Arte Moderna

Quem foi Norman Fucking Rockwell?


Norman Rockwell , sem o fucking, foi um pintor e ilustrador americano que viveu entre 1894 e 1978.

Rockwell foi muito popular nos Estados Unidos, especialmente em razão das 323 capas da revista The Saturday Evening Post que realizou durante mais de quatro décadas, e das ilustrações de cenas da vida estadunidense nas pequenas cidades.

Ele também pintou os retratos dos presidentes, Eisenhower, John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon, assim como o de outras importantes figuras mundiais, tais como Gamal Abdel Nasser e Jawaharlal Nehru. Um de seus últimos trabalhos foi o retrato da cantora Judy Garland, em 1969.


O processo de criação de Norman Rockwell


Por que o nome Norman “Fucking” Rockwell dado por Lana Del Rey ?

A faixa título do album “Norman Fucking Rockwell’ fala sobre um homem que é um artista genial, que se acha “o cara” e não para de falar sobre isso.

“Com frequência acabei lidando com esse tipo (de artistas) criativos – ou não – e eles só falam sobre si”, contou Lana em entrevista à rádio Beats 1. “Eu gostei tanto do título da música que pensei “ok, quero que o álbum se chame assim”, afirmou a cantora.


Ao longo da vida, Norman sofreu com a depressão e teve seu trabalho rejeitado e criticado por diversas vezes. Do escritor russo Vladmir Nabokov chegou a ouvir que era “o irmão gêmeo de Salvador Dalí”, mas não de uma forma positiva.

Muitos achavam sua obra extremamente burguesa e cujo retrato destoava da realidade americana por ser idealista demais.


Norman Rockwell e o racismo americano

The Problem We All Live With (1963) | Museu Norman Rockwell

Em junho de 2011, na Casa Branca, a obra acima (será melhor explicada abaixo) – que representa uma famosa cena de desagregação escolar em Nova Orleans -, chamou a atenção pública após receber o apoio do Presidente Obama.

O presidente Barack Obama, Ruby Bridges e representantes do Norman Rockwell Museum olhando “The Problem We All Live With” de Rockwell, pendurado em um corredor da ala oeste perto do Salão Oval, em 15 de julho de 2011. Ruby Bridges é a garota na pintura. (Foto oficial da Casa Branca por Pete Souza).

A exposição da peça de Rockwell na Casa Branca, que ocorreu na maior parte de 2011, chamou a atenção nacional para um momento icônico na conturbada história dos direitos civis dos Estados Unidos.

A pintura de Rockwell concentra-se em um episódio histórico de integração escolar de 1960, quando Ruby Bridges, de seis anos, teve que ser escoltada por oficiais federais para garantir sua inscrição na Escola William Frantz, em Nova Orleans.



Ruby foi a primeira criança afro-americana a se matricular na escola. A comunidade branca local – como visto na imagem a cima – era ferozmente a favor da separação entre brancos e negros na escola.

A exibição de Rockwell se concentra na menina em seu vestido branco imaculado, carregando sua régua e caderno, enquanto os quatro oficiais americanos à escoltam. A pintura também capta parte do desprezo daqueles tempos com a pichação racial rabiscada na parede e o respingo vermelho de um tomate jogado recentemente.

A obra apareceu pela primeira vez em um ampla publicidade em janeiro de 1964, quando foi publicado como uma ilustração de página dupla da revista Look. A pintura foi exibida como uma ilustração sem título no meio da reportagem da Look sobre como os americanos vivem, descrevendo suas casas e comunidades.



Defesa dos direitos civis

Rockwell parece ter sido instigado pela primeira vez em relação aos direitos civis em junho de 1943, quando Roderick Stephens, ativista afro-americano e chefe da Conferência Interracial do Bronx, escreveu pedindo que o artista fizesse uma série de pinturas para promover as relações inter-raciais.

Stephens havia ficado comovido pelas “Quatro Liberdades” (imagens abaixo) de Rockwell e estava preocupado na época com os tumultos raciais urbanos em grandes cidades como a sua própria Nova York, estimulados pela migração de negros do sul. Os tumultos raciais já haviam ocorrido em Houston, Los Angeles e Detroit.

Freedom of Speech é a primeira das Quatro Liberdades, série de pinturas produzida pelo artista americano Norman Rockwell. As obras foram inspiradas no discurso do Estado da União de 1941 do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, conhecido como Four Freedoms.

Esta retrata a liberdade de expressão em todos os lugares do mundo.


Freedom of Worship é a segunda das quatro liberdades. A pintura, com o resto da série, tornou-se um sucesso popular e foi distribuída em forma de cartazes como parte de um esforço de guerra dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

A obra apresenta várias pessoas orando em primeiro plano, representando judeus, protestantes, católicos e crentes de outras religiões em pé de igualdade, simbolizando a tolerância religiosa.


Freedom from Want, também conhecido como The Thanksgiving Picture ou I’m Home Home for Christmas, é a terceira da série.

Aqui temos a representação da liberdade de querer, que significa entendimentos econômicos que irão garantir a cada nação uma vida saudável.


“Freedom of fear” é a última das quatro liberdades. A obra retrata crianças americanas sendo postas para dormir enquanto o Blitz está acontecendo do outro lado do Atlântico, na Grã-Bretanha.

Por fim, a última obra da série retrata uma vivência sem medo, que significa uma redução dos armamentos.


Embora Stephens tenha expressado sua admiração por Rockwell por suas “Quatro Liberdades”, ele observou que duas das liberdades – “Freedom From Want” e “Freedom From Fear” – eram, para a maioria dos negros da época, liberdades negadas.

Stephens propôs que Rockwell fizesse uma série de pinturas a serem impressas e circuladas como pôsteres, exatamente como as “Quatro Liberdades”, para promover a tolerância racial, apresentando assuntos que ilustrariam as contribuições dos negros para a sociedade americana.

Ele acreditava que Rockwell era um artista que poderia fazer a diferença na época e poderia ajudar usando arte para apontar o que era então, na prática americana, uma concepção restrita de liberdade.

Acredita-se que Rockwell tenha respondido a Stephens, mas nunca embarcou na proposta, rejeitando a ideia da série, explicando as dificuldades que ele havia encontrado ao criar as “Quatro Liberdades”.

Mas pode ter havido mais do que isso, já que Rockwell estava trabalhando sob restrições impostas pelo The Saturday Evening Post (citado anteriormente).

O fato de Rockwell se aventurar em material polêmico, como raça e direitos civis, não veio até mais tarde em sua carreira, depois que ele deixou o Post.

Como outros artistas das décadas de 1940 e 1950 que fizeram ilustrações comerciais de arte, Rockwell estava vinculado a certas convenções e restrições de publicação, escritas ou não, que determinavam o que poderia aparecer e o que não apareceria nas capas de revistas.

O Saturday Evening Post, por exemplo, permitiria apenas que as minorias fossem exibidas em funções servis.


A ilustração da capa de Rockwell acima, do dia 7 de dezembro de 1946, ilustra a regra, na prática. A cena mostra um garoto estudando o cardápio com a carteira na mão, tentando determinar o pagamento e a gorjeta adequados para o garçom negro.

Além da capa de 1946 acima, Rockwell também fez outras de meados da década de 1920 a meados da década de 1940 que descreviam afro-americanos em vários papéis, geralmente de formais “servis”, e, às vezes, não encarando o espectador.


Por que Norman Rockwell é importante?

A revista Time já batizou Rockwell como “provavelmente o artista americano mais amado vivo”, enquanto o New York Times comparou afetuosamente suas pinturas aos romances de Mark Twain.

Por outro lado, um crescente grupo de críticos do mundo das belas artes, liderado por Clement Greenberg, ridicularizou seu trabalho como muito sentimental e comercial.

Clement Greenberg (1909 – 1994) foi um influente crítico de arte dos Estados Unidos.
Estudou na Universidade de Siracusa e em 1939 publicou seu primeiro ensaio, Avant-Garde and Kitsch, que atraiu muita atenção ao declarar que o Modernismo era uma forma de combater o rebaixamento cultural causado pela propaganda capitalista. O ensaio também foi uma resposta à destruição da chamada arte degenerada pelos nazistas.

“Você tem que colocar Rockwell abaixo do ranking de artistas menores”, insistiu Greenberg.

Mas Rockwell tinha um lado sério e muitas vezes surpreendia sua enorme base de fãs ao fazer trabalhos profundos.

“Na maioria das vezes, tento me divertir com minhas capas”, explicou. “Mas, de vez em quando, sinto uma vontade incontrolável de dizer algo sério”, como divisões de classe, valores democráticos e aceitação de todas as raças e religiões.

“Seu trabalho ajudou a definir e transmitir uma mensagem que pode não ser amplamente palatável, ou que pode ter algo controverso, de uma maneira que leva as pessoas a olharem e pensarem”

Barbara Tannenbaum, curadora de fotografia do Museu de Cleveland que ajudou a trazer uma pesquisa sobre o trabalho de Rockwell no Akron Museum of Art em 2007

O reconhecimento tardio

O mercado está levando Norman Rockwell a sério: um grupo de suas pinturas e ilustrações encabeçou uma recente venda de arte americana da Sotheby, vendendo coletivamente acima da estimativa, com uma tela de mais de US $8 milhões. O recorde do leilão de uma única pintura de Rockwell é de US $46 milhões, alcançado em 2013 para talvez seu trabalho mais famoso, Saying Grace, 1951 (veja a imagem abaixo).

Todos esses eventos apontam para um interesse cada vez maior do mundo da arte nos talentos de Rockwell: sua habilidade como pintor figurativo e narrativo, além de sua capacidade de traduzir a observação social aguçada em obras com amplo apelo.



Outras obras que você precisa conhecer

Saying Grace (1951) | Coleção privada

Esta pintura foi criada para a capa da edição de Ação de Graças (thanksgiving) de 1951 do Saturday Evening Post. Ela retrata uma mulher e um menino rezando em um restaurante.

Rockwell foi inspirado a criar esta obra de arte por um leitor da revista que viu uma família menonita orando em um restaurante. Em 1955, os leitores do The Saturday Evening Post votaram Saying Grace como a capa favorita de todos os tempos.


Golden Rule (1961) | Museu Norman Rockwell

Na obra vemos um grupo de pessoas de diferentes religiões, raças e etnias servindo de pano de fundo para a frase “Faça para os outros como você gostaria que fizessem para você”.

A frase é conhecida como A Regra de Ouro (Golden Rule) Rockwell era um homem compassivo e liberal, e essa frase simples refletia sua filosofia. Tendo viajado a vida toda e sido bem-vindo aonde quer que fosse, Rockwell se sentia um cidadão do mundo, e sua política refletia esse sistema de valores.


Rosie the Riveter (1943)

Rockwell pintou sua “Rosie” como uma mulher maior do que a modelo real, Mary Doyle Keefe (19 anos), e depois telefonou para pedir desculpas. A imagem se mostrou imensamente popular e a revista a emprestou ao Departamento do Tesouro dos EUA pelo período da guerra, para uso em campanhas de títulos de guerra.


Triple Self Portrait (1960) | Museu Norman Rockwell

Esse é outra obra atemporal dos colecionadores de Rockwell. Ela foi a primeira das seis capas do artista para o The Post em 1960.


Girl at Mirror (1954) | Museu Norman Rockwell

A obra segue uma longa tradição na qual artistas famosos, incluindo Edouard Manet e Pablo Picasso, retratam uma mulher contemplando seu reflexo.

A foto no colo da garota é de Jane Russell, um dos principais símbolos sexuais de Hollywood nas décadas de 1940 e 1950. A garota da foto é Mary Whalen Leonard, a modelo feminina favorita de Rockwell. Pensa-se que a pintura represente sua ansiedade por estar à beira da feminilidade e seu medo de que ela ainda não esteja pronta.

Essa é uma das obras mais analisadas e controversas de Norman Rockwell.



Fontes

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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