Afetos no Espaço 321 Jacarandá/SP

Por Paulo Varella - maio 24, 2018
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É possível eternizar uma fração de segundo? Em sua individual Afetos, o fotógrafo Paulo Leite prova que sim. Com curadoria de Pedro Palhares e Rubens Fernandes Junior, a nova exposição do Espaço 321 Jacarandá traz cerca de 80 imagens clicadas pelo veterano em épocas variadas, que fazem um recorte do cotidiano em sua fugacidade. A abertura acontece no dia 5 de junho (terça-feira), a partir das 19h. A mostra fica em cartaz até 13 de julho.

Pelo enquadramento das cenas e a edição curatorial, apresentando as fotos muitas vezes em polípticos, cenas frugais despem-se de sua banalidade para sugerir percursos livres ao espectador. Embora tenha se consagrado ao longo da carreira por seu trabalho como fotojornalista, o que Leite oferece ao público na exposição é o oposto da objetividade e condicionamento da imagem jornalística.

Não há a busca pela expressão de uma mensagem determinada, estrita. Os flagrantes captados pela lente do fotógrafo são espontâneos, mas têm uma composição delicada, em que enquadramento e luz são fundamentais para emprestar a seus cenários e personagens a aura extracotidiana. A combinação das imagens entre si capta o imaginário coletivo em sua afetividade. O que aproxima é a familiaridade das fotos. O público se reconhece ali e, mesmo não se vendo reproduzido como num retrato, resgata em sua memória momentos similares.

“De fato, é algo muito livre, muito fluido, sem a preocupação de atingir um resultado prévio. O afeto, com toda sua carga, que passa inclusive pela questão psicanalítica, é o condutor do percurso proposto pela exposição”, diz Paulo Leite.

O recurso da edição e da justaposição de várias fotografias, de que a mostra se apropria recorrentemente, é muito atual. Nomes como o alemão Wolfgang Tillmans e o argentino Aldo Sessa são expoentes dessa vertente, o primeiro para trazer à tona o ritmo frenético da contemporaneidade e de seu registro infinito de imagens; e o segundo, para emprestar nostalgia ao extraordinário encontrado em países longínquos, no teatro e nos guetos gays de NY.

Mas nas imagens de Paulo Leite, o trânsito polissêmico é traçado por meio da familiaridade, da empatia, do comum flagrado pela lente do fotógrafo. A despretensão e a coloquialidade, somadas, produzem os Ruídos e Silêncios das duas seções distintas da mostra. Seja como uma memória terna ou como aquilo que nos afeta, não passamos ilesos pelas fotos de Paulo Leite: somos convidados a tomar parte, preenchendo as lacunas de suas narrativas abertas com nossas próprias dores e angústias, alegrias e amores.

Nas palavras do co-curador Rubens Fernandes Junior, “A fotografia de Paulo Leite nos leva para o universo do sensível, dos afetos e torná-la visível tornou-se urgente. Cada vez mais estamos diante de imagens brilhando em telas que estimulam a criação de ilusões e fantasias. Ao mesmo tempo, essas imagens provocam um distanciamento da natureza humana. Aqui, utilizamos as suas fotografias como potência de possíveis mediações poéticas. Como provocação mesmo, cuja finalidade é ressignificar memórias”.

Sobre o artista

Paulo Leite (Rio de Janeiro, 1949) fez curso de formação em fotografia no MAM-RJ com Georges Racz, coordenação de Roberto Pontual (1974). Inicia a carreira de fotógrafo profissional na revista Manchete. Muda-se em 1977 para São Paulo (onde vive desde então), e trabalha em veículos como Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e IstoÉ. Participa também de projetos institucionais, entre eles a Revista Goodyear. A partir do início dos anos 2000, documenta projetos na área social em empresas ligadas a instituições do terceiro setor. Produz 8 mostras individuais no Brasil e participa de 14 coletivas, no país e no exterior. Trabalhos de sua autoria integram a Coleção Pirelli-Masp de Fotografia (2001) e o livro Por Trás Daquela Foto (contos e ensaios a partir de imagens), organizado por Lilia Moritz Schwarcz e Thyago Nogueira. Em 2016, tem sua biblioteca fotográfica, formada ao longo de 40 anos, adquirida pelo Instituto Moreira Salles e incorporada ao acervo da instituição, acessível em sua nova sede, na Avenida Paulista.

Sobre o Espaço 321 Jacarandá

O Estúdio 321 e a Jacarandá Montagens são empresas complementares que se uniram para trazer ao mercado de obras de arte um novo conceito de prestação de serviço. A proposta é oferecer, em um mesmo espaço físico, digitalização, tratamento e impressão de imagens (Estúdio 321), assim como montagem e apresentação final da obra (Jacarandá). De quatro a cinco vezes no ano, as duas empresas promovem exposições na sede ocupada por ambas, no bairro de Perdizes, no Espaço 321 Jacarandá. Com isso, além de apresentar novos nomes da fotografia, exibem a excelência de seu métier, sempre atualizadas com as novidades tecnológicas. Ambas trabalham com materiais de conservação museológicos certificados e padrão de qualidade internacional, aliados a um olhar apurado e com referências estéticas em fotografia e artes plásticas, complementando as questões conceituais do trabalho. Entre seus clientes, estão MAM, Instituto Tomie Ohtake, Galeria Millan e Galeria Vermelho.

SERVIÇO

Individual Afetos – Paulo Leite

Curadoria: Pedro Palhares e Rubens Fernandes Junior

Abertura: 5 de junho (terça-feira), das 19h às 23h

Visitação: 6 de junho a 13 de julho de 2018

Onde: Espaço 321 Jacarandá (Rua Coronel Melo Oliveira, 783, Perdizes, São Paulo, tel. 11.2359-4247/ 2359-9347)

Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 18h

https://pt-br.facebook.com/321Jacaranda/

 

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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