Alberto Pitta, 'Semente de Humbi' (Série Humbiumbi). 2023. pintura e serigrafia sobre tela.
Alberto Pitta ganha destaque na Nara Roesler São Paulo com a exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”, reunindo 24 trabalhos inéditos e recentes em pintura e serigrafia sobre tela. Nascido em 1961, em Salvador, o artista apresenta obras que exploram a cosmovisão iorubá, na qual Àkùko, Eiyéle e Ekodidé são aves consideradas seres divinos. A curadoria de Galciani Neves ressalta que Àkùko está associado ao galo, mensageiro do tempo e afirmador da ancestralidade; Eiyéle, a pomba branca, simboliza paz, harmonia, honra e prosperidade; já Ekodidé, representado pela pena vermelha ou pelo papagaio, é emblema de proteção, vitalidade e realeza, sendo presença essencial em rituais de iniciação.
A exposição segue uma organização cromática do espaço da galeria Nara Roesler, onde esses três pássaros aparecem com protagonismo nas telas de Pitta. Na primeira série de trabalhos, predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, “como se dessem boas-vindas ao público” adianta a curadora. “Em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar, e, por fim, acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”. Pitta adiciona várias camadas de serigrafia e pintura sobre tela, criando imagens a serem descobertas pelo público.
Na abertura da exposição, foi lançado o livro“Alberto Pitta” (Nara Roesler Books, 2025), com 152 páginas, formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura com serigrafia, bilíngue (português/inglês) e texto de Galciani Neves, além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido. A introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.
Uma das figuras centrais no Carnaval de Salvador, onde atua há mais de 45 anos, o artista Alberto Pitta tem recebido, no Brasil e no exterior, um crescente reconhecimento de sua produção, e participa da 36ª Bienal de São Paulo, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, que em 2023 já havia incluído obras suas na coletiva “O Quilombismo”, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. Este ano, Alberto Pitta participou da exposição “Joie Collective – Apprendre a flamboyer”, no Palais de Tokyo, em Paris, entre outras.
A curadora observa que nos trabalhos de Alberto Pitta“ as formulações espirituais são traduções visuais que apresentam as divindades, os orixás e seus ensinamentos”. “Um compêndio de símbolos reinterpretados pelo artista prima pela beleza das formas. As histórias primordiais contadas nas telas identificam as figuras que no passado mítico participaram dos acontecimentos e que no agora ocorrem como chaves de decifração oracular da vida. Sua produção envolve um ver como artista que rima com aprender sobre a vida”.
Galciani Neves destaca: “Apresentar esses seres no campo da arte é acreditar que sua revoada pode ser um sopro de transformação para reanimar os ares, reorganizar os pensamentos, renovar as esperanças, refazer as conexões. O gesto artístico e insurgente de Pitta – como nos diz a poeta, pesquisadora e dramaturga brasileira Leda Maria Martins – é um dos que mais transformam, pois afeta as imagens estéticas inscritas como únicas e verdadeiras. Por isso, trata-se de um gesto que, por refazer as narrativas e apresentar novos caminhos para enxergar o mundo, nos mobiliza a viver com esperança (“o fermento da revolução”, o que faz emergir o novo, segundo o filósofo e professor sul-coreano Byung-Chul Han) e nos encoraja a reivindicar ambientes onde possamos celebrar, nos alegrar e regozijar”.
Vik Muniz, na introdução do livro, afirma que “nos panos dos abadás, uniformes dos blocos afro e blocos de índios sua linguagem se moldou, impregnada de referências ancestrais e desafiada pela multitude de propostas temáticas resultante da autonomia criativa dos carnavalescos. Pitta é protagonista e produto desse encantamento pleno de tradição, mas não vazio de liberdade”. “Sua pintura se alimenta diretamente da pesquisa e do trabalho com seus tecidos e eventos. Muito da nossa amizade de quase três décadas decorre desse importante discurso entre o museu e a rua. E, nessa equação, Pitta aparece sempre como a pecinha que faltava no quebra-cabeças do popular e do erudito”, salienta o artista. Vik Muniz destaca ainda que “o ateliê do artista fica instalado num galpão que ocupa o mesmo terreno da casa de Mãe Santinha e seu terreiro”. “O barracão de cerimônias do Ilê Axé Oyá foi desenhado por Lina Bo Bardi (1914-1992) – e projetado e adaptado por Marcelo Suzuki — na época em que a arquiteta viveu na Bahia para fazer projetos no centro histórico da cidade”.
Na Nara Roesler São Paulo, estará também um carrinho de cafezinho, feito em madeira, na forma de um caminhão de brinquedo, em alusão aos “carrinhos de cafezinho”, que o artista constrói desde os treze anos de idade. Muito comuns em Salvador, eles são usados pelos vendedores ambulantes para vender cafezinho, normalmente já adoçado com açúcar, colocado em garrafas térmicas e servido em copos de plástico. Pitta mostrou esses carrinhos na exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé” (2000), no Museu de Arte Moderna da Bahia.
Exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”
Local: Nara Roesler São Paulo. Avenida Europa, 655.
Abertura: 2 de setembro de 2025, às 18h
Até: 26 de outubro de 2025
Entrada gratuita
Segunda a sexta, das 10h às 19h ; Sábado, das 11h às 15h
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