“Un Eterno Viaje” na Inox

Por Paulo Varella - outubro 23, 2017
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GALERIA INOX APRESENTA “UN ETERNO VIAJE”

Mostra traz uma escultura e uma instalação do cubano Jorge Mayet

 

A Galeria Inox inaugura no dia 27 de outubro a exposição “UN ETERNO VIAJE” do cubano Jorge Mayet com obras produzidas especialmente para a mostra. “Teremos uma escultura de Ceiba e uma instalação composta por seis Bohíos que serão vendidos separadamente. “Pela primeira vez vamos expor esculturas do Bohío”, diz Guilherme Carneiro, sócio da Inox.

 

Radicado na Espanha, o artista plástico traz em suas obras a nostalgia de sua terra natal. Não apenas o sentimento da perda, mas a idealização do que ficou para trás. Na memória afetiva, as lembranças negativas vão se diluindo, tanto pelo distanciamento físico quanto temporal. Seu trabalho reflete a experiência do imigrante, da perda, esperança, recuperação e culpa. “A terra tem uma grande importância, tanto física quanto espiritual para o meu povo. O que nos envolveu espiritual, cultural e mentalmente é a bagagem que nos acompanha pelo resto da vida, como as paisagens que deixamos para trás, permanecem vivas na memória”, afirma Mayet.

 

O Bohío é uma típica casa do camponês cubano feita a partir dos troncos e das folhas de palmeira real. “É uma casa que representa a arquitetura rural típica de Cuba, de quem não tinha dinheiro para construir. Do tronco da palmeira são feitas as paredes e das folhas, o telhado”, explica Mayet. Nessa instalação, seis bohíos com asas e raízes estarão pendurados por uma fina corda de nylon, como se estivessem decolando uma ilha que simula uma pista de aeroporto. “É um pouco como eu me sinto até hoje. Para levantar voo, tive que arrancar minhas raízes, ir embora de Cuba”, conta Mayet.

A Ceiba é uma árvore muito popular em Cuba, cujo o exemplar mais famoso do país estava localizado há mais de 50 anos em uma praça chamada El Templete, onde nasceu Havana. Era um marco na cidade. Segundo Jorge, essa Ceiba, a cada 16 de novembro, era rodado três vezes no sentido anti-horário. É abraçada ou tocada ao mesmo tempo que os desejos são solicitados. É uma árvore sagrada, uma árvore Deus: Iroko de acordo com a religião Iorubá. Acredita-se que o destino, a saúde e o desenvolvimento na vida dependerão da ceiba, porque em suas folhas vivem entidades e espíritos. O costume de venerar esta árvore foi trazido a Cuba pelos africanos. Mas os povos originais já o tinham. Os maias plantaram uma ceiba no centro de suas comunidades e, sob sua folhagem, celebraram os ritos sagrados. Independentemente da religião praticada, para os cubanos simboliza vida, perpetuidade, grandeza, bondade, beleza, força e união.

 

A lembrança é tão marcante, que o artista a leva tatuada no braço. Em 2016, a Ceiba foi infestada por uma praga e teve que ser cortada. A escultura da Ceiba, de Mayet, tem galhos e raízes com plumas.

O trabalho de Mayet parece estar sempre flutuando, sem gravidade, penduras por um fio de nylon. São carregadas de sentimento, de saudade, e evocam Cuba de forma etérea. “É um pouco como eu me sinto, flutuando para um lado e para o outro. Cada dia estou em um lugar”, conta ele.

 

Mayet veio de uma família de artistas. Seu avô já pintava e seu pai foi diretor e professor da Escola Nacional de Belas Artes. O artista estudou pintura na Academia Nacional de Belas Artes San Alexandro, em Havana, mas viver de arte em Cuba era algo impossível. “Iria vender para quem?”, indaga ele.

Quando ainda vivia e pintava em Cuba, Mayet detestava a representação dos bohíos e dos flamboyants dos quadros. “Sempre que pintavam a paisagem cubana, eles estavam lá”, explica o artista. “Me incomodava, pois eu achava que poderiam pintar outras coisas para representar a paisagem”, completa ele.

 

Quando saiu de Cuba, essas memórias retornaram e se tornaram sua maior fonte de inspiração. Quando chegou a Palma de Mallorca, para lembrar dos bohíos, construiu uma miniatura da casa para poder olhar enquanto pintava.

 

“Meu trabalho é sobre a interminável necessidade de expressar momentos que marcaram meu passado e influenciaram meu presente. A maior parte de minhas experiências de vida vem de Cuba. E estas são as inspirações para meu trabalho. Minhas instalações são encarnações de minhas experiências. Elas permanecem indefinidamente suspensas por fios invisíveis, como os que me ligam com minhas memórias e minhas raízes”, conta Mayet.

 

Jorge Mayet vive em Palma de Mallorca. Já expôs em renomadas galerias e instituições como a Maison Particulière Centre D’Art (Bruxelas), o Museu de Art contemporani Es Baluard (Palma de Mallorca), o Museum of Arts and Design (Nova York), a Art Basel Miami, a Fundação La Caixa (Ibiza), a 5ª Bienal de Havana (1993). Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções como a da Saatchi Gallery (Londres), do MAD Museum (Nova York), da Leo Gallery (Xangai), entre outras.  Em 2016, Mayet teve sua primeira grande exposição individual em Nova Iorque, “Paisagem Quebrada”, na Richard Taittinger Gallery.

 

MOSTRA “UN ETERNO VIAJE”

Jorge Mayet

Abertura: 27 de outubro à 18h30

Mostra: de 28 de outubro a 18 de novembro

 

Galeria INOX

Arte Contemporânea | Av. Atlântica 4240, subsolo 101 – Rio de Janeiro.

Segunda à sexta das 11h às 20h | sábado das 11h às 18h.

Tel: 2521-9940

 

 

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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