Opinião

A vitalidade da arte

Por José Henrique Fabre Rolim - outubro 11, 2017
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A arte resiste nesses tempos em que a censura vem sendo imposta por certos grupos numa tentativa de tolher a liberdade de expressão, abafar o grito dos visionários, dos criativos, eliminar a reflexão, difundir inverdades, demonizar as manifestações artísticas, uma regressão inimaginável em pleno século XXI.

Várias instituições culturais estão se unindo para criar uma frente ao lado da comunidade artística contra a censura, resgatando a liberdade de criar. O Museu de Arte de São Paulo – MASP, ao completar 70 anos demonstra ser uma instituição ágil que sempre buscou novos desafios desde o seu início em 2 de outubro de 1947, na antiga sede da rua 7 de abril, no comando de Pietro Maria Bardi, passando em 1968 para a atual edificação projetada por Lina Bo Bardi, na Avenida Paulista. Atualmente a mostra Guerrilla Girls reunindo 100 cartazes, proporciona ao visitante apreciar a arte gráfica na sua expressão mais contundente e compreender o percurso desse grupo de mulheres com roupas pretas e máscaras de gorila que nos anos 80 começaram a colar cartazes por Nova York criticando museus e galerias que expunham poucas obras de mulheres. Esses cartazes também criticavam a área da música e do cinema pela fraca presença do elemento feminino. Um movimento de contestação que coloca a questão da mulher em evidencia, no caso do Metropolitan Museum o grupo destaca que só 5% dos artistas expostos eram mulheres, mas 85% dos nus eram femininos. No caso do MASP só 6% dos artistas expostos são mulheres e 68% dos nus são femininos.

O MASP porém está se concentrando nas histórias da sexualidade propondo um diálogo com outras exposições como no caso da envolvente mostra Pedro Correia de Araújo: erótica que focaliza a sensualidade feminina na pintura captando a complexidade do comportamento humano numa representação de grande força, expressão primorosa em que o domínio da luz revela sutis texturas.

Deve-se notar que o Grupo Guerrilla Girls está presente também na II Trienal de Artes – Frestas – Entre Pós-Verdades e Acontecimentos que acontece no Sesc Sorocaba com a instalação Departamento de Reclamação além de ter realizado uma performance sobre a situação da mulher no campo da arte com um público bem atento e interessado. A II Trienal reúne 42 artistas nacionais e 18 artistas do exterior (Argentina, Áustria, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão, México e Peru) compondo um panorama bem diversificado da arte atual com 160 obras num espaço de 2.300m2. Dentre os artistas participantes destacam-se Daniel Senise, Wanda Pimentel, o duo brasileiro suíço Dias&Riedweg, Gervane de Paula, o grafiteiro Nunca, Thiago Honório, Raul Mourão, o fotógrafo Michael Wesely e Francesca Woodman (1958-1981) importante fotógrafa americana que produziu mais de 800 fotos ao longo de sua curta carreira, nas quais aparece fantasiada ou nua, um personagem misterioso que revelava somente sua alma.

Na Galeria Nara Roesler a mostra Ver e Mover de Abraham Palatnik comprova a vitalidade de um artista que prestes a completar 90 anos, continua a trabalhar diariamente buscando o rigor de pequenos movimentos ao manipular as paletas de madeira ou de acrílico a serem fixadas em um plano para assim finalizar uma obra que enaltece as ondas sonoras da imaginação. As obras expostas impressionam pelo rigor dos detalhes, uma linha construtiva que enaltece o prazer estético, uma poética vinculada ao arrojo da percepção ótica.

Waltércio Caldas, por sua vez apresenta uma excepcional mostra na Galeria Raquel Arnaud reunindo 35 trabalhos produzidos de 2012 em diante, são desenhos que ganham uma outra dimensão, por serem objetos tridimensionais em papel, que não é um simples suporte e sim o verdadeiro espaço de tensão da obra. Waltércio afirma: “O desenho vem do desígnio e é assim que gostaria que as obras fossem, não uma representação, mas como algo que possa vir a aparecer”.

Foi lançado por ocasião da abertura da exposição o livro “Os Desenhos” que traz uma seleção de 160 trabalhos produzidos desde a década de 60 até os dias atuais. Editado pela Editora BEI com coordenação de Charles Cosac, um projeto gráfico impecável que representa um precioso registro das incursões sutis pelo desenho de um arrojado inovador.

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Jornalista, curador, pesquisador, artista plástico e crítico de arte, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisantos (Universidade Católica de Santos), atuou por 15 anos no jornal A Tribuna de Santos na área das visuais, atualmente é presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), colunista do DCI com matérias publicadas em diversos catálogos de arte e publicações como Módulo, Arte Vetrina (Turim-Itália), Arte em São Paulo, Cadernos de Crítica, Nuevas de España, Revista da APCA e Dasartes.

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