O paranaense Arrigo Barnabé assina a música do espetáculo, que tem figurinos do estilista mineiro João Pimenta e iluminação do carioca Renato Machado
Referência na pesquisa de linguagem do teatro de animação – dentro e fora do Brasil –, criador de festivais e pioneiro em diferentes técnicas teatrais no país, o Grupo Sobrevento completou recentemente três décadas de estrada. E esteve, em 2017, em importantes turnês pela França e China, quando apresentou parte de seu repertório no festival Mondial des Théâtres de Marionnettes, em Charleville-Mézières, e também nas cidades de Hangzhou, Kushan e Shanghai.
Agora, em 2018, o grupo volta a se apresentar em São Paulo a partir do dia 21 de abril, com seu mais recente espetáculo voltado ao público adulto: Escombros. A peça trata da destruição, da ruína de pessoas, de relacionamentos, de valores, de um país e do mundo. Pessoas que perderam tudo vagam sobre escombros e tentam, apesar de toda a desesperança que paira no ar, compreender como tudo se perdeu sem que se dessem conta. E buscam recompor um mundo que desabou e, portanto, não existe mais.
Entre as ruínas de uma casa, objetos como portas, janelas, cadeiras, mesas, uma penteadeira e muitas xícaras e bules de café falam do desabamento de um país e tudo o que foi demolido com ele ou que o fez desmoronar. Cenas muito simples e cotidianas, diálogos desamarrados, coreografias segmentadas revelam o vazio e a desconexão das figuras que transitam sobre uma ausência de memórias e perspectivas. Os objetos são usados em tamanho natural, ao contrário das miniaturas que abundam no Teatro de Objetos, e somente como os objetos que são, sem sobrepor-lhes metáforas. Uma cenografia de terra seca, escombros e ruínas que se estendem aos atores e aos objetos, cobertos de barro seco e figurinos endurecidos, secos e sujos completam o quadro, sob uma luz em raios e envolto em uma música tensa e em uma canção que amarra todas as cenas do espetáculo.
“A destruição do nosso entorno, a ruína de nossas construções, de nossa casa, de nossos sonhos termina por contaminar as nossas relações com os outros e, por fim, entranha-se em cada um de nós, penetrando-nos os ossos e a alma”, diz Sandra Vargas, que dirige o espetáculo ao lado de Luiz André Cherubini.
A pesquisa teve como ponto de partida a exploração da linguagem do Teatro de Objetos e a memória como mote principal. A montagem põe lado a lado cenas de uma dramaturgia intimista e delicada, de diálogos simples e diretos, e cenas sem palavras, coreografadas, revelando a humanidade possível em uma atmosfera de vazio e desolação.
A música do paranaense Arrigo Barnabé e uma canção do carioca Geraldo Roca em parceria com Rodrigo Sater, na voz do cantor sul-mato-grossense Márcio de Camillo, embalam esta montagem paulistana, que conta, ainda, com figurinos do estilista mineiro João Pimenta e iluminação do carioca Renato Machado, fazendo de Escombros um espetáculo que representa muitos cantos do país em que vivemos.
Figura 2 – Cena de ‘Escombros’ Foto de Marco Aurelio Olimpio
O TEATRO DE OBJETOS DO SOBREVENTO
O Sobrevento vem centrando sua atenção no Teatro de Objetos, criando novas abordagens e rumos para esta linguagem teatral, a ponto de ter integrado a programação “O que é o Teatro de Objetos em 2017?”, no maior Festival de Marionetes do mundo, na França, sob curadoria da belga Agnès Limbos, uma das mais renomadas artistas do gênero.
O Teatro de Objetos é a vertente mais moderna do Teatro de Animação. Baseia-se no uso de objetos prontos no lugar de bonecos. Para o Sobrevento, que é uma das companhias especialistas brasileiras nesta linguagem, o Teatro de Objetos é particularmente provocador quando apresenta um repertório pessoal, autobiográfico, íntimo e autoral do ator, que se expõe através dos objetos. O grande potencial do Teatro de Objetos não está nas suas particularidades técnicas, mas, sim, naquilo que é capaz de despertar de mais profundo e revelador daquele artista, por meio de seus objetos. Como disse Christian Carrignon, um dos precursores da linguagem no mundo, “o Teatro de Objetos pertence ao nosso tempo e à nossa sociedade e sua vocação primeira é a de tocar nossa intimidade, de interrogar o enigma que nós somos aos olhos dos outros.”
O Sobrevento tem se debruçado sobre o Teatro de Objetos nos últimos oito anos, utilizando-o em suas mais recentes montagens. Foi responsável por trazer ao Brasil os seus principais representantes. Organizou turnês, festivais, debates, mesas-redondas e oficinas sobre o tema. Deu assessoria técnica em montagens de outras companhias nacionais interessadas nesta pesquisa. Responde pela curadoria do FITO – Festival Internacional de Teatro de Objetos, realizado em várias capitais brasileiras.
O Teatro de Objetos que interessa ao Sobrevento e que ele vem pesquisando profundamente é pouquíssimo difundido e conhecido no Brasil e na América Latina. O avanço desta pesquisa tem chamado a atenção de muitos artistas de diferentes áreas, ultrapassando os limites do Teatro de Animação. As oficinas coordenadas ou promovidas pelo Sobrevento têm atraído artistas e pesquisadores de algumas das principais companhias e instituições de ensino de todo o país e de países vizinhos. Para todas atividades, há um número muito maior de inscritos que o número de vagas oferecidas. O Sobrevento acredita que esse enorme – e crescente – interesse esteja ligado à abordagem que vem fazendo do Teatro de Objetos e as novas possibilidades expressivas que têm derivado desse processo. Um Teatro de Objetos cuja força não está na manipulação, mas na memória que suscita, que é aquilo a que o objeto remete de mais poético, profundo e simbólico, para o ator e para o espectador. O Teatro de Objetos desafia o ator a ser também dramaturgo. Isso abre um leque enorme de possibilidades dramatúrgicas, que podem renovar o Teatro de Animação para adultos. E o Teatro, de modo geral. É notável o interesse manifestado por núcleos de Teatro por esta linguagem, que têm convidado o Sobrevento a ministrar oficinas internas. O resultado é a disseminação do Teatro de Objetos em muitos espetáculos de grupos que não são de Teatro de Bonecos, em São Paulo e em outras cidades brasileiras.
Formado em 1986, o Grupo Sobrevento é uma companhia profissional de teatro que mantém um repertório de espetáculos e que se dedica à pesquisa, teórica e prática, da animação de bonecos, formas e objetos. Desde sua fundação, mantém um trabalho estável e ininterrupto e tem-se apresentado em mais de uma centena de cidades de 25 estados brasileiros. O Sobrevento esteve, também, no Peru (1988), Chile (1996, 2002, 2009, 2010 e 2017), Espanha (1997, 1999, 2000, 2001, 2004, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 e 2014), Colômbia (1998 e 2002), Escócia (2000), Irlanda (2000), Argentina (2001), Angola (2004), Irã (2010), México (2010), Suécia (2011), Estônia (2011), Inglaterra (2013), França (2017) e China (2017), representando o Brasil em alguns dos mais importantes Festivais Internacionais de Teatro e de Teatro de Bonecos.
Os espetáculos de seu repertorio são muito diferentes entre si, quer seja na temática, quer seja na forma, na técnica de animação empregada, no espaço a que se destina ou ao público a que se dirige. Muitas vezes premiado, o Sobrevento dedica-se ao Teatro de Objetos, ao Teatro de Animação, ao Teatro adulto contemporâneo, ao Teatro para a Infância e a Juventude e ao Teatro para Bebês.
Além das apresentações de seus espetáculos, o Sobrevento e seus integrantes desenvolvem diversas atividades no campo do Teatro de Bonecos e de Animação, como a realização de cursos, oficinas, palestras e mesas-redondas, tanto no Brasil como no exterior. Realizou, também, duas Mostras Internacionais de Teatro de Animação no Rio de Janeiro, em 1992 e em 1995, e foi diretor artístico do Primeiro Festival Internacional de Teatro do Rio de Janeiro – Rio Cena Contemporânea, em junho de 1996 e curador do Festival Sesi Bonecos Do Mundo, realizado em Brasília (2005), em São Paulo (2006), em Manaus (2007), em Recife (2008) e em Brasília (2009), do Festival Sesi Bonecos do Brasil, realizado em diversas cidades das regiões Sudeste e Sul, entre agosto e setembro de 2006. Também fora dos Festivais que organizou, foi responsável pela vinda e pela circulação pelo país de diversas companhias estrangeiras de Teatro de Bonecos. Atualmente é curador do Festival Internacional de Teatro de Objetos – FITO realizado em diferentes capitais do país, desde 2009. Em 2003, 2004, 2006, 2008, 2012, 2014 e 2016, foi apoiado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Em 2010, foi patrocinado, por dois anos, pela Petrobras.
Os últimos espetáculos do Sobrevento foram Mozart Moments (1991), Beckett (1992), O Theatro de Brinquedo (1993), Ubu! (1996), Cadê o meu Herói? (1998), O Anjo e a Princesa (1999), Brasil para Brasileiro Ver (1999), Submundo (2002), O Cabaré dos Quase- Vivos (2006), O Copo de Leite (2007), Orlando Furioso (2008), Meu Jardim (2010), Bailarina (2010), A Cortina da Babá (2011), São Manuel Bueno, Mártir (2013), Sala de Estar (2013) Eu Tenho uma História (2014), Só (2015), Terra (2016) e Escombros (2017). Dirigido, ainda hoje, por Luiz André Cherubini e Sandra Vargas, seus fundadores, o Grupo Sobrevento é reconhecido, nacional e internacionalmente, como um dos maiores especialistas brasileiros em Teatro de Animação e uma das principais companhias estáveis de Teatro do Brasil, tendo realizado uma média de 130 apresentações por ano ao longo de 30 anos, aproximadamente uma apresentação a cada 3 dias, por nada menos que 30 anos.
Apesar de sua longa carreira, somente em junho de 2009 abriu a sua primeira sala pública, o seu primeiro espaço. O Espaço Sobrevento é o único espaço da cidade de São Paulo dedicado ao Teatro de Animação. Com uma programação sempre gratuita, recebeu vinte e cinco de alguns dos maiores nomes do Teatro de Animação mundial, de diferentes países.
Ficha técnica
Criação: Grupo Sobrevento/ Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini/ Dramaturgia: Sandra Vargas/ Elenco: Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Maurício Santana, Sueli Andrade, Liana Yuri e Daniel Viana/ Cenografia: Luiz André Cherubini e Dalmir Rogério/ Adereços: Sueli Andrade e Liana Yuri/ Iluminação: Renato Machado/ Figurino: João Pimenta/ Música original: Arrigo Barnabé/ Canção final composta por Geraldo Roca e interpretada por Márcio de Camillo/ Assessoria de imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto
SERVIÇO
ESCOMBROS
De 21 de abril a 27 de maio. Sábados e domingos, às 20h. Entrada franca. Não recomendado para menores de 16 anos.
Espaço Sobrevento – Rua Coronel Albino Bairão, 42 – próx. Metrô Bresser-Mooca e Viaduto Bresser. Tel. 11-3399-3589.
70 lugares. Reservas: [email protected]
Realizado pela 31a. edição do PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO AO TEATRO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO