On_Off no Itaú Cultural, São Paulo
O Itaú Cultural apresenta de 6 a 9 de julho (quinta-feira a domingo) a 11ª edição do On_Off Experiências em Live Image, colocando o público em contato com experimentações audiovisuais e sonoras inéditas feitas ao vivo. Com curadoria do artista e pesquisador Lucas Bambozzi, o festival conta com a participação de sete artistas brasileiros e dois estrangeiros, que prepararam trabalhos exclusivos ou renovados para apresentar no instituto, a partir de provocações da curadoria para buscarem no universo audiovisual tudo o que escapa do digital e é sensível ao analógico, como ruídos, instabilidades e interferências.
“No digital não é permitida a interferência. Já no universo analógico, ela acontece e esse ruído interessa”, observa Bambozzi. “Viver nesse mundo de interferências requer imaginação para criar um diálogo entre o analógico e o digital”, completa. De acordo com ele, a iniciativa de instigar os artistas a criarem algo especial para esta edição do On_Off, com trabalhos em parceria, foi para ir além das obras tradicionais em live image. “Não queríamos apenas reverbera-las, mas possibilitar a pesquisa e o desenvolvimento de algo novo, para que essa cena se fortaleça com novidades.”
Dando seguimento à proposta do curador, esta edição do On_Off abre na quinta-feira, dia 6, às 20h, reunindo, pela primeira vez no palco, a performer e pesquisadora brasileira Paola Barreto e a artista multidisciplinar e live performer polonesa Kasia Justka, em Electric Ladies and the Cooking Orchestra. Com colaboração de Kadija de Paula e Helô Duran, elas transformam o palco em uma cozinha, usando as interferências domésticas como matéria prima para modificarem as imagens por meio do calor gerado pelos eletrodomésticos, por distorções causadas por sinais de rádio e tudo o que poderia parecer dispensável à cena.
A programação da sexta-feira, 7, também às 20h, traz ao público novas versões das performances KATHODD, AFTERSHOCK e DUST, assinadas por Herman Kolgen, artista canadense que nos últimos 30 anos vem atuando de forma frequente no campo do cinema expandido e das esculturas sonoras.
Capítulos diferentes de uma mesma narrativa, em KATHODD, o artista usa tubos de raios catódicos, presentes nas tevês de tubo, para criar traços de luz que são capturados por fotorresistores e transformados em ondas sonoras. Por meio de simulações tridimensionais do desenvolvimento de sistemas instáveis, em AFTERSHOCK são desenhados visuais cinéticos de grande escala, permeados por cenários pós-humanos. DUST inspira-se em Criação de Poeira – fotografia de 1920 de Man Ray, que retrata a escultura O Grande Vidro, de Marcel Duchamp – para explorar alterações no estado da matéria, com pigmentos suspensos em um campo magnético para criar objetos hipnóticos.
Obras em Destaque
“Nestes trabalhos, Kolgen usa da tecnologia para criar um pensamento sobre o mundo catastrófico”, o curador. “Ele é um artista que vem do mundo analógico e fez essa passagem para o digital. Ele conseguiu se reinventar nessa mudança e tem um trabalho que vai além do audiovisual, extremamente ligado à produção contemporânea”, complementa.
Duos e solo
A noite do On_Off no dia 8, sábado, a partir das 20h, é de trabalhos estritamente brasileiros. Para começar, o público assiste à performance Ouroboros – Buraco de Minhoca, parceria entre a artista multimídia Bianca Turner e a criadora multiplataforma, artista gráfica, VJ e videocenarista Astronauta Mecanico (Veruscka Girio). No palco, TVs de tubos de raios catódicos e projeções representam Buracos de Minhoca, conceito da física quântica evidenciado na apresentação por um sistema de retroalimentação de sinais de áudio e vídeo. As projeções se distendem e se comprimem em movimento contínuo.
Na sequência, incertezas explora efeitos de cintilação, pós-imagem e persistência retiniana em performance com luzes, clarões, palavras, sons e imagens em movimento assinada pelo artista, curador e pesquisador Marcus Bastos e pelo artista sonoro e multimídia, músico, compositor, performer e produtor musical Dudu Tsuda. Com participação especial de Camille Laurent, o trabalho utiliza a oscilação entre alta e baixa luminosidade e os contrastes que levam o espectador a pensar na credibilidade atribuída ao que se vê e ao que escapa.
O encerramento da programação no domingo, 9, às 19h, traz dois trabalhos. Excuta, realizado pelo produtor musical e artista visual Felipe Julián e pela cantora e performer Sandra Ximenez. Para explorar hipóteses sobre a origem ancestral da audição e suas decorrências culturais e políticas ao longo da evolução humana, eles combinam várias técnicas da edição ao vivo, processando ainda o som em tempo real e difundindo em soundsystem e quadrifonia, o sistema multicanal.
Em seguida, Herman Kolgen volta ao palco do Itaú Cultural, fechando o On_Off com SEISMIK, performance inspirada por abalos de placas rochosas, deslizamentos de terrenos e terremotos. Na apresentação, modelagens geológicas invocam um ambiente de desestabilização no qual sinais de alta tensão e estática interferem nas imagens por meio de deslocamentos e vibrações sísmicas.
PROGRAMAÇÃO
Dia 6 de julho (quinta-feira), às 20h
Electric Ladies and The Cooking Orchestra: Feeding Audiovisual Performance
Com Kasia Justka e Paola Barreto
Duração aproximada: 60 minutos
Classificação indicativa: Livre
Dia 7 de julho (sexta-feira) 20h
KATHODD
AFTERSHOCK
DUST
As três apresentações são de Herman Kolgen
Duração aproximada: 65 minutos
Classificação indicativa: Livre
Dia 8 de julho (sábado), às 20h
Ouroboros | Buraco de Minhoca
Com Bianca Turner e Astronauta Mecanico (Veruscka Girio)
incertezas
Com Dudu Tsuda e Marcus Bastos. Participação de Camille Laurent.
Duração aproximada: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
A performance faz uso de luz estrobo, que pode afetar pessoas com fotossensibilidade.
Dia 9 de julho (domingo), 19h
Excuta
Com Felipe Julián e Sandra Ximenez
SEISMIK
Com Herman Kolgen
Duração aproximada: 75 minutos
Classificação indicativa: Livre
PARTICIPANTES
Astronauta Mecanico (Veruscka Girio) (BRA)
Criadora multiplataforma, artista gráfica, VJ e videocenarista. Sua pesquisa foca transcomunicação – a comunicação entre vivos e mortos – e discute arte, ciência e espírito, assim como tempo, espaço e rotina.
Bianca Turner (BRA)
Artista multimídia, bacharel em design e prática de performance pela Central Saint Martins College of Art & Design e mestre em cenografia pela The Royal Central School of Speech and Drama, ambas em Londres, na Inglaterra. Também atua como diretora de arte e videoprojeção no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, e é integrante-diretora do coletivo Manifesto Impromptu.
Dudu Tsuda (BRA)
Artista multimídia, artista sonoro, músico, compositor, performer, produtor musical e professor convidado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) desde 2010. Também pela PUC/SP, é mestre em tecnologias da inteligência e design digital e graduado em comunicação em multimeios.
Felipe Julián e Sandra Ximenez (BRA)
Felipe Julián é produtor musical e artista visual, e Sandra Ximenez é cantora e performer. Lançaram quatro discos em conjunto, sendo o mais recente Turbulência (2016). Nas artes visuais montaram, entre outras obras, as instalações sonoras Eu Preciso Dessas Palavras Escritas, no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro, e Suite Yemanja, na coletiva Vestígios de Brasilidade, no Santander Cultural em Recife. Colaboram com artistas e grupos de intervenção urbana ou performance, como o Coletivo Dodecafônico.
Herman Kolgen (CAN)
Artista multidisciplinar com mais de três décadas de experiência em projetos de artemídia. A partir da relação íntima entre som e imagem, cria peças que assumem a forma de instalações, filmes, performances audiovisuais, apresentações multimídia e esculturas sonoras.
Kasia Justka (POL)
Artista multidisciplinar e live performer. Trabalha com vídeo, luz e som. Por meio de circuitos e da eletricidade, propõe a desconstrução de estruturas e cria experiências que realçam a beleza dos fenômenos naturais em um mundo complexo.
Marcus Bastos (BRA)
Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e da Universidade de São Paulo (USP). Escreveu Limiares das Redes e Cultura da Reciclagem, além de organizar várias outras obras.
Paola Barreto (BRA)
Seus trabalhos se desdobram em filmes, instalações e performances, explorando na materialidade dos suportes as relações entre corpos, memórias e imagens. Pesquisadora e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem interesse por circuitos de vídeo, sistemas híbridos e autoria coletiva.
CURADOR
Lucas Bambozzi
Artista e pesquisador de meios que oscilam entre o digital e o analógico. Fez “vídeo ao vivo” e transmissões simultâneas no final dos anos 80 e hoje faz um pouco de cinema, videoarte, instalações e outros formatos de arte considerados instáveis e talvez em vias de desaparecerem.