Filosofia

Platão: Os trabalhos completos do filósofo, grátis

Por Paulo Varella - fevereiro 17, 2024
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Platão, (nasceu em Atenas em 428/427 e morreu em 348/347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e ocidental. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles.

Platão era um racionalista, realista, idealista e dualista e a ele tem sido associadas muitas das ideias que inspiraram essas filosofias mais tarde.

Origem

A mãe de Platão era Perictíone, cuja família gabava-se de um relacionamento com o famoso legislador e poeta lírico ateniense Sólon. Perictíone era irmã de Cármides e sobrinha de Crítias, ambas figuras proeminentes na época da Tirania dos Trinta, a breve oligarquia que se seguiu sobre o colapso de Atenas no final da Guerra do Peloponeso (404–403 a.C). Além do próprio Platão, Aristão e Perictíone tiveram outros três filhos: Adimanto, Glaucão e uma filha, Potone, a mãe de Espeusipo (então o sobrinho e sucessor de Platão como chefe de sua Academia). De acordo com A República, Adimanto e Glaucão eram mais velhos que Platão. No entanto, na Memorabilia, Xenofonte apresenta Glaucão como sendo mais novo que Platão.

Aristão parece ter morrido na infância de Platão, embora a data exata de sua morte seja desconhecida. Perictíone então casou-se com Perilampes, irmão de sua mãe que tinha servido muitas vezes como embaixador para a corte persa e era um amigo de Péricles, líder da facção democrática em Atenas.

Em contraste com a sua reticência sobre si mesmo, Platão muitas vezes introduziu seus ilustres parentes em seus diálogos, ou a eles referenciou com alguma precisão: Cármides tem um diálogo com o seu nome; Crítias fala tanto em Cármides quanto em Protágoras ; e Adimanto e Glaucão têm trechos importantes em A República.[21] Estas e outras referências sugerem uma quantidade considerável de orgulho da família e nos permitem reconstruir a árvore genealógica de Platão. De acordo com Burnet, “a cena de abertura de Cármides é uma glorificação de toda [família] ligação… os diálogos de Platão não são apenas um memorial para Sócrates, mas também sobre os dias mais felizes de sua própria família.”.

Platão: Infância e juventude

A data tradicional do nascimento de Platão (428/427) é baseada em uma interpretação dúbia de Diógenes Laércio, que afirma: “Quando Sócrates foi embora, Platão se juntou a Crátilo e Hermógenes, que filosofou à maneira de Parmênides. Então, aos vinte e oito anos, segundo Hermodoro, Platão foi para Euclides, em Megara.” Em sua Sétima Carta, Platão observa que a sua idade coincidiu com a tomada do poder pelos Trinta Tiranos, comentando: “Mas um jovem com idade inferior a vinte seria motivo de chacota se tentasse entrar na arena política”. Assim, a data de nascimento de Platão seria 424/423.

De acordo com Diógenes Laércio, o filósofo foi nomeado Arístocles, como seu avô, mas seu treinador de luta, Aristão de Argos, o apelidou de Platon, que significa “grande”, por conta de sua figura robusta.De acordo com as fontes mencionadas por Diógenes (todas datam do período alexandrino), Platão derivou seu nome a partir da “amplitude” (platytês) de sua eloquência, ou então, porque possuía a fronte (platýs) larga. Estudiosos recentes têm argumentado que a lenda sobre seu nome ser Aristocles originou-se no período helenístico.[30]Platão era um nome comum, dos quais 31 casos são conhecidos apenas em Atenas. A juventude de Platão transcorreu em meio a agitações políticas e a desordens devido à Guerra do Peloponeso, à instabilidade política reinante na cidade de Atenas que foi tomada pela Oligarquia dos Quatrocentos e assim submeteu-se ao governo dos Trinta Tiranos.

Apuleio nos informa que Espeusipo elogiou a rapidez mental e a modéstia de Platão como os “primeiros frutos de sua juventude infundidos com muito trabalho e amor ao estudo”. Platão deve ter sido instruído em gramática, música e ginástica pelos professores mais ilustres do seu tempo. Dicearco foi mais longe a ponto de dizer que Platão lutou nos jogos de Jogos Ístmicos. Platão também tinha frequentado cursos de filosofia, antes de conhecer Sócrates, mas primeiro ele se familiarizou com Crátilo (um discípulo de Heráclito, um proeminente filósofo grego pré-socrático) e as doutrinas de Heráclito.

Afastamento da política e primeira viagem

A execução de Sócrates em 399 abalou Platão profundamente, ele avaliou essa ação do Estado como uma depravação moral e evidência de um sistema político defeituoso.
Após o término da guerra em Atenas, em cerca de 404 a.C, auxiliado pelo reinado espartano vitorioso, o terror da Tirania dos Trinta começou, e entre seu membros, incluía-se parentes de Platão: o primo e o irmão de sua mãe, Crítias e Cármides, que participaram do governo. Platão foi convidado a participar da vida política, mas recusou porque considerou o então regime criminoso. Mas, a situação política após a restauração da democracia ateniense em 403 também o desagradou, sendo um ponto de viragem na vida de Platão, a execução de Sócrates em 399 a.C, que o abalou profundamente, levando-o a avaliiar a ação do Estado contra seu professor, como uma expressão de depravação moral e evidência de um defeito fundamental no sistema político. Ele viu em Atenas a possibilidade e a necessidade de uma maior participação filosófica na vida política e tornou-se um crítico agudo. Essas experiências levaram-no a aprovar a demanda por um estado governado por filósofos.

Depois de 399 a.C, Platão foi para Megara com alguns outros socráticos, como hóspedes de Euclides (provavelmente para evitar possíveis perseguições que lhe poderiam sobrevir pelo fato de ter feito parte do círculo socrático). Diógenes Laércio conta que ele “foi a Cirene, juntar-se a Teodoro, o matemático, depois à Itália, com os pitagóricos Filolau e Eurito; e daí para o Egito, avistar-se com os profetas; ele tinha decidido encontrar-se também com os magos, mas a guerras da Ásia o fizeram renunciar a isso”. Apesar desse relato de Diógenes Laércio, é posto em dúvida se Platão foi mesmo ao Egito, pois há evidências de que a estadia foi inventada no Egito, para aproximar Platão à tradição de sabedoria egípcia.

Primeira viagem à Sicília

Por volta de 388 a.C, ele empreendeu sua primeira viagem a Sicília. Em Taranto, Platão conheceu os pitagóricos, e o mais proeminente e politicamente bem sucedido entre eles, o estadista Arquitas, que o hospedou e protegeu. A mais famosa fonte da história do resgate de Platão por Arquitas está na Sétima Carta, onde descreve seu envolvimento nos incidentes de seu amigo Dion de Siracusa e Dionísio I, o tirano de Siracusa, Platão esperava influenciar o tirano sobre o ideal do rei-filósofo (exposto em Górgias, anterior à sua viagem), mas logo entrou em conflito com o tirano e sua corte; mas mesmo assim cultivou grande amizade com Díon, parente do tirano, a quem pensou que este pudesse ser um discípulo capaz de se tornar um rei-filósofo.

Dionísio I se irritou tanto com Platão a ponto de vendê-lo como escravo[nota 3] a um embaixador espartano de Egina, felizmente tendo sido resgatado por Anicérides de Cirene, que estava em Egina, ou ainda, o navio em que retornava foi capturado por espartanos o que o fez ser mantido como um escravo.

Este relatos sobre a primeira estadia em Siracusa são, em grande parte, controversos: os historiadores tradicionais consideram assim os detalhes do encontro entre Platão e o tirano, e a posterior ruptura com ceticismo. Em todo caso, Platão teve contato com Dionísio e o resultado foi desfavorável para o filósofo já que sua sinceridade parece ter irritado o governante.

Raphael (Raffaello Sanzio), School of Athens, c. 1510–12 Stanza. Platão
Raphael (Raffaello Sanzio), School of Athens, c. 1510–12 Stanza

Aqui tem um vídeo muito bom sobre esta pintura: School of Athens

Platão: Fundação da escola e ensino

Depois de sua primeira viagem à Sicília, por volta de 388 a.C, aos 40 anos, decepcionado com o luxo e os costumes da corte de Dionísio I de Siracusa e de lá é expulso, ele compra um ginásio perto de Colona, a nordeste de Atenas, nas vizinhanças de um bosque de oliveiras em homenagem ao herói Acadêmico. Ele amplia a propriedade e constrói alojamentos para os estudantes.

Os membros da Academia não eram estudantes no sentido moderno da palavra, pois aos jovens, juntavam-se também anciãos; provavelmente todos deviam contribuir para o financiamento das despesas; ademais, o objetivo último da Academia era o saber pelo seu valor ético-político.[51]

Durante duas décadas, Platão assumiu suas funções na Academia e escreveu, nesse período, os diálogos chamados “da maturidade”:  Fédon, Fedro, Banquete, Menexêno, Eutidemo, Crátilo; começou também a redação de A República.

Segunda viagem à Sicília

Em 366/367 a.C, com a morte de Dionísio e encorajado por Dion, Platão transmite a direção da Academia a Eudóxio e retorna à Sicília. O velho Dionísio morrera em 367, logo após ter sabido que sua peça O Resgate de Heitor, tinha recebido o primeiro prêmio no Festival das Lenaias em Atenas. Seu filho, Dionísio II sucedeu-lhe o trono e Dion era seu conselheiro. Dion teve trabalho em convencer Platão a voltar para Siracusa, ele insistiu com argumentos como a paixão do jovem tirano pela filosofia e educação e que a morte do velho tirano poderiam ser o “destino divino” necessário para que enfim se realizasse a felicidade de um povo livre sob boas leis. Platão por fim, embarcou em 366, para sua segunda viagem à Sicília.

No início a influência de Platão sobre Dionísio II teve algum progresso, mas pouco durou, pois o jovem era um pouco rude e não possuía o vigor mental para aguentar um prolongado tratamento educacional, além de ser, pessoalmente desagradável. Invejoso da influência de Dion e de sua amizade com Platão, o obrigou a se exiliar; Platão então regressou a Atenas.

Terceira viagem à Sicília

Em 361 a.C, ele viaja novamente para Siracusa com seus alunos Espeusipo e Xenócrates em um navio enviado por Dionísio II, numa tentativa final de pôr ordem as coisas. Passou quase um ano tentando elaborar algumas medidas práticas para unir os gregos da Sicília em face do perigo cartaginês. No final, a má vontade da facção conservadora provou ser um obstáculo insuperável. Platão conseguiu partir para Atenas em 360 a.C, não sem antes correr algum perigo de morte. Em seguida, Dion recuperou sua posição à força, mas apesar de advertências de Platão, mostrou-se um governante imprudente e acabou assassinado. Ainda assim, Platão incitou os seguidores de Dion a prosseguirem com a antiga política, mas os seus conselhos não foram ouvidos. O destino final da Sicília foi ser conquistada pelos estrangeiros, como Platão previra.

Platão escreveu sobre a morte de seu amigo comparando-o a um navegante que antecipa corretamente uma tempestade mas subestima sua força de destruição: “que eram perversos os homens que o puseram por terra, ele sabia, mas não a extensão de sua ignorância, de sua depravação e avidez”.

Platão: Velhice e morte

Ao regressar em 360 a.C, ele voltou a ensinar e escrever na Academia permanecendo como um autor ativo até a sua morte, em 348/347 a.C., aos oitenta anos; conta-se que fora sepultado no terreno da Academia, para dentro do muro de demarcação da propriedade, ou ainda no jardim da Academia. Com sua morte, a Academia passou a ser dirigida por Espeusipo, forte simpatizante do aspecto matemático da filosofia de Platão.

Se você tem o domínio da língua inglesa e quer conhecer toda a obra de Platão, aqui vai um PDF com todos os trabalhos:

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Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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