágil de um cenário tipicamente brasileiro.

Partindo rumo ao interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais, Pereira se deparava com as mais diversas paisagens e personagens rurais. As telas criadas em meio a essas viagens trazem matizes de verde em cenas de montanhas e casebres avistados por seus percursos. As cenas são povoadas por figuras típicas da zona rural, entre lavradores com feixes de lenha, lavadeiras à beira de rios, tropeiros e boiadeiros. Mais ao noroeste do país, obras inspiradas nas grandes planícies e campos abertos do Mato Grosso.

Durval Pereira

Outro tema frequente na pintura de Durval Pereira foi o litoral brasileiro, eternizado por paisagens nas quais predominavam variações da cor azul – resultado de um intenso trabalho de pesquisa em torno das técnicas de mesclagem de tonalidades. Suas marinhas se tornaram inconfundíveis pela sensação de movimento proporcionada pela intensidade cromática de suas pinceladas.

Os cenários mais comuns eram os de cidades como Santos e Itanhaém, na qual o artista costumava passar finais de semana. Existiam, também, obras pintadas na catarinense Itapema, além de praias fluminenses e nordestinas – em especial, as compostas por jangadas e puxadas de rede. Do exterior, predominavam as vistas de Cascais, em Portugal.

Durval Pereira tinha interesse especial por naufrágios. Logo, não era raro que embarcações ancoradas no porto e na beira da praia fossem recriadas como encalhadas ou navios abandonados. Nesses quadros, as cenas solares davam lugar ao entardecer de dias cinzentos e de mares agitados.

A mostra retrospectiva traz ainda as naturezas-mortas de tons vibrantes criadas pelo artista. Generosas talhadas de abóbora, verduras, frutas, peixes e tachos de cobres, bem como exuberantes arranjos florais eternizados por Pereira entre pinceladas, ora intensas, ora suaves. Geralmente montadas em sua casa, com objetos encontrados ali mesmo, as cenas trazem vasos que se repetem e arranjos de flores reorganizados. “São detalhes que evidenciam a habilidade criativa de Durval Pereira, uma vez que resultam em obras únicas e completamente distintas”, destaca Cerqueira.

Por fim, alguns poucos e raros exemplares da arte abstrata, experiências ímpares de Durval Pereira, produzidos a partir da década de 1970, já no final de sua carreira. As telas explicitam uma intenção tardia pela modernidade, na fuga de seu estilo e à paleta de cores originais. Ainda assim, nota-se forte presença de seus temas típicos, com elementos claros de casarios, marinhas, naturezas-mortas.

Sobre o artista

O artista paulistano Durval Pereira foi um dos mais importantes impressionistas e paisagistas do país. Em 1983, conquistou o primeiro prêmio da III Biennale Mondiale des Métiers D’Art, em Nice, na França e foi presença constante nos melhores Salões de Arte do mundo.

Durval Pereira

Muitas de suas telas integram hoje acervos de instituições da Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, África do Sul e de países da América Latina. No Museu dos Independentes, na França, está ao lado dos mais consagrados nomes da História da Arte como Manet, Gauguin, Toulousse-Lautrec, Matisse, Van Gogh, Cézanne e Degas.

No Brasil, participou de inúmeras exposições e sua obra integra importantes coleções de edifícios públicos brasileiros, como o Palácio da Alvorada e do Itamaraty, além de acervos particulares.

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