Geraldo de Barros iniciou sua carreira dedicando-se à pintura de figura e paisagens, mas tornou-se conhecido ao estabelecer vínculos com a arte experimental. Foi um dos pioneiros da fotografia abstrata e do modernismo no Brasil, além de ser considerado um dos mais importantes artistas do movimento concretista brasileiro.
As imagens de Geraldo de Barros se formam a partir da desconstrução, onde o efêmero, o fragmento, o tempo, o descontínuo, e a ação estão presentes. A partir da reordenação de elementos, o artista cria uma nova composição. Em seus trabalhos, estão sempre presentes as questões sociais e urbanas, além da inquietude diante da relação entre a arte e a sociedade.
Foi fundador e membro de grandes e importantes movimentos e associações artísticas como o Grupo 15, a Galeria Rex, o Grupo Ruptura, o Grupo FormInform, a cooperativa de produção de móveis Unilabor, e a indústria de móveis Hobjeto.
Coerentes em sua trajetória, seus trabalhos estão conectados ao contexto histórico, político e artístico do período em que foram desenvolvidos. Foi da geometria à arte pop, voltando à geometria, mas sempre ligado ao desenho industrial e a fotografia. Ao entrar em contato com a fotografia se apaixona, seu olhar se aguça, passa a criar interferências, recriar a imagem.
Ao sofrer influências do movimento construtivista e da arte concreta, muda sua visão de representação da realidade e lhe aplica novas regras. Suas fotoformas representam uma nova era no processo de fotografia no Brasil, dá a ela novas possibilidades, onde esta deixa o campo da mera representação e passa a ser considerada uma nova linguagem artística.
Barros explora ao máximo todas as possibilidades de manipulação do negativo. A fotografia lhe permitia a possibilidade do erro, e para ele, era importante errar.
Fotoformas é um conjunto diversificado de procedimentos, apresentando imagens que podem ser vinculadas tanto ao Construtivismo e Cubismo, bem como a poéticas ligadas à revitalização do Expressionismo; além disso, também apresenta idéias de vanguarda da fotografia moderna como a Nova Visão, entre outros movimentos. (4)
Geraldo de Barros interessou-se amplamente pela estereoscopia e pelos anaglifos. A estereoscopia é o fenômeno natural que ocorre quando observamos uma cena qualquer da paisagem, onde o cérebro produz um efeito tridimensional. Em fotografia é a simulação da tridimensionalidade (3D) a partir de duas imagens da mesma cena feita com um leve deslocamento horizontal da câmera. Já através dos anaglifos, que são sobreposição de imagens, ele nos legou um universo imenso de aproximações do espaço, e uma nova abordagem do real.
Todavia, através da fotografia, ele não apreende o real; ele não restitui o objeto-realidade nem o objeto-essência, ele está diante de um objeto-problema, de um objeto-pretexto e assim nos lega suas reflexões que são o fundamento da estética fotográfica contemporânea.
O livro em questão, que apresenta a produção de Geraldo de Barros do final da década de 1940 e apresentada em 1951, é um verdadeiro convite à reflexão sobre a luz e sombra, sobre o espaço (plano e bidimensional), conceitual e geometral, bem como sobre o espaço profundo (representado pela profundidade de campo na foto) uma metáfora para o mundo real, sensível e possível de ser inteligível.
A partir de seus estudos do espaço renascentista, ele usou da geometrização não apenas para descrever, mas, sobretudo para revelar o espaço. (4)
Ao proceder desta forma provoca no espectador uma experiência estética de vertigem e uma experiência com espelhos, especular. Experiência de vertigem, pois induz a um estado mórbido na qual o indivíduo tem a impressão de que tudo gira em torno de si, todas as realidades se confundem naquela obra que está a sua frente, ou de que ele mesmo está girando ao redor daquela imagem fundadora da experiência estética. Enquanto experiência especular, devolve ao indivíduo a imagem do mundo metamorfoseada, pois transparente, diáfana, multidimensional e sintética, colocando-nos em uníssono com a realidade espacial.
Suas obras nos conduzem a uma nova estética, a estética evanescente, no sentido dado por Greimas em oposição a uma estética clássica pautada apenas na fruição e pelo momento de fusão do sujeito com o objeto de arte.
Geraldo abandonou a fotografia por alguns anos e dedicou-se a outras artes e ao design. Em 1996, após ter sofrido diversas isquemias cerebrais e com suas funções motoras totalmente debilitadas, retoma seu processo fotográfico com a ajuda de sua assistente, a fotógrafa Ana Moraes, realiza sua última produção: Sobras.
Trata-se criação de colagens de negativos em placas de vidro, reutilizando seus antigos negativos das imagens dos anos 50 ou da família. Este trabalho foi exibido no início de 1998 no Ludwig Museum, em Köln / Alemanha, alguns meses depois da morte de Barros em São Paulo, aos 75 anos de idade.
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