O Arte|Ref apresenta Laerte Ramos, nosso artista dessa semana. Abaixo ele conta de suas influências, sua relação com a arte e o mercado de arte, e de que maneira sua produção tem caminhado e se relacionado com tudo isso. Atualmente Laerte expõe na Galeria Emma Thomas a individual Lastlândia, em cartaz até o dia 13 de abril.
Fale um pouco sobre o seu trabalho (técnicas usadas, material):
Bom, minha pesquisa é ampla enquanto técnicas usadas. No começo de minha produção, usei muito a xilogravura, técnica que me ensinou a desenhar. Depois veio a serigrafia, o vídeo, a pintura, um pouco de performance, até eu encontrar um grande interesse pela cerâmica. Hoje em dia 80% da minha produção é ceramica, embora ainda trabalhe com xilogravura de uma maneira mais lenta e silenciosa. Meu projetos tem ganhado um volume grande, e tem se tornado em sua maioria grandes instalações de cerâmica, levando cerca de um ano, cada um, para ficarem prontos.
Quais as maiores influências para a criação de suas obras? (movimentos, artistas, música, viagens, assuntos, temas, poética)
No comeco da produção sofremos mais influências de outros artistas que admiramos, professores e estudos, mas a partir de um certo momento em nossa pesquisa, os trabalhos, ideias e projetos, acabam partindo deles mesmos. Na minha produção, a arte é uma pesquisa, um estudo, no qual vou percebendo as direções que os trabalhos vão tomando. Ver filmes, exposições, converser com amigos, viajar, andar na rua e ficar atento ao mundo e as notícias, são influências básicas que o trabalho sofre ao se enquadrar dentro da arte contemporânea. Ando muito de bicicleta no trajeto casa-atelier, e pela velocidade e mobilidade deste meio de transporte, percebo a superficie da cidade de uma maneira mais lenta: as pessoas, o lixo, as fachadas, a rua, os carros e tudo o que encontramos nas calçadas e no asfalto, me influenciam.
Quando e como começou o seu interesse pela arte?
Meu pai foi artista plástico em um momento da vida dele, participando da Bienal de São Paulo, e de mostras importantes pelo Brasil na época (anos 70). Teve alguns desentendimentos com críticos e abandonou a área por não concordar com o funcionamento do mecanismo da arte e do mercado, optando por continuar a ser o grande engenheiro que sempre foi, de maneira íntegra. Esta foi a minha maior inlfuência em casa, e a postura de ser correto como artista me moldou o que sou hoje e o que acredito em termos de parceria com instituições e galerias. Estudei também em uma escola de pedagogia alemã (Escola Waldorf Rudolf Steiner), que incentiva muito a arte como um todo na vida do individuo, e eu fui contaminado desde criança: adorava desenhar e ouvir estórias que minha professora contava. Continuo fazendo a mesma coisa, so as estórias que mudaram um pouco, as vezes conto uma, as vezes desenho outra, e vou continuando a desenhar o que a minha produção vai me pedindo.
Quais artistas na sua opinião estão se destacando no cenário nacional e/ou internacional atualmente?
Acredito que a arte contemporânea brasileira esta se destacando como um todo. Não consigo citar um nome específico. Vemos o reflexo disto na quantidade de galerias de arte que abrem todos os anos aqui no Brasil. O mercado brasileiro é um termômetro para percebermos isto. A SP-Arte, maior feira de arte aqui no Brasil a cada ano ganha mais espaço, visibilidade e interesse de galerias internacionais. Claro que o momento favorece muito a injeção de investimentos em nosso país, com a Copa do Mundo, Olimpiadas, mesmo a maior parte das verbas indo para o esporte. As leis de incentivo, os editais públicos, os salões de arte estão valorizando cada vez mais o trabalho do artista, que com estas nova possibilidade melhora cada vez mais seus projetos refletindo posteriormente numa melhora de seu desempenho como artista e como pesquisador de arte.
Como você definiria a arte contemporânea?
Acredito que hoje a arte contemporânea se comunica de uma maneira mais proxima ou mais quente com o espectador/público. Os projetos e obras de arte precisam se comunicar, estabelecer esta relação entre obra e espectador, senão a arte não serve ao mundo. Como disse anteriormente, vemos um número crescente de editais e leis de incentivo que beneficiam a arte contemporanea brasileira, e na maioria delas, existe algo chamado contrapartida cultural, que é onde o artista define como ele encosta de uma maneira mais direta com o público além do trabalho, propondo oficinas, workshops, conversas, enfim, estas “condições dos editais” que ensinam e educam os artistas brasileiros a se comunicarem como pessoas, com o público, e não apenas com suas obras, trabalhos e pesquisas. Esta mudança esta sendo ótima para o estreitamento entre o público, o artista, seu trabalho e a arte em geral.
Para saber mais, entre no meu site: www.laerteramos.com.br
cerâmica – ceramic
instalação – installation
2012
cerâmica – ceramic
2012
anti derrapante – non skid
cerâmica – cerâmic
2010/2011
Patrulha de Resgate – Rescue Patrol
Cerâmica – Ceramic
2008
El Pulpo de Osborne – The Osborne’s Octopuss
Cerâmica – Ceramic
2008
Exquadrilha – Exquad
Cerâmica – Ceramic
2008
Leia ainda um texto completo sobre arte e vida de Laerte Ramos:
Laerte é natural de São Paulo/SP e teve seus primeiros ensinamentos artísticos sobre esculturas em argila, madeira, pedra e metal durante os anos escolares, em sua infância e adolescência, na Escola Waldorf Rudolf Steiner entre os anos de 1985 à 1996. Na época alguns de seus grandes mestres eram refugiados de guerra vindos da Suíça e Alemanha. Contando com a influência de uma educação germânica “pós guerra” e “alternativa”, o assunto bélico esteve sempre presente em todo o aprendizado lúdico-infantil de Laerte, o que o influencia até hoje em toda a sua produção. Ao ingressar na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado no curso de Artes Plásticas em 1997 (1997/2001 bacharel – 2002 licenciatura), interessou-se de imediato pelos meios reprodutivos de imagem como a xilogravura e a serigrafia. No início de sua trajetória, Laerte deu ênfase na produção de suas xilogravuras que contavam com um arsenal de maquinários sobre-rodas estampados de negro em folhas brancas contrastantes. Estas imagens iam se multiplicando através do artista-operário até conquistarem outras folhas, paredes, campos, paisagens e espaços expositivos. Desde cedo, a preocupação em espalhar as edições das gravuras em exposições pelo país de uma maneira democrática, foi uma regra constante na intensa produção das gravuras. Nesta época, sem os avanços tecnológicos de comunicação via internet, Laerte pesquisava nas bibliotecas os endereços e editais de museus e centros de artes para poder divulgar seus trabalhos, e ao mesmo tempo compartilhar estampas e aprender com outros artistas de regiões distintas sobre as poéticas artísticas que nosso país nos proporciona. Com a produção de xilogravura, ganhou o “Prêmio Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca” na XII Mostra Brasil de Gravura no Museu de Gravura de Curitiba/PR, e nos anos seguintes, o extinto Prêmio Philips de Arte para Jovens Talentos, por duas vezes, e o prêmio na mostra trienal de gravura Lelocleprints04, no Musée des Beaux-Arts du Le Locle, Suíça. Com a oportunidade de participar de residências artísticas, Laerte ingressou na lista de artistas residentes da FAAP e morou por seis meses na Cité des Arts em Paris, e em seguida fez outra residência na iaab/Beyeler Foundation em Basel/Suíça. A convite, participou do Brazilie Landenproject que consistiu em uma residência em um dos mais renomados Centros de Cerâmica – EKWC/European Keramic Work Centre em s’Hertogenbosch na Holanda. Nesta última residência, Laerte teve a oportunidade de expandir e aprimorar seus projetos tridimensionais, que tinham como raiz-mãe a xilogravura, e através do paralelo entre a reprodutibilidade e “tridimensionalidade chapada” que haviam em suas gravuras, as quais eram representadas bidimensionalmente em papel estampado, ocorreu o encontro com a cerâmica, graças à maneira de reprodução via molde que esta técnica permite. Dentro de suas pesquisas sobre reprodutibilidade, a estamparia naturalmente se tornou constante, assim a roupa e a performance tornaram-se também metier dos trabalhos de Laerte devido a sua experiência pessoal com suas duas marcas de roupa “Miya” e “ramOrama”, das quais era sócio e onde participava ativamente das produções. Mais uma vez, cortar o tecido, enfestar, modelar em papel, imprimir em silkscreen, desenvolver desenhos técnicos e produzir em série eram ações constantes nas produções das marcas, experiência vivenciada com semelhança entre os fazeres de moda e os fazeres da arte, no caso: cortar madeira, usar a matriz de xilogravura, o papel e a impressão. Entendendo o ganho de misturar/adicionar moda e arte, Laerte começou a se interessar pelo cruzamento e adição de moda/design/arquitetura/esporte, entre outros, em seus trabalhos e projetos. Pensando o lugar/arquitetura, o projeto “Jambolhão” (premiado pelo 11° CIF – Cultura Inglesa Festival), ganha o espaço tridimensional “agigantado”, trazendo a oportunidade para os espectadores de poderem usar a escultura vermelha em fiberglass para subir, sentar, brincar…, trazendo o corpo do espectador para a obra. Dando continuidade aos projetos interativos, a instalação “Batalha Naval” conta com dois extensos campos de batalha com duas cabines entre um espaço e outro, onde haviam telefones vermelhos para os espectadores se comunicarem e jogarem a Batalha Naval, que acontecia conforme as jogadas dos adversários. Continuando as inter-relações, outro resultado interessante é seu projeto “re.van.che”, no qual o artista convidou uma lutadora de Tae Kwon Do (Marryanne Hörman, atleta da seleção brasileira de TKD) para quebrar uma de suas esculturas hiper-realistas de cerâmica em uma ação/fração com um chute, na abertura de sua individual no Paço das Artes em São Paulo. As “esculturas enganosas” são cópias perfeitas de luvas de boxe, banco de corner, entre outros acessórios de lutadores elaborados por ora em cerâmica, e são denunciados pelo ato/quebra que a lutadora proporciona via ação ao público. Recentemente, o artista foi contemplado com o Prêmio Interações Estéticas/Funarte em Marabá/PA onde realizou o projeto “retra%15”, que traz a reprodução do corpo humano, moldado em gesso, na escala 1:1. Destes moldes, são confeccionadas esculturas em cerâmica esmaltada branca que são divididas em 16 partes e unidas com rejunte de azulejo nas juntas dos corpos humanos reproduzidos. No ano de 2011, teve ainda outros três projetos aprovados: “Arma Branca”, pelo Prêmio Pró-Cultura Marcantônio Vilaça – MINC, “Lastlândia-Kaagua’zu”, pela Rede Nacional de Arte – Funarte, e por fim o projeto “Casamata” contemplado pelo edital Atos Visuais da Funarte de Brasília. Ainda este ano, residências focadas em um aprendizado específico sobre a cerâmica estão sendo o foco de Laerte, que voltou recentemente de Portugal a convite da renomada fábrica de cerâmica Bordallo Pinheiro, e já parte para a China para aprimorar suas técnicas na cidade de Jingdezhen, onde participará do programa de residência PWS. Ao mesmo tempo, projetos como “Spy Vs Spy”, “Transpherâmica”, “Anti-derrapante”, “Columbiformes” e “50%off” estão em desenvolvimento, ainda aguardando um espaço nas próximas fornadas. Atualmente, Laerte trabalha no recém inaugurado atelier “Studium Generale”, na região do centro de São Paulo, onde desenvolve seus projetos, pesquisas e auxilia outros artistas a desenvolverem projetos, moldes e esculturas em cerâmica
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