A exposição Mariana Palma: Soma é a primeira exposição individual da artista após um intervalo de 5 anos. A mostra traz pinturas, fotografias e aquarelas recentes da artista e é acompanhada por um texto de Paulo Miyada.
. As pinturas intensificam a procura da artista por um espaço pictórico singular, que é simultaneamente superfície aquosa de texturas e imbricação de figuras e objetos incompletos. Isso decorre do próprio processo de pintura: a artista as inicia com um mergulho da tela em água coberta por pigmentos, em um processo similar à marmorização de papel. Com isso, ela produz padrões intrincados de cores, linhas e pontos, sobre os quais pinta laboriosamente partes de tecidos estampados, elementos arquitetônicos e plantas imbrincados entre si. Assim, com intensa cor e altíssima quantidade de estímulos visuais, as pinturas procuram seduzir o olho e estabelecer com o espectador uma relação de fascínio, repúdio, identificação e estranhamento. Em suma, são imagens abundantes e com muitos focos compositivos, que podem ser lidas em partes ou como conjunto, acelerada ou detidamente.
As fotografias e aquarelas, por sua vez, são produzidas de modos mais detido, concentrado em problemas visuais e simbólicos específicos. As fotografias retratam montagens que a artista faz com plantas em estágios variados de apodrecimento e plantas artificiais de plástico. Criam-se híbridos, muitas vezes em evocações de alguma espécie de cópula. Fotografadas frente a um fundo infinito negro ou mergulhadas na alvura do leite, essas montagens flutuam como em imagens botânicas. O mesmo acontece nas aquarelas, porém com maior liberdade imaginativa e com a delicadeza do traço da artista.
Em conjunto, esses trabalhos traçam um panorama acerca do desejo em múltiplas acepções: sexual, escópico, voyeurístico, acumulador, romanesco, fabular. Esse é um motor constante na trajetória da artista, que agora assume maior intensidade. O texto poético proposto por Paulo Miyada tenta, justamente, aproximar-se dessa miríade de desejos ao combinar, por colagem, trechos dos poemas Elegia: Indo para o leito (John Donne, tradução de Augusto de Campos), Poema do amor sem exagero (Joaquim Cardozo), Objeto (Paulo Leminski) e Mel (Waly Salomão). Trata-se de um escopo inusual no campo da arte contemporânea, que talvez demande outras maneiras de olhar, que não se restrinjam a aspectos formais e, tampouco, circunscrevam interpretações eminentemente discursivas.