O trabalho artístico de Susanne Schirato por Gabriel S. Philipson

Por Gabriel Magno - junho 3, 2019
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Achtung – palavra em alemão que pode indicar um perigo, solicitar Atenção! e também cuidado – foi usada por Kant para caracterizar o sublime, diante do qual devemos agir com respeito, com Achtung. O respeito ocorre devido a uma alternância entre atração e repulsa, conhecida pelo nome de abalo – e até mesmo de Abgrund, abismo. Ligada às experiências em cavernas e abismos ao redor de todo o mundo, bem como à sua qualificação de mergulho rara, especialmente para mulheres e no Brasil, em situações limites para o ser humano, seria possível propor que a obra artística como um todo de Susanne Sofia Schumacher Schirato seja caracterizada pelo abalo e pela atenção e respeito com o sublime.

Ocorre que os paralelos entre Schirato e Kant são ainda maiores. Pode-se dizer que Kant realiza uma espécie de sublimação do sublime, na qual este se mostra como um desafio – transponível – para a liberdade humana de se autodeterminar. Ao desafiar a liberdade humana, ou seja, a capacidade de autodeterminação do ser humano, abalando-a por sua grandeza por excelência, diante da qual nos sentimos submetidos e dominados pela natureza, o sublime revela ao ser humano, contudo, que ele tem uma capacidade infinita de pensar e de conceituar esse mesmo sublime (vale lembrar que em alemão, o termo “conceito” tem a ver com pegar e agarrar com as mãos, begreifen). Os esboços de pedaços de caverna de Schirato não se parecem com essa tentativa, racional-estética, é verdade, de agarrar o sublime? Os grafites sobre PVC de Schirato são troféus da dominação e do controle racionais do tempo – são rastros de atos de obstinação, domínio, superação e superioridade da racionalidade humana.

Como resultado desse desafio transposto então para as esferas auráticas da arte, é possível que as obras de Susanne Schirato possam apontar para uma espécie de retorno do real traumático do ser humano contemporâneo hiperprodutivo, hiperperformático. O trabalho de Schirato nos apresenta, porém, pouco mais do que cacos e fragmentos do sublime temporal, parafusos ou vestígios de gestos desterritorializados do corpo hipercontrolado e acoplado a máquinas de respiração para mergulho em profundezas de cavernas.
No todo de sua exposição, Schirato apresenta-nos, assim, como que uma só e grande obra, um único tema explorado em variações de contraponto – diferentes imposições e racionalidades paralelas e contrapostas sempre a diferentes formas de lirismo – de ritmo ou respiração, de plataforma, em variações harmônicas, que desenvolvem um mesmo material “real”.

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