On_Off no Itaú Cultural, São Paulo

Por Paulo Varella - julho 6, 2017
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O Itaú Cultural apresenta de 6 a 9 de julho (quinta-feira a domingo) a 11ª edição do On_Off Experiências em Live Image, colocando o público em contato com experimentações audiovisuais e sonoras inéditas feitas ao vivo. Com curadoria do artista e pesquisador Lucas Bambozzi, o festival conta com a participação de sete artistas brasileiros e dois estrangeiros, que prepararam trabalhos exclusivos ou renovados para apresentar no instituto, a partir de provocações da curadoria para buscarem no universo audiovisual tudo o que escapa do digital e é sensível ao analógico, como ruídos, instabilidades e interferências.

“No digital não é permitida a interferência. Já no universo analógico, ela acontece e esse ruído interessa”, observa Bambozzi. “Viver nesse mundo de interferências requer imaginação para criar um diálogo entre o analógico e o digital”, completa. De acordo com ele, a iniciativa de instigar os artistas a criarem algo especial para esta edição do On_Off, com trabalhos em parceria, foi para ir além das obras tradicionais em live image. “Não queríamos apenas reverbera-las, mas possibilitar a pesquisa e o desenvolvimento de algo novo, para que essa cena se fortaleça com novidades.”

Dando seguimento à proposta do curador, esta edição do On_Off abre na quinta-feira, dia 6, às 20h, reunindo, pela primeira vez no palco, a performer e pesquisadora brasileira Paola Barreto e a artista multidisciplinar e live performer polonesa Kasia Justka, em Electric Ladies and the Cooking Orchestra. Com colaboração de Kadija de Paula e Helô Duran, elas transformam o palco em uma cozinha, usando as interferências domésticas como matéria prima para modificarem as imagens por meio do calor gerado pelos eletrodomésticos, por distorções causadas por sinais de rádio e tudo o que poderia parecer dispensável à cena.

A programação da sexta-feira, 7, também às 20h, traz ao público novas versões das performances KATHODD, AFTERSHOCK e DUST, assinadas por Herman Kolgen, artista canadense que nos últimos 30 anos vem atuando de forma frequente no campo do cinema expandido e das esculturas sonoras.

Capítulos diferentes de uma mesma narrativa, em KATHODD, o artista usa tubos de raios catódicos, presentes nas tevês de tubo, para criar traços de luz que são capturados por fotorresistores e transformados em ondas sonoras. Por meio de simulações tridimensionais do desenvolvimento de sistemas instáveis, em AFTERSHOCK são desenhados visuais cinéticos de grande escala, permeados por cenários pós-humanos. DUST inspira-se em Criação de Poeira – fotografia de 1920 de Man Ray, que retrata a escultura O Grande Vidro, de Marcel Duchamp – para explorar alterações no estado da matéria, com pigmentos suspensos em um campo magnético para criar objetos hipnóticos.

“Nestes trabalhos, Kolgen usa da tecnologia para criar um pensamento sobre o mundo catastrófico”, o curador. “Ele é um artista que vem do mundo analógico e fez essa passagem para o digital. Ele conseguiu se reinventar nessa mudança e tem um trabalho que vai além do audiovisual, extremamente ligado à produção contemporânea”, complementa.

Duos e solo
A noite do On_Off no dia 8, sábado, a partir das 20h, é de trabalhos estritamente brasileiros. Para começar, o público assiste à performance Ouroboros – Buraco de Minhoca, parceria entre a artista multimídia Bianca Turner e a criadora multiplataforma, artista gráfica, VJ e videocenarista Astronauta Mecanico (Veruscka Girio). No palco, TVs de tubos de raios catódicos e projeções representam Buracos de Minhoca, conceito da física quântica evidenciado na apresentação por um sistema de retroalimentação de sinais de áudio e vídeo. As projeções se distendem e se comprimem em movimento contínuo.

Na sequência, incertezas explora efeitos de cintilação, pós-imagem e persistência retiniana em performance com luzes, clarões, palavras, sons e imagens em movimento assinada pelo artista, curador e pesquisador Marcus Bastos e pelo artista sonoro e multimídia, músico, compositor, performer e produtor musical Dudu Tsuda. Com participação especial de Camille Laurent, o trabalho utiliza a oscilação entre alta e baixa luminosidade e os contrastes que levam o espectador a pensar na credibilidade atribuída ao que se vê e ao que escapa.

O encerramento da programação no domingo, 9, às 19h, traz dois trabalhos. Excuta, realizado pelo produtor musical e artista visual Felipe Julián e pela cantora e performer Sandra Ximenez. Para explorar hipóteses sobre a origem ancestral da audição e suas decorrências culturais e políticas ao longo da evolução humana, eles combinam várias técnicas da edição ao vivo, processando ainda o som em tempo real e difundindo em soundsystem e quadrifonia, o sistema multicanal.

Em seguida, Herman Kolgen volta ao palco do Itaú Cultural, fechando o On_Off com SEISMIK, performance inspirada por abalos de placas rochosas, deslizamentos de terrenos e terremotos. Na apresentação, modelagens geológicas invocam um ambiente de desestabilização no qual sinais de alta tensão e estática interferem nas imagens por meio de deslocamentos e vibrações sísmicas.

PROGRAMAÇÃO

Dia 6 de julho (quinta-feira), às 20h
Electric Ladies and The Cooking Orchestra: Feeding Audiovisual Performance
Com Kasia Justka e Paola Barreto
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação indicativa: Livre

Dia 7 de julho (sexta-feira) 20h
KATHODD
AFTERSHOCK
DUST
As três apresentações são de Herman Kolgen
Duração aproximada: 65 minutos
Classificação indicativa: Livre

Dia 8 de julho (sábado), às 20h
Ouroboros | Buraco de Minhoca
Com Bianca Turner e Astronauta Mecanico (Veruscka Girio)
incertezas
Com Dudu Tsuda e Marcus Bastos. Participação de Camille Laurent.
Duração aproximada: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
A performance faz uso de luz estrobo, que pode afetar pessoas com fotossensibilidade.

Dia 9 de julho (domingo), 19h
Excuta
Com Felipe Julián e Sandra Ximenez
SEISMIK
Com Herman Kolgen
Duração aproximada: 75 minutos
Classificação indicativa: Livre

PARTICIPANTES

Astronauta Mecanico (Veruscka Girio) (BRA)
Criadora multiplataforma, artista gráfica, VJ e videocenarista. Sua pesquisa foca transcomunicação – a comunicação entre vivos e mortos – e discute arte, ciência e espírito, assim como tempo, espaço e rotina.

Bianca Turner (BRA)
Artista multimídia, bacharel em design e prática de performance pela Central Saint Martins College of Art & Design e mestre em cenografia pela The Royal Central School of Speech and Drama, ambas em Londres, na Inglaterra. Também atua como diretora de arte e videoprojeção no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, e é integrante-diretora do coletivo Manifesto Impromptu.

Dudu Tsuda (BRA)
Artista multimídia, artista sonoro, músico, compositor, performer, produtor musical e professor convidado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) desde 2010. Também pela PUC/SP, é mestre em tecnologias da inteligência e design digital e graduado em comunicação em multimeios.

Felipe Julián e Sandra Ximenez (BRA)
Felipe Julián é produtor musical e artista visual, e Sandra Ximenez é cantora e performer. Lançaram quatro discos em conjunto, sendo o mais recente Turbulência (2016). Nas artes visuais montaram, entre outras obras, as instalações sonoras Eu Preciso Dessas Palavras Escritas, no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro, e Suite Yemanja, na coletiva Vestígios de Brasilidade, no Santander Cultural em Recife. Colaboram com artistas e grupos de intervenção urbana ou performance, como o Coletivo Dodecafônico.

Herman Kolgen (CAN)
Artista multidisciplinar com mais de três décadas de experiência em projetos de artemídia. A partir da relação íntima entre som e imagem, cria peças que assumem a forma de instalações, filmes, performances audiovisuais, apresentações multimídia e esculturas sonoras.

Kasia Justka (POL)
Artista multidisciplinar e live performer. Trabalha com vídeo, luz e som. Por meio de circuitos e da eletricidade, propõe a desconstrução de estruturas e cria experiências que realçam a beleza dos fenômenos naturais em um mundo complexo.

Marcus Bastos (BRA)
Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e da Universidade de São Paulo (USP). Escreveu Limiares das Redes e Cultura da Reciclagem, além de organizar várias outras obras.

Paola Barreto (BRA)
Seus trabalhos se desdobram em filmes, instalações e performances, explorando na materialidade dos suportes as relações entre corpos, memórias e imagens. Pesquisadora e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem interesse por circuitos de vídeo, sistemas híbridos e autoria coletiva.

CURADOR

Lucas Bambozzi
Artista e pesquisador de meios que oscilam entre o digital e o analógico. Fez “vídeo ao vivo” e transmissões simultâneas no final dos anos 80 e hoje faz um pouco de cinema, videoarte, instalações e outros formatos de arte considerados instáveis e talvez em vias de desaparecerem.

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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