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Albrecht Dürer no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) em Lisboa

A obra “São Jerônimo no Deserto” de Albrecht Dürer é uma pintura que faz parte do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) em Lisboa, Portugal. A pintura representa o santo cristão Jerônimo, um dos grandes doutores da Igreja, em seu retiro no deserto.

A obra foi concluída em 1521 e demonstra a habilidade técnica excepcional de Dürer. Na pintura, São Jerônimo é retratado como um eremita, vestido com vestes simples e com a pele de um leão ao seu lado. Ele é mostrado em um momento de contemplação, segurando uma cruz e um livro, simbolizando sua dedicação à fé e aos estudos teológicos.

Dürer captura a intensidade emocional e a espiritualidade do santo por meio de seu estilo realista e detalhado. A atenção meticulosa aos detalhes, como as rugas na pele de Jerônimo e os pelos do leão, revela a maestria técnica de Dürer na pintura.

A obra exemplifica seu estilo único e sua capacidade de combinar a precisão e a habilidade técnica com a expressão emocional e a profundidade espiritual. De proveniência portuguesa, uma vez que o seu primeiro proprietário foi Rui Fernandes de Almada, um dos funcionários da feitoria portuguesa na Flandres, em Antuérpia, e um dos grandes amigos conhecidos do pintor.

No Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, a pintura de Dürer é apreciada pelos visitantes que têm a oportunidade de contemplar a sua beleza e significado. A presença dessa obra de Dürer no MNAA destaca a importância do artista alemão no cenário artístico europeu e sua influência duradoura na arte e na cultura visual.

MNAA recebeu este Verão não um, mas dois retratos do artista alemão – um sem dúvida da sua autoria e outro com uma atribuição interrogada. O director espera, assim, que o público português possa alargar o conhecimento de um dos mais influentes artistas da pintura quinhentista, nomeadamente sobre a sua importância na reinvenção do retrato.

O retrato de Jakob Muffel, pintado por Albrecht Dürer no final de sua vida, representa um homem mais jovem do que o típico retrato de um idoso de barbas brancas. Jakob Muffel, que faleceria no mesmo ano em que a pintura foi realizada, em 1526, encomendou a obra a Dürer.

Diferentemente de outros retratos encomendados por amizade, o retrato de Muffel foi uma encomenda oficial da Câmara de Nuremberg, onde Muffel era vereador e presidente. A pintura, que tem as mesmas dimensões do retrato do senador Hieronymus Holzschuter, provavelmente seria destinada à câmara da cidade, que recentemente havia decidido se alinhar ao luteranismo.

O historiador de arte Erwin Panofsky, em sua obra magistral sobre Dürer, observou a diferença na postura dos dois homens retratados. Holzschuter aparece de forma descontraída e quase brincalhona, enquanto Muffel apresenta uma pose rígida e séria.

No quadro em exposição no MNAA desde 23 de Junho, como parte da iniciativa Obra Convidada, Jakob Muffel ocupa a maior parte da composição, destacando-se sobre um fundo azul. O rosto é retratado com meticulosidade, revelando a habilidade de Dürer em capturar as linhas e os detalhes, resultando em uma expressão facial marcada por traços endurecidos. O retrato de Muffel é um exemplo excelente da arte de retratar de Dürer e de suas habilidades analíticas na representação da figura humana.

Nesta obra, Dürer concentra o retrato apenas no rosto da figura, conhecido como “retrato de busto”, omitindo as mãos e os adereços. O modelo de Dürer, que visitou a Itália mais de uma vez, como evidenciado pelo Retrato de um Jovem (1506), atualmente no Palazzo Rosso em Gênova, adquiriu uma competência técnica na definição dos volumes e da fisionomia, conferindo à obra uma dimensão quase escultórica. A ênfase no retrato do homem sem adereços pode estar relacionada à criação do herói protestante, aludindo à Reforma da Igreja que abalou a Cristandade no século XVI.

Para a história de arte portuguesa talvez o segundo retrato que está agora no MNAA seja ainda mais interessante. Envolve uma longa discussão à volta de um suposto retrato feito por Dürer de Damião de Gois (1502-1574), humanista e historiador, cronista de D. Manuel I, uma das figuras mais relevantes do Renascimento em Portugal.

O retrato em questão, que provém de uma coleção privada escocesa, encontra-se inacabado e foi atribuído a um mestre desconhecido. No entanto, é provável que tenha sido baseado em uma pintura de Dürer do feitor português, que, infelizmente, está perdida. Embora tenha sido erroneamente identificado como Damião de Góis no século XVI, é importante ressaltar que este homem retratado por Dürer desfrutou de suficiente importância para inspirar uma série de cópias, sendo que o desenho preservado atualmente na Galeria Albertina, em Viena, provavelmente é a fonte original.

A identificação com Damião de Góis foi estabelecida na legenda de uma gravura publicada no século XVI por Philips Galle, cujo retrato possivelmente chegou às mãos de Galle através de um espião espanhol. No entanto, o retrato retrata na verdade Benito Arias Montano (1527-1598), um padre, teólogo e escritor, conhecido por sua edição da Bíblia Poliglota. Montano chegou a Portugal em 1578 a serviço de Filipe II, dois anos antes de se tornar rei de Portugal por meio da União Ibérica.

Embora o retrato tenha circulado durante as últimas décadas do século XVI como sendo de Damião de Góis, tanto em coleções como em gravuras isoladas, uma dessas gravuras foi incorporada a uma obra escrita por Damião de Góis intitulada “Urbis Louaniensis Obsidio”, em uma edição da Biblioteca Nacional, que também pode ser vista no MNAA ao lado do retrato escocês. Mesmo que o retrato não represente fielmente o rosto do humanista português, é provável que retrate um personagem relativamente famoso e associado aos portugueses, uma vez que existem outras versões do retrato, provavelmente mais antigas do que a gravura.

Considerando o retrato “fictício” de Damião de Góis, além do retrato inacabado escocês que pode ser visto em Lisboa, existem outros três retratos pintados: um de pequenas dimensões, cuja localização é desconhecida, outro que faz parte das coleções reais inglesas e um terceiro que pertence ao museu da Fundação Phoebus. Esses retratos são mais ou menos similares e parecem se basear no desenho de Dürer, ou serem derivados dele, da Galeria Albertina. As cópias inglesa e de Antuérpia apresentam claramente uma influência flamenga, exibindo um rosto mais idealizado, em contraste com o estilo de Dürer.

Todos os retratos retratam o mesmo homem com barba, vestindo um casaco com gola de pele e um chapéu que cobre a cabeça. Em duas das versões, o homem exibe um medalhão representando a Fortuna decorando o chapéu, como é o caso do retrato que podemos ver atualmente em Portugal.

A conexão entre a gravura de Galle e o desenho da Galeria Albertina foi estabelecida por Joaquim de Vasconcelos, pioneiro da história da arte em Portugal. No entanto, para que o retratado possa ser Damião de Góis e ter sido pintado por Dürer, os dois teriam que ter se encontrado e se conhecido. A única oportunidade teria sido em Antuérpia, antes de julho de 1521, quando Dürer deixou a cidade. Embora Damião de Góis tenha sido nomeado para a feitoria pelo rei D. Manuel, como ele mesmo escreve no prefácio de uma de suas obras, ele só chegou à Flandres durante o reinado de D. João III, ou seja, em 1523, na mesma época em que Almada foi promovido a feitor.

É claro que o humanista português poderia ter visitado Antuérpia antes de 1523, como argumentou a biógrafa norte-americana Elisabeth Feist Hirsch nos anos 60, conforme mencionado no site Durer Portrait, que reúne as últimas discussões científicas em torno do suposto Retrato de Damião de Góis. Argumenta-se que Damião de Góis não teria tido tempo para viajar a Antuérpia e retornar a Lisboa a tempo de estar presente nos aposentos do rei D. Manuel I quando este faleceu em dezembro de 1521. No entanto, havia viagens frequentes nos navios do rei entre Lisboa e Antuérpia, percorrendo uma distância de 1200 milhas, o que levaria apenas 12 a 13 dias a uma velocidade de quatro nós. Se Damião tivesse chegado a Antuérpia antes do retorno de Dürer a Nuremberg em julho de 1521, ele poderia ter sido o modelo. Na época, ele teria 20 anos.

O diretor do museu nacional argumenta que Damião de Góis só está documentado em Antuérpia em 1523, ironizando o fato de Dürer não ter retratado Góis, o que seria uma “verdade inconveniente” para a historiografia portuguesa, como apontado por Matthias Mende, um especialista no pintor alemão, em 1985.

Nota: Se você é um entusiasta da arte e da história, não perca a oportunidade de visitar as obras de Dürer no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) neste verão. Além de apreciar o talento excepcional do artista alemão, você terá a chance de mergulhar em narrativas fascinantes sobre sua vida e seu legado.

Entre as obras em destaque está o suposto Retrato de Damião de Góis, objeto de debates e especulações que conectam Dürer a esse renomado humanista português do Renascimento. Essa intrigante história, envolvendo possíveis encontros entre os dois em Antuérpia, adiciona uma camada adicional de mistério à coleção.

No MNAA, você encontrará uma variedade de retratos e pinturas de Dürer, permitindo que você explore diferentes aspectos de sua arte. A oportunidade de se aprofundar nessas narrativas e investigar a conexão entre Dürer, Damião de Góis e outros personagens históricos certamente enriquecerá sua visita ao museu.

Aproveite este verão para mergulhar no fascinante mundo de Dürer e descobrir as histórias por trás de suas obras-primas. O MNAA é um local imperdível para todos os amantes da arte e da cultura, proporcionando uma experiência única e enriquecedora.

Sobre Albrecht Dürer

Albrecht Dürer, nascido em 21 de maio de 1471, em Nuremberg, Alemanha, é considerado um dos artistas mais importantes e influentes do Renascimento. Sua ampla gama de habilidades e a maestria em diversas técnicas artísticas, como pintura, gravura e matemática, estabeleceram Dürer como um verdadeiro gênio artístico.

Desde muito jovem, Dürer mostrou interesse e talento nas artes visuais. Seu pai, um ourives, reconheceu suas habilidades e o enviou para aprender a arte da gravura. Dürer dominou essa técnica rapidamente e suas gravuras detalhadas e intricadas são consideradas algumas das melhores já produzidas. Sua precisão técnica, uso magistral do contraste e atenção meticulosa aos detalhes trouxeram uma nova dimensão para a gravura como forma de expressão artística.

Além de sua proficiência na gravura, Dürer também se destacou como pintor. Suas pinturas são conhecidas por sua técnica impecável e realismo impressionante. Dürer foi um dos primeiros artistas do norte da Europa a assimilar as influências italianas do Renascimento, trazendo um estilo único e inovador para suas obras. Seus retratos são particularmente famosos, retratando a individualidade e a personalidade de seus modelos com uma notável habilidade de capturar a essência de cada pessoa.

Dürer também explorou temas religiosos em suas obras, refletindo a profunda espiritualidade da época. Suas representações de figuras bíblicas são marcadas por uma combinação de idealização e humanidade, transmitindo emoções profundas e significados simbólicos.

Além de suas habilidades artísticas, Dürer também era um estudioso ávido e tinha um interesse particular em matemática e teoria da arte. Ele escreveu tratados sobre proporção, perspectiva e teoria da cor, contribuindo para o desenvolvimento das bases teóricas da arte renascentista.

A influência de Albrecht Dürer se estendeu além de suas próprias obras. Ele estabeleceu um estúdio em Nuremberg, que se tornou um importante centro artístico e atraiu discípulos e admiradores de toda a Europa. Seu trabalho inspirou gerações futuras de artistas e sua influência pode ser vista nas obras de mestres posteriores, como Rembrandt e Rubens.

Hoje, as obras de Albrecht Dürer são celebradas e exibidas em museus de todo o mundo. Seu legado artístico continua a cativar e inspirar espectadores, demonstrando a habilidade de um verdadeiro mestre em transcender o tempo e capturar a essência da condição humana.

Albrecht Dürer, com sua genialidade, talento multifacetado e dedicação incansável à arte, permanece como um dos maiores ícones do Renascimento, deixando um impacto duradouro no mundo da arte e influenciando gerações de artistas com seu legado extraordinário.

Serviço

Albrecht Dürer no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) em Lisboa
O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) está localizado em Lisboa, Portugal, no endereço Rua das Janelas Verdes, 1249-017 Lisboa.

O preço dos ingressos para visitar o museu é de 10 euros para adultos. Estudantes, maiores de 65 anos e pessoas com deficiência pagam 5 euros. Menores de 12 anos têm entrada gratuita.

O MNAA está aberto ao público de terça a domingo, das 10h às 18h. O museu fecha às segundas-feiras, bem como nos dias 1º de janeiro, domingo de Páscoa, 1º de maio e 25 de dezembro.

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mariapaula

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