No dia 24 de outubro, a partir das 19h, o Espaço 321 Jacarandá abre sua última mostra de 2017, com curadoria de Diógenes Moura. É a individual A Última Discussão, em que o fotógrafo Bruno Vieira apresenta 18 registros de ruínas e edificações abandonadas, captados durante viagem realizada em 2016.
O roteiro inicialmente fazia parte do Rali da Mongólia, prova de resistência que sai de Londres ao país asiático e propõe a seus participantes que usem carros 1.0 de baixo custo para percorrer os 15 mil quilômetros previstos. Como no ano passado o governo mongol boicotou o evento, não permitindo a entrada dos participantes no país sem que fizessem o depósito de uma grande quantia em dinheiro na fronteira, Bruno e seus companheiros de viagem tiveram de mudar de planos e seguiram de volta em percurso pela Europa. No total, o fotógrafo viajou durante 99 dias, passando por 36 países e territórios ao longo de 26 mil quilômetros de estrada (com os trajetos de avião, Bruno percorreu 49,2 mil quilômetros, 9,2 mil quilômetros a mais que uma volta inteira na Terra).
A seleção enxuta da mostra debruçou-se sobre um recorte específico: as construções e ruínas deixadas pelo homem no decorrer do processo civilizatório, na ocupação de territórios muitas vezes inóspitos ou na homenagem a regimes ou efemérides esquecidos na mesma medida que seus marcos arquitetônicos. “É a antítese do monumentalismo do progresso”, diz Vieira.
Em foco, construções abandonadas demonstram materialmente a passagem do tempo. São cenas de estrada; de restos deixados na lama de uma usina abandonada; de uma mina de sal subterrânea desativada; todos mostrando grandes construções do passado que, na atualidade, são a antítese da glória que deveriam simbolizar.
Um exemplo é o Centro de Recreação de Pyramiden, em Svalbard (arquipélago norueguês). Fundada pela Suécia em 1910, a cidade mais setentrional do mundo foi vendida à então União Soviética em 1927 e tornou-se um grande centro de extração de carvão. Com o fim da URSS em 1998 e a desativação da mina, a cidade foi aos poucos abandonada e hoje abriga apenas os poucos funcionários que cuidam de sua manutenção como cidade turística. O Centro de Recreação com suas piscinas, saunas e instalações suntuosas, é hoje apenas um invólucro ermo que reverbera a opulência de outrora.
O título da mostra, A Última Discussão, sugere o silêncio desses locais desocupados, solitários, quase como uma resposta às inúmeras pregações sócio-políticas que vão se substituindo ao longo da História. Diante da falibilidade das instituições humanas, que mesmo na solidez do concreto só conseguem fixar sua própria fragilidade diante da marcha incessante do tempo, não há mais o que discutir, o discurso se dissipa.
É no limite entre existir culturalmente e deixar-se retomar pela natureza, como as caldeiras do complexo energético de Charleroi, que a palavra perde o sentido. Construído em 1921 na cidade belga, o grupo de usinas de energia será em breve demolido, por sua alta taxa de emissão de CO2 quando em atividade, o que gerou um escândalo ambiental.
Sobre o artista
Bruno Vieira (São José dos Campos, SP, 1985) é fotografo profissional desde 2006, mas comprou sua primeira camera fotográfica reflex aos 12 anos. Formou-se bacharel em Fotografia pela Faculdade SENAC de Comunicação e Artes, em São Paulo, onde reside desde então. Trabalhou como assistente de fotógrafos e, após se formar, enveredou pela área de cinema e publicidade, onde trabalhou em diversos filmes publicitários, longas-metragens (como Quebrando o Tabu, de Fernando Grostein Andrade), curta metragens, séries, documentários, videoclipes e vídeos institucionais.
Hoje, é diretor de fotografia e já assinou comerciais para a Volkswagen e para a Coca-Cola, este em conjunto com o vencedor do Globo de Ouro Blasco Giurato, responsável pela fotografia do longa italiano Cinema Paradiso.
Sobre o curador
Diógenes Moura (Recife, PE, 1957) é escritor, curador de fotografia e editor. Premiado no Brasil e exterior, recebeu o Prêmio APCA de Melhor Livro de Contos/Crônicas, em 2010, com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). No mesmo ano foi finalista do Prêmio Jabuti, na mesma categoria. É autor, entre outros, de Fulana Despedaçou o Verso (Terra Virgem Edições, 2014) e Drão de Roma – Dezembro Caiu (Fundação Casa de Jorge Amado, 2006). Foi curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1999 e 2013, formando um acervo com cerca de 600 imagens de fotógrafos brasileiros. É autor de projetos curatoriais com nomes como Mario Cravo Neto, Claudia Andujar (Prêmio APCA/2006) , Fernando Lemos, Carlos Moreira (Prêmio APCA/2008), German Lorca, Nair Benedicto, Luiz Braga (Prêmio APCA/2014), Adenor Gondim, Andy Warhol, Martin Chambi, Irmãos Vargas, entre outros. Atualmente trabalha na edição da exposição Estranhamento, de Boris Kossoy (abertura 8/11, na Lombardi Galeria) e finaliza O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos, com publicação prevista para o primeiro semestre de 2018 pela Vento Leste Editora.
SERVIÇO
Exposição individual A Última Discussão – Bruno Vieira
Curadoria: Diógenes Moura
Abertura: 24 de outubro (terça-feira), das 19h às 23h
Visitação: de 25 de outubro a 15 de dezembro de 2017
Onde: Espaço 321 Jacarandá (Rua Coronel Melo Oliveira, 783, Perdizes, São Paulo, tel. 11.2359-4247/ 2359-9347)
Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 18h
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