Opinião

Incursão pelo abstracionismo no museu de arte moderna

Por José Henrique Fabre Rolim - janeiro 26, 2018
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A arte se expande no fluxo das inovações e das reflexões que introduzem amplas incursões pelo dinamismo cultural de uma época. Desde os tempos mais remotos os pintores e escultores conheciam e utilizavam o poder das linhas, dos volumes, das cores que formam conjuntos esteticamente ordenados, capazes de agir sobre a sensibilidade e a reflexão, mas não percebiam a possibilidade de desvincular este poder do mundo visível. Antes da eclosão da I Guerra Mundial, precisamente em 1910, certos artistas renunciaram a representação, Wassily Kandinsky foi o primeiro a definir uma corrente lírica e romântica da abstração, projeção de uma visão imaginária, por outro lado surgia uma proposta diversa com o construtivismo geométrico na qual Kazimir Malevitch, Vladimir Tatlin (iniciador do Construtivismo) e Piet Mondrian identificaram um ponto de encontro entre um sentido universal com uma vontade racional, estruturada numa concepção arrojada.

Desses dois polos se ramificaram notadamente a partir de 1945 variantes bem marcantes: arte concreta (geométrica), expressionismo abstrato (fundado sobre o gesto ou sobre a explosão cromática), arte informal, tachismo, não figuração, arte cinética e minimal art entre tantas correntes que revolucionaram a arte do século XX.

Nos anos 1850, Eugène Delacroix escrevia que se a cor tivesse sido bem empregada num quadro poderia se sentir a expressão desta tela unicamente pelo seu efeito cromático, olhando de longe, sem identificar o sujeito ou o objeto. Seria inevitável que um dia os artistas perguntariam se haveria a necessidade de ter algo identificável: foi assim que inúmeros dentre eles se destacaram no século XX se expressando unicamente por áreas coloridas e linhas não representativas.

A mostra “Oito Décadas da Abstração Informal nas Coleções do Museu de Arte Moderna e da Casa Roberto Marinho” possibilita ao espectador aquilatar a força da pintura com obras bem representativas de várias épocas tendo como elemento comum o gesto e a matéria.

Ao contrário dos concretistas que se organizaram em grupo criando um movimento bem marcante nos anos 50, os pintores informais se posicionavam como uma tendência de extrema importância para a consolidação da arte contemporânea no Brasil, abrangendo diversas técnicas e poéticas. A abstração informal se expandiu no bidimensional avançando na gravura e no vídeo.

As obras expostas impressionam pelo alto nível abrindo amplas perspectivas reflexivas sobre as memoráveis incursões artísticas de 38 artistas de várias gerações que estimulam a sensibilidade propondo confrontos e parâmetros das sutilezas cromáticas em gestos rítmicos e enaltecedores dos fluxos pictóricos. Os destaques são inúmeros mas algumas obras são impactantes como os trabalhos de Maria Helena Vieira da Silva, Antonio Bandeira, Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Leda Catunda, Nuno Ramos entre alguns consagrados.

Paralelamente, acontece na Sala Paulo Figueiredo a exposição Sinais/Signais de Mira Schendel em comemoração ao seu centenário de nascimento, reunindo mais de 90 obras, a maior parte pertencente ao acervo do MAM. Sua obra é extremamente vinculada a semiologia e a poesia concreta, enraizada na filosofia e na expressão gráfica. Uma panorâmica de seu envolvimento com a essência dos signos, várias séries são mostradas como monotipias, objetos gráficos e “toquinhos”. Uma excelente oportunidade para avaliar a sua trajetória, desvinculada de movimentos, mas totalmente coesa nas suas aspirações poéticas.

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