Dez meses após a abertura do projeto Territórios da Arte, será lançado no dia 26 de março, segunda-feira, o livro que reúne os resultados da cartografia cultural realizada como fruto da parceria entre a Universidade Federal Fluminense e a Fundação Nacional de Artes (Funarte/MinC). A publicação Territórios da Arte destaca a interação dos membros do projeto com os fazedores de arte e cultura locais nas cinco regiões do Brasil, ao longo de 2017. O lançamento ocorrerá a partir das 18h, no Centro de Artes UFF, em Icaraí, Niterói.
O livro Territórios da Arte tem artigos de Ludmila Brandão, Giordanna Santos, Larissa Lacerda Menendez, Suzana Guimarães e Milton Guapo (Centro-Oeste); Sandro Ka, Sandra Meyer, Naldo Gonçalves, Juliana Crispe, Francine Goudel, Franciele Fávero, Gilson Maximo (Sul); Nicole Costa, Williams Wilson de Santana, Francisco Ludermir Ferreira, Maria Socorro Liberal Peixoto (Nordeste); Cleiton de Barros Nunes, Elis Miranda, Nani Tavares, Wlad Lima, Auda Piani (Norte); Pierre Crapez, Mariana Silva, Paula Spadari e Wallace Barbosa (Sudeste). A coordenação editorial é de Leonardo Guelman, Marianna Kutassy e Pedro Gradella.
Durante o lançamento, representantes dos territórios mapeados estarão juntos na Varanda da Reitoria e no Teatro da UFF para uma noite de celebração: o cordelista Edmilson Santini, os rappers do coletivo UjimaGang e o declamador performático Neneto Sá. O evento inclui ainda um tributo a Mestre Vieira, considerado pai da guitarrada paraense, falecido em fevereiro último. A homenagem será conduzida por Wilson e Waldecir Vieira, tecladista e baterista, respectivamente, que inauguram o projeto musical e memorial “Filhos do Mestre”. Em outubro de 2017, Mestre Vieira se apresentou profissionalmente pela última vez, no Teatro da UFF, com o show “Guitarreiro do Mundo”, encerrando a semana de shows do projeto Interculturalidades/Territórios da Arte, com a participação dos filhos de Vieira.
O evento tem entrada gratuita, mediante distribuição de senhas para o teatro a partir das 17h.
Sobre o projeto:
“O projeto Territórios da Arte trabalhou a convergência das expressões artísticas pela dimensão dos territórios, muito marcados pelo processo de produção coletiva e pela valorização identitária dos grupos, o que representa o presente e o futuro do ato de fazer cultura”, sintetiza Leonardo Guelman, superintendente do Centro de Artes UFF, professor do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF e gestor do projeto.
Partindo de prospecções no cenário cultural e artístico local, o Territórios da Arte mapeou diversos pontos do país e percorreu, de maio a outubro, as cidades de Cuiabá (Centro-Oeste), Florianópolis (Sul), Recife (Nordeste), Belém (Norte) e Niterói (Sudeste). A equipe do projeto promoveu rodas de conversas, apresentações artísticas e a construção de um mapa colaborativo, que visou traduzir a visão coletiva sobre o panorama da cultura em cada região.
“A parceria da Funarte com a UFF fortalece o incentivo à produção, o desenvolvimento da pesquisa e a preservação da memória, visando à implementação de políticas públicas no campo da cultura”, disse Maristela Rangel, Diretora do Centro de Programas Integrados da Funarte, à época da abertura do projeto.
Sobre os artistas participantes:
UjimaGang, coletivo de jovens produtores de cultura Hip Hop na cidade de Niterói que produz, para além de seu conteúdo autoral, o Baile da U.G, uma festa de rua que conta com discotecagem e shows dos artistas e dos coletivos agregados. Apesar de muito influenciados pelo RAP, o baile conversa com o circuito do R&B, Funk, Soul, Trap, e busca difundir gratuitamente a cultura de rua dando visibilidade às novas expressões artísticas da juventude negra e periférica. Ujima é um dos princípios do Kwanzaa (uma celebração afroamericana) e significa trabalho coletivo e responsabilidade, ideais que definem sua essência.
Edmilson Santini, pernambucano radicado no Rio de Janeiro, é ator, escritor e mestre cordelista. Idealizador da Cia. de Teatro em Cordel, projeto de cunho educativo com o objetivo de transmitir informações sobre a cultura brasileira de forma dinâmica, “sem esquecer o lado da diversão e do lazer”, através do teatro. Edmilson apresentará uma performance em cordel que vai conduzir o público em todos os sentidos.
Neneto Sá, poeta, ator e declamador performático, nasceu em Campo Grande, hoje Mato Grosso do Sul. Batizado Irmar de Arruda e Sá Chaves, é formado em Educação Física pela UFMT. Participou de cursos de teatros e oficinas realizados em Cuiabá e com Amir Haddad, ator, diretor e teatrólogo, que foi mestre de mais da metade dos atores mato-grossenses. Integrou o grupo Terra, participando da montagem do Gudibai Meu Boizinho, de Luiz Carlos. Em inícios dos anos 2000, numa conversa com a cantora e compositora Zuleika Arruda (Grupo Sarã), idealizou o projeto Poetas Livres nas Praças que, em 2005, publicaram o livro “A primeira antologia dos Poetas Livres nas Praças Cuiabanas”.
Filhos do Mestre – Waldecir Vieira (baterista) e seus irmãos Wilson Vieira (teclado) e Waldir Vieira (percussão) lançaram o Projeto Musical e Memorial Filhos do Mestre, que traz à tona a obra de seu pai, o guitarrista Joaquim de Lima Ferreira, internacionalmente conhecido como Mestre Vieira. O projeto Filhos do Mestre mantém sonoridades originais da guitarrada mescladas a releituras e tem como objetivo reconhecer e manter vivo esse legado musical de grande importância para a cultura brasileira.
O projeto Filhos do Mestre foi lançado em 9 de março de 2018, na II Feira Livre de Arte e Cultura do Fundação Cultural do Pará (Centur). O grupo, ainda em fase de formação, conta com dois guitarristas da cidade natal de Mestre Vieira, Barcarena: Dhiosy Marques, que aprendeu guitarrada ouvindo Vieira e Seu Conjunto; e Rodrigo Magno, de apenas 16 anos, seguidor do Mestre, com quem teve oportunidade de tocar e aprender muito. O show tem direção musical de Waldecir Vieira, direção artística de Carlos Canhão Brito e produção de Luciana Medeiros. O cenário de telas para projeção com a estética da guitarrada é criação da artista visual Roberta Carvalho e foi produzido para o lançamento do álbum Guitarreiro do Mundo, de 2015. Tal cenografia está de volta à cena para o Tributo a Mestre Vieira, que os Filhos do Mestre pretendem levar a outras cidades brasileiras, com participações especiais.
Sobre Mestre Vieira – Joaquim de Lima Vieira (1934-2018) nasceu em Barcarena (PA). Era filho de Dona Sofia Rosa, lavradora, e de Seu Zacarias, mecânico de origem portuguesa, apreciador do bandolim no fado, e que influenciou Vieira a aprender seu segundo instrumento, uma réplica construída por seu irmão. O primeiro instrumento foi um banjo, que o jovem tocava em bailes da sua pequena cidade. Em sua paixão pela guitarra, adaptou-a dentro de suas possibilidades e, com um conjunto de cordas de violão e com um amplificador adaptado a uma bateria de carro, tocou os primeiros acordes do que seria a Guitarrada, hoje considerada gênero musical genuinamente paraense e Patrimônio Musical do Pará. Vieira é conhecido como o criador da guitarrada e da lambada, estilos musicais com fortes elementos da cultura caribenha, da cúmbia, do merengue e do bolero, referências que o acompanharam em sua juventude. Além dessas, o fado, o carimbó do Pará, como também a Jovem Guarda e o foxtrot, foram influências que deram origem a uma forma única de tocar o choro com guitarra elétrica, com uma sonoridade intimamente ligada ao seu território e vivência ribeirinha.
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