Desenvolvidas por artistas negros e negras, as atividades também envolvem performances, intervenções, bate-papos, rodas de dança e aulas
Roda Gumboot e Vogue | Crédito: Kelson Barros
Entre os dias 3 de maio e 3 de junho, o Sesc Ipiranga realiza o Projeto Fricções com a temática Negritudes e uma programação composta por performances, intervenções, rodas de dança, bate-papos, aulas especiais e espetáculos. O projeto dialoga com questões sociais, de gênero e de sexualidade mesclando diversas linguagens artísticas.
Assuntos como objetificação e mercantilização do corpo da mulher negra, ancestralidade, resistência do candomblé, diversidade de estilos tradicionais e contemporâneos de danças de origens africanas e afro-americanas, construção social dos “semelhantes”, dos “outros” e das masculinidades pretas estão presentes nas atrações.
Com trabalhos desenvolvidos por artistas negras e negros das cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Macapá (AP) e Belo Horizonte (MG), a proposta do Projeto Fricções é que as vozes e os corpos afirmem poeticamente sua presença, mobilizando-se em seus lugares de fala e criando espaços de aproximação com lugares de escuta.
Performance Barganha | Crédito: Marcelo Baioto
Espetáculos
O primeiro espetáculo de dança é o “A-VÓS” da Cia Nave Gris Cênica. Trata-se de uma
homenagem aos ancestrais míticos (11 de maio, às 14h e às 21h, 12 de maio, às 21h e 13 de maio, às 18h).
Ana Flávia Cavalcanti realiza “Serviçal”. A artista convida os negros e negras presentes a contar suas histórias de trabalho, mesclando com os depoimentos colhidos durante a performance “A babá quer passear” (26 de maio, às 17h).
Luciane Ramos-Silva e Ana Beatriz Almeida apresentam “Olhos nas costas e um riso irônico no canto da boca” e “Sobre o sacrifício ritual”. Os trabalhos solos abordam as construções sociais que produzem “os semelhantes” e “os outros” (nos dias 1º e 2 de junho, às 21h).
O último espetáculo teatro é de teatro: “Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens”, com Jé Oliveira, do Coletivo Negro. A artista constrói uma relação íntima com o público por meio da palavra falada e cantada (3 de junho, às 18h).
Performances
A programação de performances tem início com duas propostas da artista Priscila Rezende. Ela realiza “Deformação”, que trata do eterno conflito entre o mundo exterior e o interior (5 de maio, às 17h). A ação “Barganha” conta com a presença da convidada Monica Lopes Galvão e promove uma reflexão sobre a mercantilização do corpo feminino (6 de maio, às 11h).
O Ewê Grupo de Pesquisa e Coletivo de Artes Visuais e Cultura Afro-brasileira apresenta a série de performances “Negro é Meu Corpo Ancestral”, “Negro é Meu Corpo Ancestral 2”, “Agô” e “Ewê”. Os artistas exploram os temas ancestralidade, memória social e arte Afro-Ameríndia Amapaense (12 de maio, às 19h e 13 de maio, às 16h).
Por fim, Ana Musidora faz a performance “Leite Derramado”. Usando agulhas, peles e linhas, a artista compõe um autorretrato, dialogando com o universo feminino a partir das amas de leite durante o período colonial no Brasil, eternizadas na figura da “Mãe Preta” (26 de maio, às 18h30).
Intervenções
As primeiras intervenções acontecem nos dias 5 e 6 de maio. Val Souza apresenta “Can you see it?”, trazendo a discussão sobre um corpo negro que rejeita o lugar de constante objetificação e magnetiza balas policias, olhares de reprovação e perversas palavras de racismo. A artista também propôs a instalação-jogo “A pergunta que não quer calar ou what is the question_game?”, que convida o público a responder questões sobre as situações que passaram na vida (às 15h do dia 5 e às 12h do dia 6).
Ana Flávia Cavalcanti realiza a intervenção “A babá quer passear”. Sentada em um carrinho de bebê, a artista convida o público a levá-la para um passeio, fazendo diversas perguntas para quem aceitar a proposta (26 de maio, às 13h).
Pedro Galiza apresenta “Acidentes”. Segundo ele, a palavra que dá nome à ação vem da escavação de um corpo que está atravessado pela instabilidade, colisão, errância e saturação (27 de maio, às 17h).
Rodas de dança
Durante a Virada Cultural, a programação traz três encontros de danças negras: no dia 19 de maio, às 19h30, acontece a “Roda: passinho e frevo/maracatu e outras tradições”, com Clássicos do Passinho e Humanação Orquestra Popular. Já no dia 20 de maio, às 13h, é a vez da “Roda: gumboot e vogue” com Gumboot Dance Brasil e House of Zion Brasil. Logo em seguida, às 14h30, está prevista a Roda: locking e mandingue, com Double-lock e Trupe benkady.
Bate-papos
Os bate-papos têm início com a palestra “A escravidão enquanto definidora da sociedade brasileira”, feita pelo sociólogo Jessé de Souza (3 de maio, às 20h). Buscando discutir sobre a construção do masculino, a Asili Coletiva propôs as rodas de conversa “Masculinidades Pretas: que menino preto eu fui?”, no dia 27 de maio, às 14h, e “Masculinidades Pretas: que homem preto eu quero ser?”, no dia 3 de junho, às 14h.
FRICÇÕES
Data: 3/5 a 3/6 de 2018
Local: Sesc Ipiranga
Endereço: Rua Bom Pastor, 822
Espetáculos
· A-VÓS – Cia Nave Gris Cênica
Uma dança-homenagem àqueles que nos precederam, aos pais de nossos pais e aos nossos ancestrais míticos. Este espetáculo faz parte do projeto A-VÓS contemplado pela 21ª Edição do Programa de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo.
Quando: 11/05, sexta, das 14h às 15h | 11 a 12/05, sexta e sábado, das 21h às 22h |
13/05, domingo, das 18h às 19h
Local: Teatro (200 lugares)
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: R$ 2º (inteira) | R$ 10 (meia entrada) | R$ 6 (credencial plena).
· Serviçal – Com Ana Flávia Cavalcanti
O solo de Ana Flavia Cavalcanti convida negros e negras presentes a contarem suas histórias de trabalho, mesclando depoimentos que ela colheu durante a performance da babá. O trabalho provoca uma discussão entre duas realidades muito distintas: ser um trabalhador negro e ser um trabalhador branco no Brasil.
Quando: 26/05, sábado, das 17h às 17h40
Local: Área de Convivência
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: Grátis
· Olhos nas costas e um riso irônico no canto da boca; Sobre o sacrifício ritual – Com Luciane Ramos-Silva e Ana Beatriz Almeida
Apresentação de dois trabalhos solos que tratam das construções sociais que produzem “os semelhantes” e “os outros”.
“Olhos nas costas e um riso irônico no canto da boca” , de Luciane Ramos-Silva, é uma espécie de travessia, num sentido atlântico e contra hegemônico, onde o corpo é a um só tempo lócus da diferença e da anunciação crítica. Entre imaginários, ficções e camadas de histórias, interroga as lógicas e relações que produzem “os semelhantes” e “os outros”.
“Sobre o sacrifício ritual” , de Ana Beatriz Almeida, é uma performance que questiona a construção da identidade nacional através do símbolo da passista e suas negociações entre a sociedade, o corpo da mulher negra, espiritualidade e o carnaval, num paralelo com a (r)existência cultural do candomblé, ameaçado recentemente pelas propostas de lei que proibiam o sacrifício ritual.
Quando: 01 e 02/06, sexta e sábado, das 21h às 23h
Local: Teatro (50 lugares)
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Quanto: R$ 20 (inteira) | R$ 10 (meia entrada) | R$ 6 (credencial plena).
· Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens – Com Jé Oliveira (Coletivo Negro)
A obra busca uma relação íntima com o público por meio da palavra falada e cantada e, para isso, utiliza-se da construção poética da presença cênica. Paisagens sonoras e imagéticas se materializam por meio do ato de contar, expor, refletir e dialetizar a experiência de ser negro na urbanidade. A peça é também tributária ao legado dos Racionais Mc’s.
Quando: 03/06, domingo, das 18h às 19h20
Local: Teatro (200 lugares)
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
Quanto: R$ 20 inteira | R$ 10 meia entrada | R$ 6 credencial plena
Performances
· Deformação – Com Priscila Rezende
Quando as imagens que nos cercam cotidianamente não se assemelham aquela que nos é refletida frente a frente, o externo e interno se debatem em um conflito constante, de forma ora silenciosa e inconsciente, ora caótica, agressiva e dolorosa.
Quando: 05/05, sábado, das 17h às 18h
Local: Área de Convivência
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Barganha – Com Priscila Rezende e Monica Lopes Galvão (artista convidada)
O corpo da artista é mercantilizado em uma caminhada em espaço aberto, através de etiquetas de preços que vão gradativamente sendo reduzidos. Em contraponto à essa comercialização, questionamentos são levantados acerca da objetificação do corpo feminino negro em frases pronunciadas pelo(a) anunciante.
Quando: 06/05, domingo, das 11h às 12h
Local: Rua dos Patriotas
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Ancestralidade, Memória Social, Arte Afro-Ameríndia Amapaense: performances – Com Ewê Grupo de Pesquisa e Coletivo de Artes Visuais e Cultura Afro-brasileira
Série de 4 performances: “Negro é Meu Corpo Ancestral”, “Negro é Meu Corpo Ancestral 2”, “Agô” e “Ewê”. Com Claudeth Nascimento, Valéria Ramos e o Oghan Fernando Baena.
Quando: 12/05, sábado, das 19h às 21h | 13/05, domingo, das 16h às 18h
Local: Sala 10
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Leite Derramado – Com Ana Musidora
Com o uso de agulhas, peles e linhas a artista compõe um auto-retrato, destinado à reflexão do corpo da mulher negra na cena contemporânea e suas estrategias para construção de uma linguagem artística em movimento.
O trabalho dialoga com o universo feminino a partir das amas de leite durante o período colonial no Brasil, eternizadas na figura da “Mãe Preta”.
Quando: 26/05, sábado, das 18h30 às 19h30
Local: Espaço de Tecnologias e Artes
Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos
Quanto: Grátis
Intervenções
· Can you see it? – Com Val Souza
O espetáculo traz como discussão um corpo negro que rejeita o lugar de constante objetificação e magnetiza balas policias, olhares de reprovação e perversas palavras de racismo. Tendo seu corpo como motriz criadora e cenário principal, Val Souza desenvolve as potencialidades periféricas acompanhada por trilha sonora de Tico (Pró estúdio skul índigo), fundamentada no funk e no pagode baiano, populares principalmente nas extremidades das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.
Quando: 05/05, sábado, das 15h às 16h | 06/05, domingo, das 12h às 13h
Local: Diversos espaços da unidade
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· A pergunta que não quer calar ou what is the question?_game – Instalação-jogo por Val Souza
Trinta perguntas impressas em lona compões um jogo de tabuleiro. As pessoas respondem a questões sobre situações que passaram na vida. Dependendo da resposta, andam para frente ou para trás.
Quando: 05/05, sábado, das 16h às 17h | 06 a 27/05, terça a sexta, das 10h às 22h |
06 a 27/05, sábados, das 10h às 21h30 | 06 a 27/05, domingos, das 10h às 18h30
Local: Praça Cinza
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· A babá quer passear – Com Ana Flávia Cavalcanti
Um carrinho de bebê estacionado e um convite feito: A Babá Quer Passear. Durante o passeio algumas perguntas são feitas para
quem decidir empurrar o carrinho.
Quando: 26/05, sábado, das 13h às 16h
Local: Diversos Espaços da Unidade
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Acidentes – Com Pedro Galiza
Acidentes é uma palavra-chave que vem da escavação de um corpo que está atravessado pela instabilidade, colisão, errância e saturação. Sua origem reporta a um corpo forjado pela topografia dos desvios, dos aclives e declives de uma identidade suburbana.
Quando: 27/05, domingo, das 17h às 18h
Local: Área de Convivência
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
Rodas
· Roda: passinho e tradições populares brasileiras – Com Clássicos do Passinho e Orquestra HUMANAÇÃO Popular
“Os clássicos do passinho” é uma plataforma artística voltada para a criação de projetos em torno da dança e da musica, a partir de experiências criativas com dançarinos do Passinho e imersões nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. A pesquisa visa romper as fronteiras de tensão que separam o centro e a favela. A estética de rua e dos bailes onde os passos e o gestual do passinho foram criados propiciou o surgimento desta intervenção artística e urbana, um desdobramento do ritmo em uma competição de passos e beats do funk carioca. Através das batidas, cada dançarino cria movimentos com a intenção de se sobrepor ao outro em batalhas e duelos. A dança possui características e movimentos do frevo, capoeira, samba e break, assim como da mímica do kuduro e do contorcionismo.
Quando: 19/05, sábado, das 19h30 às 21h
Local: Quintal
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Roda: gumboot e vogue – Com Gumboot Dance Brasil e House of Zion Brasil
O Gumboot surgiu em meados do século XIX na África do Sul no período em que ocorriam as descobertas de minas de diamante e de ouro. Por conta dos longos anos de colonização, a segregação racial era essencialmente informal, apesar de algumas leis terem sido promulgadas para controlar o estabelecimento e a livre circulação de pessoas nativas. Muitos dos povos negros segregados em tribos eram enviados às minas como mão de obra local. Por conta das diversas línguas, os trabalhadores encontraram um formato de se comunicar sem precisar do idioma: o batuque das botas, cantos e gritos.
Quando: 20/05, domingo, das 13h às 14h30
Local: Quintal
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Roda: locking e mandingue – Com Double-Lock E Trupe Benkady
Locking é um estilo de dança funk e dança de rua associado ao hip-hop, criado no final dos anos 1960, em Los Angeles (EUA). O nome é baseado no conceito de “bloquear” ou “trancar” os movimentos. A dança baseia-se em movimentos rápidos e distintos de braços e mãos combinados com movimentos mais relaxados de quadris e pernas. Os movimentos são geralmente amplos e sincronizados com a música.
Quando: 20/05, domingo, das 14h30 às 16h
Local: Quintal
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
Bate-papos
· A escravidão enquanto definidora da sociedade brasileira – Com Jessé Souza
Palestra de abertura do tema Negritudes dentro do Projeto Fricções. Com o Professor Jessé José Freire de Souza.
Graduado em Direito pela UnB (1981), mestrado em Sociologia pela UnB (1986), doutorado em Sociologia pela Karl Ruprecht Universität Heidelberg, Alemanha (1991), pós doutorado em filosofia e psicanálise na New School for Social research de Nova Iorque, EUA (1994-1995) e livre docência em sociologia pela Universität Flensburg, Alemanha (2006). Professor titular da UFABC (Universidade Federal do ABC). Recentemente publicou os livros “A tolice da inteligência brasileira”, em 2015, e “A radiografia do golpe” em 2016, ambos pela editora Leya. Em 2017 publicou “Inequality in capitalist Soceties”, pela editora Routledge, em co-autoria com Boike Rehbein e Surinder Jodkha e o livro “A elite do atraso: da escravidão a lava jato”, Leya, 2017.
Quando: 03/05, quinta, das 20h às 22h
Local: Teatro (200 lugares)
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: Grátis – Retirada de ingressos 1 hora antes na bilheteria da unidade
· Masculinidades pretas: que menino preto eu fui? – Com Asili Coletiva
A partir da pergunta, a roda terá início com as falas de quatro convidados, um homem trans, um homem pansexual, um homem gay, um homem hétero e uma convidada mulher trans. E em seguida abriremos para as falas do público.
Quando: 27/05, domingo, das 14h às 17h
Local: Área de Convivência
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
· Masculinidades Pretas: que homem preto eu quero ser? – Com Asili Coletiva
A partir da pergunta, a roda terá início com as falas de quatro convidados, um homem trans, um homem pansexual, um homem gay, um homem hétero e uma convidada mulher trans. E em seguida abriremos para as falas do público. Ao final de cada roda, os homens serão convidados a responder às duas perguntas em um registro escrito para a Asili Coletiva.
Quando: 03/06, domingo, das 14h às 17h
Local: Área de Convivência
Classificação: Livre
Quanto: Grátis
Aula aberta
· Vogue – Com Felix Pimenta
Aula aberta de vogue ou voguing, dança performática que surgiu em meados dos anos 70 e que faz parte da comunidade Ballroom negra e latina de Nova York. Fundamentada em várias formas de vogue, se utiliza da performatividade de gênero, sexualidade, figuras, elementos e referências afrodiaspóricas e subjetividades radicais.
Quando: 02/06, sábado, das 14h às 16h
Local: Sala 2
Classificação: Livre
Quanto: Grátis