Salvador Dalí e Dante Alighieri em Brasília

Por Paulo Varella - outubro 30, 2017
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Em Dalí – A Divina Comédia, o diálogo entre artes visuais e literatura se faz presente por meio de 100 xilogravuras, em cartaz na Caixa Cultural

 

“A cultura do espírito identificar-se-á com a cultura do desejo”. A citação de Salvador Dalí (1904-1989) traz apenas um rabisco, uma pincelada de sua essência. Catalão, polêmico e intenso, o artista eternizou-se como o papa da pintura surrealista, dos desejos subconscientes revelados em óleos sobre as telas. Suas obras alegóricas unem combinações esdrúxulas e oníricas, com uma qualidade plástica peculiar, encantadora. Tudo isso fez com que Dalí se tornasse um dos maiores pintores do século 20.

Agora, a capital federal poderá conferir um encontro de gigantes. Brasília receberá uma simbiose das artes que tem como fonte, também, o poeta renascentista Dante Alighieri (1265-1321) e seus escritos literários universais exemplificados em relíquias como a A Divina Comédia.  Dalí transferiu, das letras para as telas, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso do escritor.

A exposição itinerante Dalí – A Divina Comédia trará para a Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul) 100 pinturas que se remetem a Dante, com todos os tons surrealistas e simbólicos de Salvador Dalí. De 15 de novembro até o dia 4 de março de 2018, quem passar pela Galeria Vitrine, de terça-feira a domingo, sempre das 9h às 21h, poderá conferir pinturas que revelam este universo de Alighieri. O artista se consagrou por esta obra, que extrai a agonia, os prazeres, os sabores e dissabores de uma viagem rumo à conquista de um paraíso idealizado.

São símbolos e imagens que vão além do comum e atingem o subconsciente e os sonhos. Dalí foi convidado para pintar um dos poemas épicos do autor nas décadas de 50 e 60 por encomenda do governo italiano em comemoração aos 700 anos de nascimento de Dante Alighieri.

As gravuras que serão expostas em Brasília perpassam à época e ao imaginário do poeta e do pintor. Os círculos infernais, o centro da Terra, o encontro com Lúcifer, o reencontro com Beatriz, a mulher amada e idealizada, e a admissão de um paraíso são retratados por Dalí, que respeita a transição do poema. Versos que vão do limbo aos céus.

A proposta visual da exposição respeitou a estrutura sequencial dos cantos do Poema Sagrado de Dante. A primeira parte é dedicada ao Inferno, com 34 imagens. Um segundo momento corresponde ao Purgatório, e o terceiro ao Paraíso, com 33 quadros cada. Proveniente de uma coleção privada da Espanha, o acervo de gravuras pretende conduzir o público a uma viagem a partir desse diálogo enriquecedor entre literatura e artes visuais. Uma viagem que leva e eleva o público para os ambientes destes artistas, que conseguem sintetizar e repassar seus pensamentos por meio da arte.

A Divina Comédia – Dante e Dalí

Para Dante, homem-síntese da Idade Média, a finalidade da vida humana era buscar o bem e a verdade, que só em Deus se encontravam. A obra seria uma forma de despertar nos homens os valores morais e a consciência da redenção. O olhar de Dalí, por sua vez, não fica limitado a uma interpretação literal da história do texto, mas explora o potencial metafórico das palavras de Dante, que é expandido para um fluxo de imaginação próprio do pintor catalão, que tanto rompe padrões como combina harmoniosamente estilos que vão do classicismo greco-romano ao barroco e surrealismo, criando seu próprio universo da Divina Comédia.

Dalí pintou as obras e trabalhou por cinco anos em um sistema para que estas pudessem ser reproduzidas mecanicamente. Para isso, teve ajuda dos gravadores Raymond Jacquet e Jean Taricco, que fizeram 35 placas com 3500 blocos xilográficos para reproduzir as aquarelas peça por peça. Nos anos 60, as xilogravuras foram publicadas em forma de livro por uma editora francesa, ilustrando em seis volumes as obras completas com o texto de Dante. Essa exposição é realizada com o exemplar 283 desse conjunto de ilustrações.

Dalí – A Divina Comédiaestreou em julho de 2012 no Rio de Janeiro e passou por inúmeras capitais. A mostra é uma rara oportunidade de ver o trabalho do artista espanhol, que também retratou outras obras da literatura de autores como André Breton e Miguel de Cervantes (Dom Quixote). Se aprofundar mais na poética de Dante, cuja Divina Comédia também já foi retratada por mestres como Botticelli, Doré, Bouguereau e Barceló, ajuda a entender a força e a permanência de imagens poéticas presentes no imaginário popular e que tiveram origem na obra do italiano.A exposição é produzida pela Arte A Produções com patrocínio da Caixa Econômica Federal.

 

Serviço

Dali: A Divina Comédia

De 15 de novembro até o dia 4 de março de 2018

Local: Caixa Cultural Brasília – Galeria Vitrine  (Setor Bancário Sul Qd. 4)

Visitação: De terça a domingo, das 9h às 21h

Informações: 3206-9448\9449

Entrada franca

Classificação livre

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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