LINGUAGENS URBANAS, A ARTE QUE VEM DA RUA
Parede externa da Galeria servirá de suporte para obra coletiva, interferindo na paisagem da cidade.
No dia 25 de janeiro a Galeria Ricardo Von Brusky e Cacá Nóbrega apresentam a exposição LINGUAGENS URBANAS- A ARTE QUE VEM DA RUA, uma coletiva com quatro expoentes da Street Art reconhecidos internacionalmente: FEFE Tavalera, Celso GITAHY, Alexandre ORION e ZEZÃO.
A data de abertura, aniversário de São Paulo, faz uma homenagem ao suporte da manifestação artística de cada um dos artistas, que nasceram na cidade. Muros, esgotos, subterrâneos, túneis e vielas servem de inspiração para os artistas, cada um com sua linguagem própria, criarem as suas obras, utilizando as mais variadas técnicas.
Além das obras expostas, os artistas irão criar uma obra inédita e coletiva na grande parede externa da Galeria, dando acesso fácil à todos que passam pela Rua Estados Unidos, no Jardim América, possam apreciar a Arte, desta vez levada para fora da Galeria Ricardo Von Brusky.
Nascida em 1979, FEFE TAVALERA tem bacharelado em artes pláticas pela FAAP. Foi criada em um meio nativo do México e no Brasil, na cidade de São Paulo, onde vive. As pinturas de Monstros de Fefe Talavera são metáforas de emoções fortes do subconsciente humano, como a raiva o medo, ou sonhos ou desejos. Os animais fantásticos e coloridos que ela conecta com o “lado negro” do seu eu interior representam as raizes culturais da artista, bem como a energia primária e poderosa de seu trabalho executado nas ruas de várias cidades em todo o mundo. A artista já expôs e participou de projetos individuas ou em grupo em São Paulo, Moscou, Los Angeles, Nova York, Washington DC, Berlim, Lisboa, Ottawa, Viena, Madrid, barcelona, Bilbao, Sevilha, Basiléia, Milão e Amsterdã.
Artista plástico nascido e residente na cidade de São Paulo, gradiado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, com Mestrado em Arte Contemporânea pela Universidade Camilo Castelo Branco. Iniciou sua carreira na década de 80 e nos anos 90 criou o projeto “O Grafitti é Legal”, com o objetivo de transmitir conhecimentos aos estudantes da rede pública. Seu universo de imagens é composto por ícones de consumo misturados com o homem e a natureza, criando metáforas visuais com nuances críticas, irônicas e bem-humoradas.Participou de várias exposições no Brasil e em países como França, Hungria, Austrália, Alemanha, estados Unidos entre outros. Além de outras publicações é autor do livro “O que é Grafitti” da coleção primeiros passos da Editora Brasiliense. Atualmente, além de trabalhar com galerias de arte, desde a década de 1980 utiliza o espaço público como suporte para suas obras. Vive e trabalha em São Paulo.
Nasceu em 1978 e é artista multimídia. Sua atividade artística teve início em 1992 sob influência da cultura urbana e do universo do grafite. Em pouco tempo Orion se destacou do movimento do qual fazia parte e passou a interagir com a cidade de uma maneira muito singular. Nas palavras do próprio artista, “a cidade é carregada de significados”.
È exatamente com esses significados, muitas vezes sutis, que o artista trabalha, pesquisando técnicas e explorando o que a cidade oculta, interagindo com os passantes, criando embates com o poder público, tornando-os parte de sua obra artística.
Orion realizou exposições individuais nas principais capitais do mundo. No Brasil suas obras foram exibidas em espaços como centro Cultural Banco do Brasil, Itaú Cultural, Centro Cultural da Caixa e Pinacoteca do estado de São Paulo. Tem entrevistas e textos publicados em mais de 10 linguas, nos principais veículos de imprensa do mundo e obras publicadas pelas editoras Taschen, Phaidon, Die Gestalten entre muitas outras. Realixou exposições e possui obras nos acervos da Foundation Cartier, em Paris, Pinacoteca do Estado, em São Paulo, do centrum Beeldende Kunst, de Rotterdam, Deustche Bank e Mad Museum, ambos em Nova York entre outras instituições.
José Augusto Amaro Handa, o ZEZÃO, começou na década de 90 a conquistar publico e critica com os seus grafittis em espaços subterrâneos da cidade de São Paulo. Inspirado e motivado pela arte de Jean-Michel Basquiat, trabalhou em esgotos retirando objetos cotidianos do lixo e da sucata, reformando e montando-os de modo diferente e lhes dando cor, criando-lhes assim uma nova identidade Desse modo, atraiu a atenção para paisagens urbanas insólitas, das quais muita gente nem quer saber. Assim ele chama a atenção para uma abordagem crítica dos problemas da grande cidade moderna, estimulando também debates sobre sustentabilidade e reciclagem.
Zezão já expôs no Rio de Janeiro, São Paulo Brighton, Florença, Frankfurt, Hamburgo, Londres, Los Angeles, Nova York, Paris, Praga, Wuppertal, São Francisco, etc. Suas pinturas também ornam muros, paredes de esgotos e viadutos por todo o mundo.
Arte que vem da rua
José Roberto Teixeira Leite
Fiel ao programa que se impôs desde a inauguração – oferecer a visitantes, amadores e colecionadores de arte em geral, sem preconceitos nem exclusividades, manifestações artísticas que se destaquem pela qualidade e invenção -, a Galeria de Arte Ricardo von Brüsky e Cacá Nóbrega hoje orgulhosamente apresenta a obra de quatro importantes artistas, cada qual articulando linguagem própria e todos com largo tirocínio e não menor reconhecimento – inclusive a nível internacional -, não fossem eles figuras exponenciais da Street Art, tendência da arte ocidental que, avessa a meios expressivos, gêneros e técnicas tradicionais, utiliza muros, paredões, túneis, viadutos, desvãos, córregos, becos escusos e prédios abandonados, ruínas, veículos e, em poucas palavras, a Cidade em todos os seus meandros e sob os mais diversos ângulos, como suporte para expressar emoções, sentimentos, anseios e frustrações, para isso fazendo uso das mais variadas técnicas.
Esta é uma exposição por todos os motivos oportuna, pois acontece no momento em que as vanguardas artísticas parecem próximas do esgotamento, e em que se revelam inócuas todas essas estéticas do pós-pós que ainda teimam em dominar nossas artes visuais, hoje reduzidas, salvo raríssimas exceções, a um mero jogo de propostas repetitivas e vazias de significado ou sentido. Na verdade, talvez resida nessa arte que vem da rua aquela sabedoria que propõe a redenção da Terra pela nudeza imensa da simplicidade do saber popular e natural de que tratou Bené Fonteles em 2001, no manifesto “Antes arte do que tarde”, no qual entre tantas outras coisas que levam a pensar, ele se rebela contra “mais um cd sem amor à música, mais um teatro absurdo sem serviço à consciência planetária ou mais um balé para dançar narciso”, e indaga:
– Que espécie de seres são estes que deixam-se guiar mais por teorias estéticas pensadas na academia do que por suas intuições e vivências solidárias e responsáveis com o povo do seu país, a Natureza e a universalidade do planeta?
Pois bem: são de outra espécie muito diferente os artistas que aqui hoje expõem, todos nascidos e ativos em São Paulo – não fosse essa megalópole uma das mecas da Street Art mundial. São eles Fefê (Fernanda Salinas Talavera), Zezão (José Augusto Amaro Handa), Órion (Alexandre Órion) e Celso (Celso Gitahy).
Dois dos quatro expositores – Fefê e Celso – passaram por aprendizagem artística regular, ela na FAAP, ele na Faculdade de Belas Artes de São Paulo: um e outro fazem questão no entanto de deixar bem claro, nisso iguais aos dois outros expositores, que tudo quanto de fato aprenderam e buscam expressar foram encontrar na rua, adveio-lhes do tremendo choque sentido ante a realidade brutal que a cidade grande ofereceu a seus olhos, do impacto que lhes causaram os contrastes sociais, da perturbadora percepção de cenários e temas que academia alguma seria capaz sequer de imaginar.
Não fosse filha de mexicanos, pelo mundo de ideias de Fefê perpassam dragões e monstros alados, animais de remotas mitologias saídos de sonhos e materializados numa profusão de formas e cores, sem falar nas cabeças separadas dos corpos, quem sabe em algum ritual primitivo: em tais momentos, é como se um demônio azteca a tomasse pela mão. Mas a artista sabe mesclar esse fabulário ancestral a elementos da cultura urbana brasileira, e o resultado é um convite ao espectador para que mergulhe num mundo regido por forças atávicas e pelos pulsares da cidade, sem que em nenhum momento se altere o elevado nível artístico em que se desenvolve toda a sua produção.
Celso, dos primeiros a adotar a arte de rua no Brasil, ainda na década de 1980, desde então vem dando prioridade ao estêncil para expressar um rico vocabulário plástico, dominado por tv-nautas e outros seres híbridos – corpos humanos ou de cães, cobras, tigres, golfinhos e de outros animais, cujas cabeças foram substituídas por carros, monitores de televisão, motores e todo tipo de maquinária. É esse o modo que ele encontrou para denunciar o Homem-Máquina, obcecado pela parafernália mecânica que hoje tem a seu dispor, e que pensa dominar, quando em verdade é por ela dominado. Mas de várias outras técnicas serve-se Celso Gitahy, que não hesitou por exemplo em transformar um velho fusca em ambulância, em cujas janelas são projetadas bulas de remédio.
Para o veterano escriba das artes que assina o presente texto, e que (para citar Pessoa), ao longo de décadas já “viu como um danado” , a obra de Alexandre Órion é a prova cabal de que ainda lhe resta muito por ver. Surpreendeu-o, de fato, ver alguém que emprega como material artístico a própria poluição da cidade, e que inventou a polugrafia, técnica que utiliza a poluição causada ao meio ambiente pelos escapamentos dos caminhões para criar um novo tipo de gravura. Foi desbastando a espessa camada de fuligem acumulada ao longo do tempo nas paredes dos tuneis paulistanos que Órion criou “Ossário”, macabro amontoado de caveiras cujas órbitas vazias parecem fitar-nos, ou então “Memo”, uma assembleia de espectros a nos observar em atitude de evidente reprovação. Mas não ficou nisso a criatividade de Órion: em “Vergonha na cara”, por exemplo, foi com bitucas ou guimbas de cigarro
que ele trabalhou.
Como o peludo artista que há 40 mil anos povoou de bisões Altamira, ou como o anônimo pintor que nos primeiros tempos do Cristianismo deixou nas catacumbas os símbolos e emblemas de sua fé, Zezão mergulhou nas profundezas de São Paulo para criar em esgotos e galerias de águas pluviais seu museu pelo avesso, junto a animais mortos, dejetos e detritos de toda espécie. Nas fétidas paredes desses lugares ele deixou sua marca: os belos grafismos azulados de um alfabeto por ele inventado. Não satisfeito, levou para a luz do dia tais dejetos, combinando-os de forma a com eles, em inéditas montagens, mostrar o lado obscuro da cidade, suas entranhas por assim dizer.
Esses os quatro artistas de que hoje nos ocupamos; e que os visitantes possam experimentar, diante de suas obras, a mesma estranha emoção que a nós causaram.
O novo espaço de arte Ricardo Von Brusky foi concebido e estruturado para promover as mais variadas expressões artísticas. Além dos tradicionais leilões de arte antiga, moderna e contemporânea, a nova sede, instalada nos Jardins, foi ampliada com o objetivo de proporcionar uma experiência singular a seus visitantes, contribuindo para uma maior difusão da cultura nacional e internacional. Em um único espaço, o público poderá conferir exposições e instalações, além de projetos, cursos e palestras de arte, gastronomia e lifestyle.