Formas geométricas e cores sólidas são presenças quase que constantes na obra de Maria Leontina (1917 – 1984), artista referencial para a arte moderna brasileira. Suas abstrações geométricas, entretanto, raramente são colocadas de maneira bruta, por traços fortes e bem definidos. A transição suave de cores e formatos talvez seja a mais peculiar marca de sua produção, agora celebrada pela mostra Maria Leontina – Poética e Metafísica que a Dan Galeria recebe entre 27 de outubro e 30 de novembro.
Com curadoria de Peter Cohn e Alexandre Franco Dacosta, a exposição marca o centenário de nascimento da artista brasileira cujos trabalhos destacam-se na chamada geometria sensível. São 73 obras, entre desenhos e pinturas, que abarcam as quatro décadas de produção de Maria Leontina e a sua incessante investigação pelo enigma do tempo – plano metafísico que impregna e dá alma à sua abstração concretista.
A mostra traz obras de fases diversas da artista, entre as quais Jogos e Enigmas, Da Paisagem e do Tempo, Episódios, Cenas, Páginas e Estandartes. Os títulos conferidos pela artista a suas séries indicam seu interesse pessoal pela passagem dos instantes, seja na forma da narrativa, seja nos mistérios ontológicos do tempo.
“Uma atmosfera musical, etérea, de sonora vibração visual, em alcance de uma dinâmica que perfaz do murmúrio pianíssimo ao forte, emana das pinturas e desenhos de Maria Leontina”, afirma Dacosta. “De suas mãos surgiram linhas, planos, cores, manchas, como mãos de pianista que atacam e depois se elevam leves entre as teclas do instrumento erigindo pausas ou sustentações de notas, é neste hiato que emerge um espaço de reflexão, de combustão do pensamento”, completa.
Considerada por diversos críticos como o momento de maior singularidade em seu percurso, a fase construtiva de Maria Leontina – que enquanto pintora começou expressionista, autora de trabalhos figurativos -, se manteve à margem das escolas tradicionais. A artista desenvolveu uma peculiar geometria, na qual a rigidez da linha e o rigor matemático da composição foram substituídos por uma ordenação intuitiva, de formas geométricas imprecisas e cores sobrepostas, resultando em pinturas repletas de transparências.
“Flutuam num vazio, maquinam suas roldanas e nos remetem ao capítulo da arte cinética no construtivismo latino-americano. No entanto, Leontina não está interessada em um cinetismo que afete o corpo e sim num certo ‘movimento da alma’, na mobilização do intelecto em direção ao pensamento metafísico”, afirma Paula Braga, curadora que assina o texto crítico do catálogo da exposição. “Se a arte concreta tem como pressuposto o uso dos elementos básicos da pintura, como linha e cor, a arte de Leontina tem como pressuposto os elementos básicos da vida: espaço e tempo. A mobilidade então se insinua nestas composições mais vinculadas à espiritualidade do que ao corpo”, completa.
Exceção às formas geométricas, duas telas chamam a atenção para o início de sua trajetória: a paisagem de Sem título (1943) e Autorretrato (déc. 1940), óleos de tom mais expressionistas, com pinceladas não tão precisas quanto sua fase geometrizada.
Sobre a artista
Nascida em uma família de artistas e intelectuais, Maria Leontina Mendes Franco da Costa (São Paulo, 1917 – Rio de Janeiro, 1984), foi pintora, gravadora e desenhista. Durante sua carreira, colecionou importantes exposições e premiações, como 19 Pintores, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo e o prêmio nacional da Fundação Guggenheim, em Nova York e, em 1975, o prêmio pintura da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
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Serviço:
Maria Leontina – Poética e Metafísica
Vernissage: 26 de outubro, às 19h
Período de exposição: de 27 de outubro a 30 de novembro
De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 13h
Dan Galeria
Rua Estados Unidos, 1638. Jardim Paulista
Telefone: (11) 3083-4600