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Conversas Com Meu Pai no Oswald de Andrade

junho 2, 2017junho 24, 2017

Com texto de Alexandre Dal Farra, a montagem concebida pela atriz e diretora Janaina Leite apresenta traços de uma história real entre pai e filha.

O ponto de partida do espetáculo é uma caixa que guarda uma infinidade de bilhetes recolhidos por Janaina Leite e que trazem frases escritas por Alair, seu pai, que sofreu uma traqueostomia, perdeu a capacidade da fala e passou a se comunicar unicamente por escrito. A atriz, flagra nesses papéis rascunhados o mote para a dramaturgia de uma comunicação silenciosa entre pai e filha.

 

 

Oficina Cultural Oswald de Andrade de 2 a 24 de junho

 

Com texto de Alexandre Dal Farra, montagem concebida pela

atriz e diretora Janaina Leite (Grupo XIX de Teatro) apresenta traços

de uma história real entre pai e filha. Em um cenário-instalação,

o  documentário cênico mescla elementos documentais e

ficcionais que surgiram ao longo da pesquisa que durou sete anos. A atriz lança também seu livro Autoescrituras Performativas: do Diário à Cena

 

De 2 a 24 de junho a Oficina Cultural Oswald de Andrade recebe a última temporada do espetáculo Conversas com Meu Pai, em sessões às sextas-feiras às 20h e sábados às 18h. É o encerramento do prêmio Myriam Muniz 2015 de circulação nacional.

 

No dia 6 de junho, terça-feira, a partir das 19h, Janaina Leite lança o livro Autoescrituras Performativas: do Diário à Cena (Editora Perspectiva), na Livraria da Vila (Alameda Lorena, 1731). O livro pioneiro no Brasil sobre o processo autobiográfico no teatro tem prefácio de Sílvia Fernandes e orelha de Luiz Fernando Ramos e traz o texto de Conversas Com Meu Pai na íntegra.

 

O ponto de partida de Conversas Com Meu Pai  é uma caixa que guarda uma infinidade de bilhetes recolhidos por Janaina Leite e que trazem frases escritas por Alair, seu pai, que sofreu uma traqueostomia, perdeu a capacidade da fala e passou a se comunicar unicamente por escrito. A atriz, do Grupo XIX de teatro, em parceria com o dramaturgo Alexandre Dal Farra (prêmio Shell 2013 de melhor autor e indicado ao APCA em 2014 e 2015), flagra nesses papéis, rascunhados o mote para a dramaturgia de uma comunicação silenciosa entre pai e filha.

 

Alguns anos mais tarde, é a vez da filha descobrir que sofre de uma doença degenerativa e está ficando surda. Nesse novo contexto, em silêncio, pai e filha, “conversam”. Em cerca de sete anos de trabalho, mais de 500 páginas de escritos e 60 horas de vídeos e áudios compõem a memória de uma espécie de performance de longa duração que teve seu término em outubro de 2011, quando Alair veio a falecer.

 

Conversas Com Meu Pai é um desdobramento da pesquisa de Janaina Leite sobre teatro documentário iniciada em 2008 com o experimento Festa de Separação: Um Documentário Cênico (direção de Luiz Fernando Marques). O espetáculo esteve em cartaz por três anos e é baseado na ruptura de um casal na vida real. A experiência do espetáculo gerou um campo de pesquisa ao qual Janaina Leite vem se dedicando, tanto na vertente acadêmica por meio de sua pesquisa na pós-graduação, quanto nos domínios da pesquisa prática em suas criações e na orientação de diversos cursos e oficinas.

 

O texto de Alexandre Dal Farra

Depois de sete anos de processo uma infinidade de material foi produzido – entrevistas, diários e ficções – e diversos temas se sobressaíram como separação, silêncio, isolamento e morte, gerando tentativas formais que foram descartadas.

 

“Precisava ter um fluxo verbal para levar o espetáculo aos palcos e assim permitir me colocar como atriz. Pedi então ao Alexandre Dal Farra, que já estava acompanhando o processo, que organizasse a dramaturgia e encontrasse um texto final. A dramaturgia que ganhou força é, justamente, a que procura então cruzar as histórias – as versões – não só de memórias e visões sobre uma mesma pessoa, mas sobre o próprio processo. Foi o suporte para realmente eu entrar em cena”, conta Janaina.

 

A narrativa, assim como a montagem, foi organizada em três fases: a sala de jantar, o viveiro e o porão, correspondendo a três grandes movimentos do processo. Em a sala de jantar, o público é recebido pela atriz, que precisa contar um segredo, no saguão da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Já em o viveiro, que acontece em uma sala no andar superior, a atriz faz uma autocrítica e desconstrói a narrativa da cena anterior e em o porão as memórias são resgatadas e o segredo anunciado na primeira parte pode ser desvendado.

 

O início

Janaina conta que as primeiras ideias para um projeto artístico baseado nas “conversas” que ela mantinha com seu pai que não podia falar e que ficavam, em parte, registradas nos papeizinhos que ele usava para se fazer entender surgiram em 2008. “Essas frases, tiradas de seu contexto, acumuladas aleatoriamente numa velha caixa de sapatos, me pareciam sugerir um possível ponto de partida para a criação de uma dramaturgia que, como a memória, colocasse o registro do vivido à mercê da complexa relação entre presente e passado, experiência e registro, viver e contar”, explica ela.

 

O pai de Janaina saiu de casa quando ela tinha quinze anos. Alguns anos depois ele foi diagnosticado com um câncer na laringe, e só então, eles se reaproximaram. Em março de 2005 ele teve de ser submetido a uma traqueostomia e nunca mais voltou a falar. Alair Pereira Leite faleceu em outubro de 2011. “A reaproximação entre meu pai e eu só se deu quando ele já não podia mais falar. Finalmente conversamos as conversas que nunca tínhamos tido antes. Passei a recolher, ainda sem saber para que fim, esses fragmentos, resíduos das tardes que passávamos juntos, sentados numa mesa de bar, pescando, ouvindo um disco na vitrola. Tinham as conversas e tinham os silêncios”, lembra a atriz.

 

Cenário-instalação

Numa grande tela de projeção, são projetadas sequências aleatórias do material em vídeo captado por anos pelo cineasta Bruno Jorge. Remetendo a um depósito, o cenário da peça  é composto de papéis – infinitos esboços –, objetos como plantas vivas, uma vitrola, uma piscina de plástico, um antigo quadro desproporcionalmente grande –, materiais que entulham o espaço remetendo ao excesso de um processo que se recusa a encontrar uma forma-síntese, um sentido único, e opta então por preservar seus elementos na forma bruta, acomodando os resíduos desta longa experiência.

 

Trajetória do espetáculo

Conversas Com Meu Pai foi contemplado, em 2012, pelo edital da Secretaria Estadual de Cultura Proac de Pesquisa em Artes Cênicas e cumpriu residência na Oficina Cultural Oswald de Andrade realizando aberturas do trabalho em processo. Contemplado também pelo Edital Proac de Criação Literária em 2013 com a proposta de um livro-documentário. Ainda em 2013, foi selecionado pelo Edital de Audiovisual da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo para o desenvolvimento do roteiro de um longa-metragem. O trabalho estreou em abril de 2014 na Oficina Cultural Oswald de Andrade com ampla repercussão de público e mídia.

 

Foi convidado a integrar a programação do Festival Internacional de Londrina em 2014, realizou temporada no Rio de Janeiro no Espaço SESC e cumpriu mais dois meses de temporada no Centro Cultural São Paulo. Participou também do Feverestival em Campinas em 2015 e do Circuito Tusp pelas cidades de Bauru, Piracicaba, Ribeirão Preto e São Carlos. Em 2015, integrou a programação do Festival Internacional de São José do Rio Preto e fez parte do Circuito São Paulo de Cultura. Foi indicado ao prêmio Questão de crítica do Rio de Janeiro nas categorias dramaturgia e cenário e recebeu um dossiê especial na revista Sala Preta (ECA/USP), uma das mais importantes publicações acadêmicas do país.

 

O espetáculo foi contemplado pelo Edital Myriam Muniz da Funarte para circulação. Ainda em 2016, passou por Natal, João Pessoa, Recife, Caruaru e Maringá e ainda tem previsto para 2017 apresentações em Belo Horizonte.

 

Sinopse curta – Em uma velha caixa de sapatos, Janaina guarda uma infinidade de bilhetes que trazem frases escritas por Alair, seu pai, que sofreu uma traqueostomia e perdeu a capacidade da fala. Esse foi o ponto de partida de um work in process de quase sete anos que culminou na morte do pai e que deixa como herança um amontoado de formas, esboços e questões com as quais a atriz tenta lidar em cena.

 

Sobre Janaína Leite

Doutoranda no departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes, Janaina é atriz, diretora e dramaturgista e uma das fundadoras do premiado Grupo XIX de Teatro (APCA, SHELL, BRAVO, NASCENTE, entre outros), companhia existente desde 2001 que participou dos principais festivais do país e de inúmeros no exterior em países como França, Portugal, Cabo Verde, Inglaterra e Itália.

 

Concebeu o espetáculo Festa de Separação: Um Documentário Cênico e Conversas Com Meu Pai, consolidando sua pesquisa sobre autobiografia e documentário no teatro. Atualmente, é atriz e diretora do espetáculo Branco: O Cheiro do Lírio e do Formol criado com o apoio do edital Proac que estreou na MIT 2017.  Coordena os núcleos de estudo Feminino Abjeto (com apoio da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de são Paulo) e Memórias, Arquivos e (auto)biografias em parceria com Vanessa Macedo e apoiado pela Lei de Fomento à dança.

 

Sobre Alexandre Dal Farra

Dramaturgo, diretor e escritor, indicado e vencedor de diversos prêmios como Prêmio Questão de Crítica, Prêmio APCA, Prêmio Aplauso Brasil, Prêmio Governador do Estado de São Paulo e Prêmio Cooperativa de Teatro, foi vencedor do 25o Prêmio Shell de melhor Autor pelo espetáculo Mateus, 10 (2012). Seus textos foram apresentados em diversas cidades brasileiras, além de Alemanha e França. Lançou, em 2013, o seu primeiro romance, Manual da Destruição, pela editora Hedra, considerado pelo escritor Ricardo Lisias “uma das melhores obras da literatura brasileira recente”. Seu texto, Abnegação 1, indicado ao prêmio APCA de Melhor Texto, está em fase de tradução para publicação em Francês na editora Les Solitaires Intempestifs.

 

Ficha técnica:

CONVERSAS COM MEU PAI

Concepção e Interpretação: Janaina Leite. Texto: Alexandre Dal Farra. Direção e cenografia: Janaina Leite e Alexandre Dal Farra. Vídeos: Bruno Jorge. Iluminação: Wagner Antônio. Figurino: Melina Schleder. Direção de Palco: Michel Fogaça. Design Gráfico: Rodrigo Pereira. Duração: 65 minutos. Classificação etária: 14 anos.

 

Serviço:

OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro (próximo a estação Tiradentes do metrô). Informações (11) 3221-4704.

De 2 a 24 de junho – Sextas-feiras às 20h e sábados às 18h. Capacidade: 40 lugares. Ingressos: Grátis (retirada com uma hora de antecedência).

 

Oficina POÉTICAS AUTOFICCIONAIS NA ARTE CONTEMPORÂNEA.

De 10 à 17 de junho, sábados das 13h30 às 16h30.

Inscrições: Até 2 de junho.

Seleção: por ordem de inscrição.

Público alvo: atores, diretores e dramaturgos a partir de 18 anos

Capacidade: 25 vagas.

Gratuito.

Detalhes

Início:
junho 2, 2017
Final:
junho 24, 2017
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