O seminário dá continuidade à primeira parte da discussão ocorrida em março de 2017, dedicada às peças de cerâmica e metal da Coleção MASP Landmann. Nesta segunda parte, o seminário abordará os têxteis da coleção, compostos por aproximadamente 177 peças.
SOBRE A COLEÇÃO
A Coleção MASP Landmann é composta por cerca de 900 obras de arte pré-colombiana. Ela foi formada a partir de uma das mais importantes coleções privadas da América Latina, tornando-se atualmente uma das únicas desta natureza presente em um museu brasileiro. Ampla e diversificada, a coleção apresenta espécimes de cerâmica, tecidos e metais de inúmeros povos que habitaram parte do território que hoje constitui a América do Sul, como Peru, Colômbia e Brasil, cobrindo um arco temporal de quase 2.500 anos – de 1000 a.C. à invasão europeia na metade do século 16. Entre as principais culturas, destacam-se: Chavín, Chimú, Huari, Moche, Nazca, Paracas, Recuay, Tiahuanaco, Vicus, Viru, Chancay, Inca, Quimbaya, Tairona, Muísca, Sinu, Calima e Marajó. O seminário tem como objetivo produzir discussões sobre as obras que constituem a Coleção MASP Landmann, recentemente cedidas por dez anos em comodato ao museu.
Curadora: Marcia Arcuri
Organização: Adriano Pedrosa, André Mesquita e Olivia Ardui
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
Sexta, 13 de abril
INTRODUÇÃO 10h – 10h30
DENISE Y. ARNOLD – 10h30 – 12h30
Recontextualizando vestígios materiais: relações familiares entre membros da Coleção MASP Landmann e têxteis de outras coleções no mundo
Os têxteis da Coleção MASP Landmann são bastante raros, especialmente quanto à abrangência geográfica e histórica e à qualidade de muitas peças, ainda que haja peças que apresentem semelhanças familiares e distintas com têxteis de outras coleções mundiais. Nos Andes de hoje, os têxteis são considerados pelos tecelões “pessoas” (jaqi, em Aymara), seres vivos que têm uma presença social no mundo. Esta apresentação parte dessa ideia para explorar as similaridades familiares entre os têxteis da Coleção MASP Landmann e suas peças de referência, a partir de uma perspectiva ontológica, e se essas relações podem ser consideradas de “mãe-filho”, “irmão” ou talvez “primo distante” dentro de um corpus histórico mais amplo. Esta recontextualização da coleção proporciona mais ideias sobre a proveniência (local de nascimento) das peças e seus contextos técnico, social e iconográfico.
DELIA APONTE MIRANDA
Milênios de histórias tecidas
Esta apresentação, realizada a partir de uma investigação em parceria com Carmen Thays Delgado, chefe do Departamento de Têxteis do Museo Nacional de Arqueología, Antropología e Historia del Perú, abordará algumas dimensões da Coleção MASP Landmann, que conta com tecidos completos e fragmentos, com uma variedade de formas, desenhos, técnicas e iconografia que ilustram múltiplos aspectos do desenvolvimento de roupas e têxteis nos Andes Centrais, ao longo de dois milênios. Destacam-se as técnicas executadas à mão e com tear, como os tecidos pintados por sociedades afiliadas a Chavín, os tecidos com agulhas e os vestuários bordados da sociedade Paracas, o anilado tridimensional na sociedade Nazca, o tingimento em reserva e o fio muito fino em vestuário Huari, as delicadas aplicações em vestuário Chimú e o uso de urdiduras descontínuas e tapeçarias pelas sociedades afiliadas ao Inca. É uma amostra do domínio alcançado pelos tecelões andinos, que incorporaram em suas obras uma série de símbolos, mensagens, histórias e crenças que compreendemos pouco a pouco.
REGINA POLO MÜLLER – 14h – 16h
Grafismo na arte têxtil pré-colombiana: formas visuais e universos cognitivos
Imagens geométricas e figurativas que compõem os têxteis da Coleção MASP Landmann de arte pré-colombiana podem ser abordadas da perspectiva de estudos recentes em Antropologia sobre o grafismo nas artes indígenas, ressaltando-se os diversos suportes nos quais se observa uma mesma relação entre essas manifestações artísticas e o universo cognitivo de povos e culturas. Com foco na figuração e abstracionismo destas formas visuais, ao modo mais de uma inspiração do que um recurso comparativo com as artes visuais de povos indígenas contemporâneos, propõe-se, de um lado, demonstrar uma lógica e uma estética subjacentes à reprodução de imagens que podem nos levar a ver além do aspecto decorativo nos exemplares da arte têxtil pré-colombiana. Tenta-se, de outro lado, explorar noções como agência da imagem, percepção e performance, relacionando os objetos têxteis a possíveis contextos de uso ritual, ornamentação corporal e aos próprios processos de confecção, com o objetivo de se lançar luz sobre a possibilidade de uma abordagem antropológica no estudo deste material.
CARLA GIBERTONI CARNEIRO
Novos diálogos com antigas coleções: novas perspectivas para a gestão de acervos
Esta apresentação busca a proposição de reflexões acerca das transformações impostas aos museus no século 21 na perspectiva do sentido mais amplo de acesso, caracterizado por descolonização, redemocratização, participação, processo oriundo da museologia social e reforçado pela museologia crítica contemporânea. A apresentação não estará centrada numa temática específica da tecelagem pré-colombiana, mas numa abordagem transversal sobre organização, interpretação, ressignificação, repatriação e formação de novas coleções a partir das interlocuções com populações indígenas contemporâneas, distanciadas por séculos dos seus objetos e impossibilitadas de dar visibilidade aos seus saberes nos museus. Nós nos apoiaremos em experiências desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, especialmente a partir de um processo de concepção de exposição em desenvolvimento, por meio de curadoria colaborativa e discurso auto narrativo.
TERESA CRISTINA TOLEDO DE PAULA
Fragilidade e impermanência dos acervos têxteis
Os acervos têxteis estão entre aqueles mais difíceis de serem preservados a longo prazo e os que mais demandam cuidados, exigindo investimentos e restrições muitas vezes incompatíveis com as iniciativas contemporâneas de exposição dos museus. Sujeita a todo tipo de agressão do meio ambiente no passado e ainda hoje, a maior parte dos têxteis deteriorou-se rapidamente sob as condições quase sempre inadequadas a que eles foram submetidos. Tal condição de impermanência tem gerado, nos últimos anos, uma série de iniciativas internacionais de replicagem e substituição dos têxteis originais por novas versões de alta qualidade e resistência. O conceito de preservação vem sendo acompanhado de perto pelo conceito de persistência da informação, conceito esse que prioriza a continuidade, a comunicação e o acesso em detrimento da permanência dos materiais e da ideia da autenticidade exclusiva atribuída aos real ones.
COMO SE INSCREVER?
A retirada de ingressos será realizada duas horas antes do seminário, a partir das 8h, na bilheteria do Museu.
Será necessário o cadastro de e-mail, nome completo e a apresentação de um documento oficial para pedido de certificados. Os certificados serão emitidos e enviados para o e-mail cadastrado previamente.