Série Janelas de Edmundo Schmidt no Espaço Reitoria da UFJF/MG

Por Paulo Varella - maio 14, 2018
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Edmundo Schmidt apresenta a inédita série Janelas no Espaço Reitoria

 

Com uma percepção que transita entre a razão e a emoção, o engenheiro civil Edmundo Schmidt, formado pela UFJF, mergulha no universo das artes plásticas, expondo pela primeira vez suas obras. A série Janelas – Um olhar para fora chega ao Espaço Reitoria, no Campus, a partir de 17 de maio e fica em cartaz até 8 de junho, trazendo 18 trabalhos em madeira, com formas geométricas que se encaixam para revelar contrastes entre materiais, formas, planos e texturas. A inspiração vem de idas e vindas à cidade mineira de Tiradentes, de onde janelas de demolição ganham vida e cor nas colagens com ladrilhos, azulejos, cortiça, casca e pedaços de árvore.

Em proporções que chegam a 1,50m de altura ou 1,40m de largura, as janelas de Edmundo traduzem uma bagagem profissional expressiva, refletida na vivência de outras culturas, como a de Angola. Da capital Luanda à província petroleira de Cabinda, no Atlântico, foram 15 anos de uma rica experiência que o impactou de muitas formas. Entre 2001 e 2016, expandiu horizontes na África ocidental a partir de consultorias que permitiram construções de forte impacto social, como a de um sistema de macrodrenagem urbana e um estudo sobre escolas, trazendo importantes benefícios à população de baixa renda, com resultados gratificantes.

Autodidata nas artes, Edmundo principiou seu trabalho com pinturas em acrílico e colagens, evoluindo para esculturas em madeira, com ênfase para a figura humana e o movimento. O gosto pelo artesanato e pela criação de mobiliário, que, em diferentes momentos, o levou a abrir duas empresas na área, veio da infância, influenciado pelo pai, o professor Oscar Schmidt, um apaixonado pela marcenaria, que integrou a primeira turma do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e os quadros do antigo Instituto de Ciências Exatas (ICE) da UFJF.

 

Nem tanto água, nem tanto fogo

Como a engenharia influenciou seu trabalho nas artes plásticas, tendo em vista que um seria a razão e o outro a emoção?

– Não vejo meu trabalho como estritamente racional, nem minha arte como puramente emocional. Acho que eles se misturam, não são água e fogo. Explico: Sou formado em engenharia civil, turma de 1972 da Faculdade de Engenharia da UFJF, mas não trabalhava com construção civil; a maior parte da minha carreira foi como consultor. Isto me fazia lidar muito mais com necessidades e anseios das pessoas do que com coisas palpáveis, concretas. Ou seja, meu trabalho não era puramente razão, havia sempre nele um quê de social, e que por extensão envolvia, quisesse eu ou não, uma dose de emocional. A série Janelas me fez ainda mais aproximar o lado racional do emocional. São formas geométricas definidas, que se encaixam buscando um efeito estético agradável, o que remete bastante à minha formação e profissão. Ou seja, aproxima meu trabalho da minha arte.

Pelo que percebi, são obras que, embora pesadas em termos de materiais utilizados, têm uma leveza muito grande pela mensagem implícita. Fale sobre isso.

– Concordo. Eu valorizo muito os contrastes, em seus vários aspectos. E esses contrastes, penso, formam a mensagem principal desta série Janelas. Acho ainda que o contraste é primo do incomum, do diferente, do ousado. É o que busco no meu trabalho.

Você é do Rio de Janeiro, mas expandiu suas fronteiras além-mar e acabou por transformar Juiz de Fora em seu “porto seguro”. Como isso se deu?

– Na verdade, nasci no Rio, mas fui criado em Juiz de Fora. Apesar de ter morado muitos anos no Rio, quando adulto, minhas raízes sempre estiveram aqui. Meus parentes, meus amigos – vários de infância, com os quais convivo ainda hoje –, meus lugares. O motivo principal foi de ordem sentimental. Eu morava no Rio e minha mulher, na época namorada, morava aqui. Já era complicado. E eu ia passar a maior parte do tempo em Angola, as oportunidades de nos vermos seriam poucas. Além do mais, meus filhos já tinham saído do Rio. Apareceu uma chance de morar em um sítio em Juiz de Fora, então juntou o útil ao agradável.

 

Suas janelas seriam uma metáfora para os horizontes que precisam ser expandidos?

– Quem dera que fossem sempre vistas assim. Janelas de onde se vê uma vida lá fora sempre nova, diferente, mutante em essência. Quem dera que servissem como instrumento, por menor que fosse, que ajudasse as pessoas a olharem para fora, para longe.

 

Haveria uma preocupação com o meio ambiente em sua obra, que iria além da madeira de demolição e dos azulejos hidráulicos?

– Sinceramente, não pensei nisso quando comecei a série. A preocupação foi basicamente de criar, de trabalhar materiais em busca de uma coisa bonita. Mas creio que há outra metáfora embutida no uso destes materiais: dar uma nova chance àquilo (àquele?) que seria descartado, dar relevância àquilo (àquele?) que passava despercebido.

 

Você utiliza a religiosidade da pomba esculpida e pintada de branco, com raios, que foi consagrada internacionalmente pela Oficina d’Agosto, de Tiradentes. Esse seria um toque de mineiridade em sua arte?

– Sem dúvida. Mais que um toque, houve uma clara inspiração no artesanato mineiro, especialmente o de Tiradentes. Mas deixe-me esclarecer: não busco qualquer sinal de religiosidade na utilização do Divino. Apenas acho muito bonito e que compõe bem com os outros materiais.

 

Já tem planos delineados a partir desta mostra?

– Vamos ver primeiro o resultado da mostra, em termos de receptividade. Mas o que quero, qualquer que seja esta receptividade, é continuar fazendo arte. Já estou trabalhando em uma variante das Janelas (uma das obras que apresento já segue esta variante). O importante para mim é criar, buscar algo novo, inventar, trabalhar nisso, mais do que propriamente o resultado alcançado. Mas seria muito bom ver que a minha arte agrada às pessoas. Além disso, queria, quem sabe, participar de outras mostras.

 

Serviço

Exposição: Janelas – Um olhar para fora

Galeria: Espaço Reitoria

Inauguração: 17 de maio, às 19 h

Visitação: De 18 de maio a 8 de junho, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h | sábados, das 9h às 12h

Local: Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Reitoria do Campus da UFJF

Entrada Franca

Outras informações: 2102-3964

 

 

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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