Artistas do mundo homenageiam a vida no exílio sob curadoria de Nathalie Duchayne e Eduardo Saretta
A Galeria Nathalie Duchayne retoma suas atividades com a exposição itinerante “Far From Home”, que abre em Paraty (RJ), no próximo dia 23 de junho, e segue para Saint-Tropez (França), em setembro, e São Paulo, em novembro.
Muito conhecida na Europa, a francesa Nathalie Duchayne manteve sua galeria em Saint-Tropez, no sul da França, até 2008, quando se casou, em Praga (República Tcheca), com o norueguês Trygve Magnusson. Desde então, o casal vive entre França, África do Sul e Brasil, onde residem em uma propriedade à beira-mar acessível apenas a pé ou de barco.
Inspirada em sua própria história de vida, a galerista decidiu unir artistas brasileiros e estrangeiros que discutem o “estar longe de casa”, as migrações e misturas de povos através de suas obras, sejam elas fotografias, esculturas, pinturas ou instalações.
A mostra faz uma homenagem à vida no exílio e conta com a curadoria de Nathalie e de Eduardo Saretta, um dos fundadores do coletivo de arte SHN, em 1998, e diretor da Galeria Choque Cultural, até 2014. A exposição acontece na Igreja Nossa Senhora das Dores, capela histórica construída no início do século XIX por mulheres da aristocracia local na Rua Fresca, em frente à Baía de Paraty.
Entre os artistas participantes, nomes como o de Angelica Dass, brasileira que mora em Madri e promove a defesa dos direitos humanos por meio de sua obra, Daniel Melim, um dos principais muralistas brasileiros, Dona Magdalena e Seu Valentim, casal que mora em um quilombo de Paraty e transformou artesanato em arte, Hugo França, conhecido por suas esculturas mobiliárias, o coletivo SHN e o artista urbano Zeh Palito, que viajou o mundo em projetos voluntários.
Conheça os artistas que participam de Far From Home:
Angélica Dass
A brasileira que mora em Madrid (Espanha) destaca-se por combinar uma grande criatividade com a investigação sociológica e a defesa dos direitos humanos através de suas obras. Em 2013, ganhou o Prêmio Festival Off de Photo España com seu projeto Humanae, um Pantone humano que catalogou todas as possíveis cor de pele das pessoas e foi abordado em sua última palestra no TED (Vancouver, 2016) que superou milhões de visualizações. Ela mostra, pela primeira vez no Brasil, a série “Yo Soy Somos”, que reúne relatos pessoais, fotografias e arquivos pessoais de mulheres anônimas que moram em Madrid.
Aurelia Cerulei
Bordar histórias é o maior objetivo do trabalho de Aurelia Cerulei, artista francesa radicada em Paraty que usa técnicas de bordado, linhas, agulhas e materiais dos mais inusitados, como peças de louças quebradas, para contar suas narrativas.
Daniel Melim
Nasceu e tem seu atelier em São Bernardo do Campo, cidade industrial e berço de movimentos políticos trabalhistas no Brasil. Melim estudou pintura e, além de sua importante produção pictórica, tornou-se um dos principais muralistas brasileiros contemporâneos. Tem um permanente trabalho de cunho político-social, realizado junto a comunidades de sua cidade envolvendo graffiti em processos participativos e educativos.
Dona Magdalena e Seu Valentim
Brasileiros, ambos têm mais de 90 anos e vivem e trabalham no Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty. Dona Magdalena cria personagens que ela corta em peças de madeira, enquanto Seu Valentim inventa a partir de peças de madeira, uma verdadeira arca de Noé. Galinhas, gansos, patos, cães, gatos, bichos da floresta, todos eles estão lá. Juntos há quase 80 anos, eles são a alma do Quilombo e a origem do desenvolvimento artesanal de sua comunidade.
Hugo França
O artista e designer gaúcho se formou em engenharia e começou a desenvolver seu método de trabalho a partir da observação da natureza nos 15 anos que morou em Trancoso, Bahia, onde percebeu o grau de desperdício na extração e uso da madeira. Suas esculturas mobiliárias são criadas de maneira singular. As peças são resultado de sua sensibilidade em perceber uma função para as formas sugeridas pela natureza. Assim, Hugo França faz com a natureza uma parceria criativa e de cooperação ecológica já que toda a matéria-prima utilizada são resíduos florestais encontrados em áreas desmatadas e queimadas no sul da Bahia, em geral, a madeira da árvore Pequi.
Nicole Mouracade
A artista libanesa, que faleceu em janeiro de 2018, passou por diversos países como Arábia Saudita, França, Itália e Estados Unidos antes de se estabelecer no Brasil. Seu trabalho reflete sua alma nômade, que combina facilmente estilos e técnicas e aborda de forma sutil e silenciosa questões relativas ao tempo.
Paulo Bento
Paulo Bento é casado com Agilsa, uma das 8 filhas de Dona Magdalena e Seu Valentim, e desenvolveu um trabalho muito único para criar peças com bambu e fibras naturais, que faz em parceria com sua esposa e sua filha.
SHN
O SHN é um coletivo de arte formado por Eduardo Saretta, Haroldo Paranhos, Marcelo Fazolin. Multidisciplinar, o grupo reúne artistas com atuações diversas como artes gráficas, arquitetura, vídeo e grandes pinturas. A serigrafia sempre foi um ponto de partida gráfico para a pesquisa de mídias que o coletivo apresenta nesses 20 anos de atuação.
Sr Valdir e Atelier da Terra
Aos 28 anos, Danilo Omwisye viajou o mundo como voluntário de projetos humanitários e transformou sua arte urbana em um sentido global de unificação. Seu trabalho tem sido exposto em países como Alemanha, Argentina, Bélgica, Coréia do Sul, Chile, Espanha, Estados Unidos, Egito, Polônia, Malásia, Tailândia, Vietnã e Zâmbia, entre outros. Os negros, índios e asiáticos são figuras que fazem parte da maioria dos seus trabalhos, como um manifesto exaltando a força e a beleza das minorias étnicas e culturas pouco expostas na mídia tradicional.
GALERIA NATHALIE DUCHAYNE
FAR FROM HOME
Abertura: Sábado, 23 de junho, 18h
Em cartaz até 8 de julho
Local: Capela Nossa Senhora das Dores (Paraty – RJ)