Sugerimos uma pauta relacionada às abordagens psicanalíticas dos filmes do cineasta Ingmar Bergman. A relação entre cinema e psicanálise é bem expressiva, tratada abertamente em algumas produções do cineasta. Para essa pauta, sugerimos entrevista com Stélio Lage, psiquiatra e psicanalista, D.E.A em filosofia pela Universidade Complutense de Madrid, que participará da programação paralela da mostra INGMAR BERGMAN – INSTANTE E ETERNIDADE, no dia 15 de abril, às 19h, ministrando a palestra Face a face com Bergman.
As obras do cineasta sueco promovem um efeito estético próximo ao que Freud chamou de “experiência de estranhamento”, por apresentarem uma destituição de fórmulas ficcionais pré-estabelecidas. O estilo do diretor rompe os paradigmas da narrativa clássica, dando espaço a múltiplas significações. Seus filmes, de alto cunho simbolista e filosófico, explicitam o uso das artes para iluminar campos obscuros de um saber não científico, como é o caso da psicanálise.
Segundo Rafael Ciccarini, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, a abordagem de temas sobre a psique do homem é um ponto de extrema importância na obra de Bergman. “Faz parte do motivo pelo qual ele se tornou artista. Ele imergia nas questões que o afligiam para que pudesse suportar a sobrevivência e encontrou na arte uma saída. Era viciado em trabalho, que para ele era uma forma de conseguir lidar com seus demônios”, aponta.
Não é novidade que parte desses demônios pessoais é resultado de sua infância. Filho de um pastor luterano que tornou-se capelão do Rei da Suécia, Bergman costumava ser humilhado e sofrer rígidos castigos quando criança. Tais aspectos são contados e recontados nos filmes, como se o cineasta orbitasse em torno deles, em uma atualização estética de suas angústias.
Mas, como ressalta o psiquiatra e psicanalista Stélio Lage, em sua autobiografia, Bergman declarou ter dado lugar às suas próprias complicações em sua obra, apenas como chaves para revelar os segredos do texto em seu trabalho criativo. “Diferentemente de uma vitrine simplória e banal de uma auto catarse, a obra de Bergman configura, sobretudo, um bloco de elaborações dedicadas ao questionamento da existência humana. É um convite, uma convocação, para que o espectador volte para si mesmo e para a interrogação corajosa a respeito dos seus problemas fundamentais”, declara Stélio.
Bergman foi sensível a múltiplas influências relativas à sua época e também suscetível a várias referências teológicas, teóricas e filosóficas. A dimensão íntima dos diálogos, quase onipresente em seus filmes e peças teatrais, indica a relevância dada por ele aos conflitos e dramas da existência humana. Assim, Stélio Lage indica que “em toda produção bergmaniana destaca-se um tom de provocação, como um chamado da atenção do espectador para questões fundamentais que povoam nossa vida: os devaneios, a solidão, o sofrimento, a morte e, também, por que não, o amor”.
Para Stélio, a abordagem de questões psicanalíticas no cinema pode servir ao espectador como uma espécie de arapuca, na qual este se vê impelido a refletir sobre si mesmo. Ele destaca o fato de alguns espectadores abandonarem subitamente a exibição de filmes de Bergman antes mesmo do final, “um sinal evidente do desconforto que ele, com suas peças e filmes, sempre foi capaz de suscitar-nos”, avalia o psiquiatra.
O estilo de Bergman, que privilegia a imersão no universo interior dos personagens, tornou seu trabalho uma referência para outros grandes nomes do cinema, como Woody Allen, Mike Leigh e Pedro Almodóvar, o que atesta a pertinência da relação entre a sétima arte e a psicanálise por meio de diversas abordagens e perspectivas.
Filmografia completa e raridades – A Fundação Clóvis Salgado, por meio da Gerência de Cinema, realiza até o dia 12 de maio a mostra Ingmar Bergman: Instante e Eternidade, considerada a maior já realizada no Brasil dedicada ao cineasta. Em um total de 160 sessões, serão exibidos 78 filmes que compõem a filmografia completa e algumas raridades como curtas metragens, making ofs e releituras para a TV de peças de teatro. As cópias, em formatos 35mm, 16mm, digital e DCP, que juntas pesam aproximadamente uma tonelada, foram importadas da Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.
Nos dias 22 e 23 de abril, será encenada no Grande Teatro do Palácio das Artes a peça Sarabanda, livremente inspirada em Saraband, último filme do diretor, sob a batuta de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.
A programação conta também com cursos, palestras e debates. Haverá ainda a exibição de duas trilogias: A Trilogia do Silêncio e uma trilogia de filmes com traços autobiográficos escritos por Bergman e dirigidos por outros cineastas.
Atividades da programação paralela da Mostra
Evento: Curso O Cinema de Ingmar Bergman
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 1º a 3 de maio (quinta a sábado)
Horário: quinta e sexta-feira, das 9h às 12h, e sábado, das 10h às 13h.
Ministrante: Mateus Araújo, doutor em filosofia pela UFMG e pela Université de Paris I (Sorbonne), ensaísta e professor de Cinema da ECA- USP.
Preço: Acesso gratuito. Inscrição via envio de mini currículo ou justificativa para o e-mail cursos.cinehumbertomauro@gmail.com até o dia 10 de abril. O resultado dos aprovados será divulgado no site da Fundação Clóvis Salgado no dia 24 de abril.
Evento: Debate A obra de Ingmar Bergman
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 25 de abril (sexta-feira)
Horário: 19h
Debatedores: Victor Guimarães (pesquisador e crítico de cinema – MG); Marcelo Miranda (jornalista e crítico de cinema – MG); Sérgio Borges (cineasta – MG) | Mediador: Rafael Ciccarini (curador da mostra)
Preço: Acesso gratuito
Evento: Debate Montando Bergman – conversa com os diretores e atores da peça Sarabanda, sobre a experiência de adaptação e montagem de um espetáculo teatral a partir do filme Saraband de Ingmar Bergman.
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 9 de maio / Horário: 19h / Preço: Acesso gratuito
Debatedores: Grace Passô e Ricardo Alves Jr. (diretores); Rita Clemente, Gustavo Werneck, Marina Viana e Rômulo Braga (atores).
Evento: Palestra Face a face com Bergman
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 15 de abril
Horário: 19h
Palestrante: Stélio Lage, psiquiatra e psicanalista (MG), D.E.A em filosofia pela Universidade Complutense de Madrid.
Preço: Acesso gratuito
Evento: Palestra Bergman e os Atores: Desejo e Individualidade
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes / Fundação Clóvis Salgado
End.: Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro – Belo Horizonte/MG
Data: 6 de maio
Horário: 19h
Palestrante: Pedro Maciel Guimarães, professor e pesquisador em História e Estética do Cinema e Audiovisual, doutor pela Sorbonne Nouvelle (Paris 3) e pós-doutor pela ECA-USP.
Preço: Acesso gratuito
Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman – VISKNINGAR OCH ROP © 1972 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
Noites de Circo, de Ingmar Bergman – GYCKLARNAS AFTON © 1953 AB SVENSK FILMINDUSTRI
Noites de Circo, de Ingmar Bergman – GYCKLARNAS AFTON © 1953 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman – SCENER UR ETT ÄKTENSKAP © 1973 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman – VISKNINGAR OCH ROP © 1972 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
Quando Duas Mulheres Pecam, de Ingmar Bergman – PERSONA © 1966 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
Sonata de Outono, de Ingmar Bergman – HÖSTSONATEN © 1978 AB SVENSK FILMINDUSTRI. ALL RIGHTS RESERVED
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