Hoje é possível afirmar com tranquilidade que Tomie Ohtake é uma das grandes referências da arte abstrata brasileira. Em mais de 60 anos de produção contínua, com interesses pictóricos constantemente renovados, a artista construiu um vocabulário plástico amplo e complexo. Forma, matéria e cor nunca foram pensadas por ela de modo dissociado, mas alternaram suas ênfases para se potencializar mutuamente.
Em Tomie Ohtake – Cor e corpo, apresentamos um conjunto heterogêneo, de diferentes períodos da artista, escolhido pelo prisma da organicidade. Diante da sua obra, nos perguntamos: seria exagero sugerir que em diversos trabalhos existe uma iminência de movimento, uma pulsação típica das formas da natureza? Partindo dessa ideia, um conjunto de cinco pinturas busca enfatizar as analogias corpóreas e orgânicas. Feitas com cores, gestualidades e procedimentos distintos, elas compartilham uma vocação sinestésica, um apelo sensual ao olhar. Quando juntas, são capazes de remeter a diferentes estágios de fecundação, multiplicação, nascimento e crescimento.
Dentre as gravuras – serigrafias, litografias e gravura em metal – destaca-se o uso preciso das técnicas, que permite à artista empregar dispositivos de reprodução imagética para criar formas que impressionam por sua maleabilidade. Há desde as gravuras mais antigas (serigrafias), em que o gesto de Tomie transparece nos contornos irregulares; passando por aquelas que testam a combinação de cores arrojadas (em litografia), em que reproduz em série texturas antes possíveis apenas nas pinturas; chegando até aquelas em que há uma delicadeza programada do ato (em metal), linhas finas que se cruzam, que se sobrepõem e que se encontram sob (ou sobre) uma superfície aquosa.
Nas esculturas, os procedimentos se reafirmam: movimento, manualidade e fluidez. Essas estruturas metálicas são frutos de torções, dobras e voltas realizadas previamente pela própria mão da artista em pequena escala, depois transplantadas da maneira mais fiel possível em dimensão escultural sem que sua fragilidade iminente seja perdida. Suspensas no espaço, as linhas brancas metálicas procuram flutuar.
Essas análises, para esclarecer, são possíveis apenas no olhar de quem assim as quiser observar. Se debatidas com Tomie, teriam provavelmente um silêncio misterioso como resposta. A hipótese não seria combatida e, menos ainda, afirmada. De todo modo, a proposta da exposição se apoia na peculiar morfologia das formas, na intensidade cromática dos campos de cor e na mescla dos planos compositivos. Férteis, as obras sempre nos encaram prenhes de forças de crescimento.
Carolina De Angelis e Paulo Miyada
CAIXA Cultural Brasília
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Mais informações: (61) 3206-9448 e (61) 3206-9449
De terça a domingo das 9h às 21h.
Entrada franca.
Classificação Livre