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Coletiva de clássicos na Galeria Berenice Arvani

abril 11, 2018maio 11, 2018

Exposição toma como ponto de partida o círculo de artistas incentivados pelo colecionador e crítico de arte Theon Spanudis; paralelamente, intelectual ganha biografia que mapeia o espaço cultural-artístico formado em seu entorno

 

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Flor Fantástica, de Niobe Xandó. Foto: Luiz Braga| Emblema IX, 1973, de Rubem Valentim. Foto: Sergio Guerini

Crítico e colecionador de arte como poucos, Theon Spanudis era dono de uma visão privilegiada. Frequentador de ateliês de pintores, tornou-se figura singular no mundo das artes, sendo um dos primeiros a incentivar e a adquirir obras de nomes ímpares da arte brasileira, tais como Alfredo Volpi, Mira Schendel, Niobe Xandó e Rubem Valentim. Estes são alguns dos artistas que integram a coletiva O visionário Theon Spanudis e seu grupo de artistas, que a Galeria Berenice Arvani recebe a partir de 10 de abril. Na ocasião, também será lançado o livro O círculo de Theon Spanudis, que traz a biografia do crítico, além de ensaios, depoimentos, fotos e alguns dos destaques de sua importante coleção.

Com curadoria de Antonio Carlos Suster Abdalla, a exposição segue um viés histórico e apresenta cerca de 40 trabalhos, de um corpo de 17 artistas: Alfredo Volpi, Arnaldo Ferrari, Bárbara Spanoudis, Eleonore Koch, Fang, Fernando Odriozola, Jandyra Waters, José Antônio da Silva, Luiz Sacilotto, Mira Schendel, Montez Magno, Niobe Xandó, Ramón Cáceres, Rubem Valentim, Rubens Azevedo, Ubirajara Ribeiro e Valdeir Maciel.

“Psiquiatra por formação, Spanudis foi um crítico e colecionador desbravador, um homem sensível, de ampla cultura, que não se atinha a modismos, visões definitivas ou fechadas. No sentido contrário à excessiva valorização dos critérios passageiros do mercado de arte, tinha absoluta liberdade de opinião”, afirma Abdalla.

Para o curador, Spanudis foi um grande catalisador de influências. Filho de pais gregos, nutria e vivenciava a ideia de mestre e discípulos. Era fiel representante dessa forma de convivência fraterna e intelectual, aproximando-se de alguns artistas e contribuindo para a formação de seus pares, muitos também colecionadores. “Ele foi um apaixonado sem amarras e reuniu, ao seu redor, um elenco memorável de artistas e um invejável círculo de amigos, distribuindo seu legado cultural a todos que tivessem sensibilidade e estivessem interessados na construção de uma cultura, de fato, perene”, pontua Abdalla.

Mais do que colecionador, Spanudis apoiou vários dos artistas que o surpreenderam, seja pela obra, seja pela visão que tinham acerca da arte brasileira. Aos poucos, inseriu-os em seu ciclo social. Jandyra Waters e Valdeir Maciel foram dois pintores dentre os mais próximos do crítico. Do ponto de vista pictórico, ambos tinham em comum o recurso do desenho geométrico, estética pela qual Spanudis nutria destacada preferência e fidelidade. À dupla, juntava-se também Rubem Valentim, pintor que, a seu ver, conquistara o mais alto nível das artes plásticas contemporânea internacional e mundial por incorporar em seus trabalhos os símbolos religiosos afro-brasileiros.

“O caminho do construtivismo brasileiro absolutamente abstrato que Valentim iniciou (…) já traz novos e saborosos frutos inéditos, na criatividade tão rica de um Valdecir Maciel e de uma Jandyra Waters. Rubem Valentim é precursor de todos eles. Valentim abriu esse caminho que terá, sem dúvida, continuadores singulares no futuro. Rubem Valentim, um gênio do construtivismo religioso brasileiro”, declarou certa vez o crítico.

Recém-chegado da Europa, sem qualquer domínio da língua portuguesa, encantou-se com o trabalho de Alfredo Volpi. A relação que mantinha com o pintor era de grande proximidade, apesar da personalidade reclusa do modernista. Foi um dos poucos a frequentar seu ateliê e, certa vez, comprou dele toda uma exposição, então em cartaz na famosa Galeria Domus.

“Volpi é um dos maiores coloristas do mundo e do nosso tempo (…) suas qualidades de grande colorista desenvolveram-se plenamente e amplamente após ter superado a sua fase inicial populista e paisagista, enfim, após ter superado a sua pintura tonal e desenvolvido uma pintura plana de coloridos diretos”, publicou o crítico, em 1964.

Spanudis tentou repetir a façanha compulsiva em uma individual do principiante José Antônio da Silva, a seu ver, “o maior gênio primitivo que o Brasil conheceu”. Teve, entretanto, seus planos confrontados por Pietro Maria Bardi, com quem fez acordo para dividir os trabalhos apresentados na mostra.

“Sua obra, tão rica e diversificada em assuntos, vibra com um magismo telúrico extremamente forte, dinâmico e inquieto (…) Um vigor e um canto da exuberância desse mistério que é a natureza, como nunca foi expresso no Brasil e no mundo inteiro”, chegou a escrever o colecionador, referindo-se ao trabalho do pintor do interior paulista.

Biografia

A abertura da exposição marca ainda o lançamento do livro O círculo de Theon Spanudis, também organizado por Antonio Carlos Suster Abdalla. Editada pela Cult Arte e Comunicação, a publicação traz um relato biográfico e ainda um texto do colecionador Ladi Biezus, fotos e trechos críticos de Spanudis referentes a cada um dos artistas da mostra. Na sexta-feira, 13 de abril, às 17h, a Galeria Berenice Arvani promove um novo lançamento, desta vez na SP-Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo, no Pavilhão da Bienal.

O ensaio traça um mapa do espaço cultural-artístico formado em torno da figura singular de Theon Spanudis e faz uso de uma metáfora simbólica, que toma o colecionador como eixo universal – ponto de equilíbrio gravitacional em torno do qual orbita uma constelação de estrelas de grandezas diversas.

Visionário, era capaz de enxergar o brilho de um astro anos-luz à frente do establishment ditado por museus e pela academia. “Ele não era indiferente a qualquer manifestação verdadeiramente artística, por isso esse sistema astro-imaginário subsistia pela força do apreço que sentia pela obra dos artistas que ele respeitava e amava”, aponta Biezus.

Para além das estrelas de seu círculo mais estreito, o livro apresenta também inúmeras ligações tangenciais, marcadas pelas afinidades destes artistas com os demais. Nesse contexto, surgem, por exemplo, figuras como Tarsila do Amaral, Milton Dacosta e Maria Auxiliadora.

Entre as histórias narradas, há uma que revela a tremenda generosidade do crítico em prol das artes brasileiras. Tentado a criar um instituto que acolhesse as obras que colecionava após sua morte, mas receoso acerca da gestão desse patrimônio, Spanudis acabou optando por doá-las ao Museu de Arte Contemporânea, vinculado à Universidade de São Paulo (MAC-USP). Parte de seu acervo, que reunia mais que 450 obras, foi transferido à instituição já em 1979; o restante só foi incorporado ao acervo do museu após sua morte, em 1986.

Theon Spanudis
Crítico de arte, colecionador, tradutor, poeta e psiquiatra, Theon Spanudis (1915-1986) nasceu em Esmirna e cresceu em Atenas. Estudou Medicina em Viena, especializando-se em Psicanálise. Em 1950 veio para São Paulo a convite da Sociedade Brasileira de Psicanálise, na qual lecionou até 1957. A partir daí, decidiu dedicar-se exclusivamente à crítica de arte e à produção literária.

Colaborou para periódicos como as revistas AD Arquitetura e Decoração, Habitat, Cavalo Azul e Convivium, além do suplemento literário do jornal O Estado de São Paulo. Nos anos 1960, sua produção textual expandiu-se para a poesia. Desde jovem, escrevia textos literários e poemas, mas a publicação de suas obras deu-se no Brasil e, de modo geral, em português.

Paralelamente à produção poética, Spanudis seguia como personalidade importante para muitos artistas cujas obras colecionava. Em 1978, realizou a primeira exposição que reuniu destaques de sua coleção no Centro de Artes Porto Seguro. A exposição, denominada Construtivistas e Figurativos da Coleção Theon Spanudis, apresentou obras de Alfredo Volpi, Arnaldo Ferrari, Bárbara Schubert Spanoudis, Eleonore Koch, Fang, Fernando Odriozola, Jandyra Waters, José Antônio da Silva, Mira Schendel, Niobe Xandó e Valdeir Maciel.

Em 12 de setembro de 1986, Theon Spanudis faleceu em São Paulo.

Curador
Pesquisador em Artes Visuais e especialista em Museologia, Antonio Carlos Suster Abdalla é curador independente. Já atuou em diversos museus, galerias e centros culturais ao longo de sua carreira, entre os quais o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-Rio), o Museu Brasileiro da Escultura (MUBE), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba, e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Abdalla foi também responsável pela pesquisa e catalogação de coleções de artistas e particulares, dentre os quais de Bárbara Spanoudis, Eduardo Azevedo, Erich Brill, Fernando Odriozola, Marcello Grassmann, Niobe Xandó, Jacques Douchez, Burle Marx e Alícia Rossi. Entre os livros publicados que contaram com sua contribuição e organização, Sonya Grassmann; Capital: Patrimônio Histórico de São Paulo; Lei Rouanet: Percurso e Relatos; Arnaldo Ferrari, Fernando Odriozola – sombras reveladoras e Niobe Xandó (Centenário de nascimento).

Exposição O visionário Theon Spanudis e seu grupo de artistas
Local: Galeria Berenice Arvani
Endereço: Rua Oscar Freire, 540 | Jardins
Abertura: 10 de abril, a partir das 19h
Período expositivo: de 11 de abril a 11 de maio
Dias e horários de visitação: de segunda à sexta, das 10h às 19h
Contato: (11) 3082-1927 | 3088-2843

Livro O círculo de Theon Spanudis
Autores: Antonio Carlos Suster Abdalla e Ladi Biezus
Coordenação: Edith Azevedo Zogbi
Fotografias: Fabio Praça, Sérgio Guerini, Nelson Aguilar
Editora: Cult Arte e Comunicação
Ano: 2018
Edição: 1
ISBN: 978-85-65706-08-7
Número de páginas: 272
Preço sugerido: R$ 50

Detalhes

Início:
abril 11, 2018
Final:
maio 11, 2018
Evento Tags:
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Local

Galeria Berenice Arvani
Rua Oscar Freire, 540
São Paulo, São Paulo Brasil
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Telefone
(11) 3082-1927