A Arte132 Galeria apresenta a mostra “Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado” oferecendo um amplo panorama da produção artística em bordado, a partir da obra de 41 mulheres artistas e seis coletivos de bordadeiras (Coletivo Artesãs da Linha Nove, Coletivo BordaLuta, Coletivo Linhas de Sampa, Coletivo Linhas do Horizonte, Coletivo Pontos de Luta e Matizes Dumont).
Com curadoria da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz, a ideia é explorar várias potencialidades estéticas e políticas do bordado. A mostra também pretende desnaturalizar a associação entre trabalho feminino e a técnica, desmistificando o caráter supostamente “naïf”, historicamente vinculado ao ato da costura. A exposição entra em cartaz dia 26 de agosto e segue até 21 de outubro.
A curadoria selecionou artistas de diferentes contextos, gerações, raças e regiões para mostrar a importância do bordado na história da arte brasileira. Entre os trabalhos, estão desde uma tapeçaria feita pela carioca Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), artista negra que ganhou recentemente importante retrospectiva no Museu de Arte Assis Chateaubriand (Masp) em 2022, a uma obra da série Livro/Objetos (“Ponto a Ponto”) da veterana Anna Maria Maiolino, bem como trabalhos de artistas mais jovens como Vivian Caccuri e Rebeca Carapiá.
Nesta perspectiva, algumas obras destacam-se por seu inegável caráter político, como a da artista Lívia Aquino, cuja obra “2720. Viva Maria” (que tem a palavra “Canalhas” bordada em feltro sobre bandeira de tecido) é inspirada em um trabalho do concretista Waldemar Cordeiro (1925-1973). Já outros trabalhos, caso de “Cada conta, um rio…”, de Hariel Revignet, mostra símbolos de culturas de matriz afro-brasileira, permeados por temas como religiosidade, pertencimento e identidade em uma obra feita com acrílica sobre tela com costura de guias de Lágrimas de Nossa Senhora.
Com diferentes pontos de partida e concepções acerca do bordado, a exposição mostra como os processos artísticos podem se complementar ao aproximar, no espaço expositivo, trabalhos mais conceituais e outros eminentemente figurativos. “Colocamos em diálogo obras mais autorais, e que têm a ver com processos artísticos particulares, com bordados coletivos, nessa atividade que emana o ‘cuidado de si e do outro'”, pontua Schwarcz.
Ao percorrer a história do bordado no Brasil, a mostra se depara com questões sociais e políticas, como o protagonismo das mulheres na tecelagem, levando em consideração um dado levantado em 2022 pela ONU Mulheres que revela que, no país, dos mais de um milhão de profissionais de costura, 87% deles são mulheres. A exposição busca desvincular da profissão do bordado o preconceito arraigado, como se se essa fosse uma atividade exclusivamente doméstica e da domesticidade; para esse contraponto, a curadora propõe o bordado como forma de expressão, reivindicação e luta.
Artistas: Adriana Varejão, Adriana Banfi, Ana Amorim, Ana Maria Tavares, Anna Maria Maiolino, Brígida Baltar, Carolina Cordeiro, Chiara Banfi, Claudia Lara, Delba Marcolini, Eliana Brasil, Eva Soban, Fernanda Gomes, Guga Szabzon, Hariel Revignet, Heloísa Marques, Jessica Mein, Julia Panadés, Kênia Coqueiro, Laura Lima, Leda Catunda, Lidia Lisbôa, Lívia Aquino, Madalena Santos Reinbolt, Madeleine Colaço, Maria Ayuni Huni Kuin, Marlene Barros, Nadia Taquary, Nazareth Pacheco, Paloma Bosquê, Rebeca Carapiá, Rosana Palazyan, Rosana Paulino, Sandra Gamarra, Sol Casal, Sonia Gomes, Tadáskía, Tamani Huni Kuin, Tania Candiani, Vivian Caccuri e Yuli Anastassakis.
Coletivo de bordadeiras: Coletivo Artesãs da Linha Nove, Coletivo BordaLuta, Coletivo Linhas de Sampa, Coletivo Linhas do Horizonte, Coletivo Pontos de Luta, Matizes Dumont.
Fundada em 2021 por Telmo Porto, a Arte132 acredita que a arte de um país, e de um período, não é constituída apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem em determinado momento, artistas estes que abriram e alargaram os caminhos da arte brasileira. Dessa forma, expõe e dá suporte a mostras com o compromisso de apresentar arte relevante e de qualidade ao maior número de pessoas possível, colecionadores ou não. A casa (concebida pelo arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, em 1972), para além de uma galeria de arte, é um lugar de encontros, diálogos e descobertas.
‘Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado’
Local: Arte132 Galeria. Endereço: Avenida Juriti, 132, Moema, São Paulo – SP
Período expositivo: 26 de agosto a 21 de outubro
Visitação: segunda a sexta, das 14h às 19h. Sábados, das 11h às 17h
Entrada gratuita
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