Fome.doc no Galpão do Folias/ SP

Por Paulo Varella - outubro 4, 2017
104 0
Pinterest LinkedIn

Com roteiro e direção geral de Fernando Kinas, a Kiwi Companhia de Teatro reestreia o espetáculo, Fome.doc dia 06 de outubro de 2017, no Galpão do Folias (Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília). A temporada vai até 29 de outubro e tem apoio da Lei de Fomento para a Cidade de São Paulo.

Fome.doc é um trabalho cênico inspirado nas técnicas e princípios do teatro documentário que discute, sob diferentes ângulos, a fome no mundo. Da fisiologia humana à Glauber Rocha, de Oscar Wilde à João Cabral, da Palestina ao Sudão do Sul, de Beethoven ao rock, do agronegócio ao MST, a montagem apresenta um panorama de processos sociais que revelam a desumanização no mundo da mercadoria. Para assim vislumbrar o seu possível contrário.

Encenação e projeto

Alguns acontecimentos são capazes de redefinir a experiência humana. A densidade e a violência a eles relacionados marcam de forma definitiva a história. Quatro destes acontecimentos compõem a coluna vertebral da montagem: o extermínio de indígenas no continente americano, os três séculos e meio de escravidão no Brasil, o holocausto judeu na Europa e as novas formas de colonialismo no Oriente Médio, América Latina e África. Associados a eles, discutimos diversos aspectos relacionados à terra e a produção de alimentos (soberania alimentar, agroecologia, concentração fundiária, agronegócio), além de alargar a discussão para o campo poético através de referências à obra de Franz Kafka, Shakespeare, Beethoven, João Cabral de Melo Neto, Mahmud Darwich, Graciliano Ramos e Carolina Maria de Jesus, entre outros. Um rico material iconográfico e audiovisual foi pesquisado e incorporado através de releituras, recriações e recontextualizações.

O trabalho, portanto, é marcado tanto pelo signo da mais brutal das violências, aquela que subtrai o indispensável à sobrevivência, quanto pela necessidade de dar sentido à vida. Assim, ao documentar a fome – inspirado pelas contribuições históricas e contemporâneas do teatro documentário – o projeto apresenta perspectivas e formas diversas. Trata-se da fome que extermina – e o século 21 continua fornecendo muitos exemplos -, e também da fome que, diante das misérias, aponta para a luta por dignidade, beleza, verdade e justiça. As estratégias cênicas, que incluem música ao vivo e uma curta exibição de imagens, vão do registro claramente narrativo à insinuação dramática, passando pela farsa e pelo burlesco.

Sobre alguns autores e autoras utilizados em FOME.DOC

A pesquisa empreendida pela Kiwi Companhia de Teatro em Fome.doc compreende a leitura de autores e autoras das mais diversas nacionalidades e vertentes. Um dos escritores sobre o qual o grupo se debruçou foi o frade dominicano Bartolomé de las Casas, que registrou em 1542 (a primeira publicação data de 1552) uma das mais contundentes denúncias sobre as violências cometidas pelos conquistadores europeus contra os indígenas do chamado novo mundo. Brevíssima relação da destruição das Índias é, ainda hoje, um documento incontornável para compreender o processo de invasão e colonização das américas.

Outro autor importante nesse processo de investigação foi o escritor italiano Primo Levi (1919-1989), sobrevivente de Auschwitz, que publicou em 1947 um dos mais importantes relatos sobre a vida nos campos de concentração e o extermínio de judeus, o livro É isto um homem?. A obra é também uma reflexão poética e filosófica sobre a desumanização e a sobrevivência em situações extremas. Poucos anos depois, em 1950, o martiniquês Aimé Césaire (1913-2008) publicou Discurso sobre o colonialismo. No texto, o escritor denuncia a violência europeia que se escondia sob o manto da “civilização ocidental”.

Do mesmo modo, fizeram parte do material de trabalho, textos da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), conhecida internacionalmente pela obra Quarto de despejo – Diário de uma favelada (publicada em 1960), e do poeta Mahmud Darwich, morto em 2008, considerado o poeta nacional da Palestina.

Vários outros autores e autoras serviram de inspiração direta para a montagem, entre eles: Franz Kafka (Um artista da fome), William Shakespeare (prefácio de Henrique V), João Cabral de Melo Neto (poemas de O cão sem plumas).

Também serviu como material dramatúrgico para a montagem as “Novas Cartas Políticas de Erasmo”, missivas endereçadas ao imperador Pedro II e publicadas anonimamente na imprensa carioca na década de 1860. O autor era José de Alencar, conhecido romancista que defendia posições a favor da manutenção da escravidão no Brasil.

Ficha Técnica

Roteiro e direção geral: Fernando Kinas

Elenco: Fernanda Azevedo e Renan Rovida

Direção e execução musical: Eduardo Contrera

Iluminação: Aline Santini

Cenário: Márcia Moon

Figurino: Madalena Machado

Assistência e operação de luz e som: Clébio Souza (Dedê)

Edição de imagens: Luiz Gustavo Cruz

Confecção de marionetes: Celso Ohi

Preparação vocal: Roberto Moura

Vozes gravadas: Marilza Batista e Félix Sánchez

Programação visual: Camila Lisboa (Casa 36)

Fotografia: Filipe Vianna

Cenotécnico: Lázaro Batista Ferreira

Produção: Luiz Nunes e Daniela Embón

Divulgação: Canal Aberto Assessoria de Imprensa

Realização: Kiwi Companhia de Teatro

SERVIÇO

Reestreia: 06 de outubro de 2017 (sexta-feira), 21h

Temporada: de 06 a 29 de outubro de 2017

Quintas, sextas e sábados – 21h

Domingos – 20h

Local: Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília (metrô Santa Cecília)

Tel: 3361-2223

Ingressos: 10,00 (inteira) / 5,00 (meia)

Site de vendas Eventbrite: http://galpaodofolias.eventbrite.com

Duração: 130 min

Classificação: 14 anos

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

Comentários

Please enter your comment!
Please enter your name here