Serão duas apresentações, nos dias 20 e 21 de junho, no teatro Pedro Ivo, em Florianópolis. A verba arrecada com o trabalho será destinada ao Instituto Guga Kuerten
O corpo tudo pode mesmo preso num sistema/tempo? Seria ele marionete dos interesses vigentes servindo a um jogo econômico, mesmo sem consentimento? O lucro acima, a ética abaixo, o dinheiro na linha do peito. À margem sobra o resto, pedaço estreito de sobrevivência. O embate do neoliberalismo sobre a vida do todo, seus impactos, foram reflexões discutidas à tona pela Cia. South Flavor. “Asas” não é uma resposta pronta, mas sim construída e inacabada que busca caminhos sobre a questão: “Até que ponto podemos alçar voo na sociedade contemporânea? O espetáculo tem parceria com a Orquestra Acadêmica da UDESC e Regional Choro Ilhado, entra em cartaz nos dias 20 e 21 de junho, às 20h, no Teatro Pedro Ivo. E pretende ampliar o debate e reconhecer esperanças.
“O grupo busca compreender questões acerca do livre arbítrio do sujeito inserido na sociedade neoliberal. Desprotegidos e percebendo seus direitos violados, estes indivíduos são sujeitos à miséria através da barbárie cotidiana instaurada pela desigualdade, quando não mais geram lucro, como refletiu Zygmunt Bauman. Assombrados pela exclusão ao qual estão submetidos e calados pelas amarras de um poder maior, os sujeitos pós-modernos replicam atitudes de desconfiança e falta de integridade. O pavor toma à frente das relações interpessoais, cuja máxima é: “não há espaço para todos”. Por fim, a estrutura social gera sobras humanas, que, por sua vez, veem-se em um contexto desprovido de afeto, conforto e segurança no seio do convívio social”, contextualiza Elisa Schmidt, diretora do trabalho.
A Cia. South Flavor nasceu em 2014. No ano seguinte deu start à pesquisa viabilizada por meio de uma campanha de financiamento colaborativo Catarse, e concluída em 2016. “Tivemos neste primeiro momento importantes contribuições dos artistas Margô Ferreira, com oficinas de técnica aérea, Chico Caprário, compondo a pesquisa de interações entre o cinema e a dança e Ivo Godois, elaborando a criação do design de iluminação. O grupo também contou com os workshops de dança contemporânea de Elke Seidler, de dança de salão, ministrado por Rodolfo Lorandi e de capoeira, compartilhada por Vagner Freitas (Minhoca)”, comenta.
A paisagem corporal foi desenvolvida pelos bailarinos coreógrafos Gui Fant, Julia Milan, Elisa Schmidt e David Botellho, através de conexões entre as danças urbanas e o contato improvisação propostos na respectiva montagem dramatúrgica. A versão do espetáculo de 2017 é embasada na exploração de técnicas do Teatro de Sombras para composição da dança, com suas silhuetas performáticas desenvolvidas por César Rossi. O repertório conta com obras de Pixinguinha e Chico Buarque e seus clássicos do cancioneiro popular brasileiro.
“Diante destas reflexões, escolhemos desenvolver uma antítese dramática, criticando o sentimento de desesperança gerado pela crise econômica e social vigentes, como forma de resistir, sem violência. Em “Asas”, optamos usufruir de uma linguagem plena de suavidade, em oposição às imagens de barbárie banalizadas pela mídia, presentes no cotidiano social contemporâneo. Através da expressão de nossa dança, a suspensão do tempo apresenta-se contrária à ansiedade regida pela sociedade pós-moderna, assim como o afeto e a segurança do convívio apresentam-se como o revés do abandono e da desconfiança”. O evento será beneficente e a verba destinada ao Instituto Guga Kuerten.
Ficha Técnica
Direção: Elisa Schmidt
Bailarinos coreógrafos: Gui Fant, Julia Milan, David Botelho e Elisa Schmidt
Iluminação: Ivo Godois
Confecção e manipulação de Sombras: César Rossi
Designer: Julia Milan
Realização: South Flavor
Grupos convidados: Orquestra Acadêmica da UDESC e Regional Choro Ilhado.
Apoio: Instituto Guga Kuerten e Cenarium Escola de Dança.
Valor do ingresso: R$20,00 inteira ou R$10,00 + 1 quilo de alimento não perecível