A visão, um dos sentidos essenciais da existência humana, é carregada de ideias pré-estabelecidas sobre os fenômenos que fazem parte do cotidiano. A percepção torna-se tão automatizada que só é possível constatar que se está enxergando quando o objeto de observação desafia o olhar com alguma característica que foge do comum.
Aqui, é preciso suspender os pré-julgamentos e enxergar o novo objeto de forma pura. É o que propõe o artista Claudio Alvarez na exposição Quando Vemos, em cartaz na Galeria Lume, de 3 de dezembro a 6 de fevereiro.
A mostra reúne 12 obras, produção recente do artista, nas quais ele explora figuras reais e virtuais, fazendo uso de materiais como aço inox, madeira, vidro e acrílico, lentes, refletores, imãs e espelhos. Explica o artista:
Apesar dos elementos óticos e tecnológicos, o trabalho não visa apresentar algo virtuoso em termos científicos. Interessa-me a questão poética e filosófica das obras. Esses elementos servem apenas como ferramenta para construir uma narrativa
Para Alvarez, mais do que os fenômenos físicos, que estão presentes no cotidiano, interessa investigar a percepção humana e descobrir como as pessoas funcionam em relação a convivência com o mundo externo. O artista cria mecanismos em que aquilo que se vê entra em contradição com aquilo que se sabe. Claudio afirma:
Algumas obras exploram, de maneira mais direta, ilusões de ótica, mas quando observadas, parecem reais e de fato o são enquanto aparência. Este estranhamento diante do objeto pretende ser uma provocação e que, acredito, deve levar o espectador a algumas possíveis indagações
Na obra Odisseia (2019) ele apresenta uma espécie de transformação material. O artista criou a partir de movimentos gerados por motores elétricos e materiais que provocam interações entre luz e sombra uma mudança de estado sólido para o líquido. A obra simula a partir dessas ferramentas a movimentação da água em um aquário. Alvarez propõe jogos visuais que transitam entre o real e o virtual e instigam o visitante a refletir sobre sua própria percepção.
Em Janelas Invisíveis (2019) Claudio cria, através de espelhos, duas figuras que parecem ser janelas, preenchidas por círculos iluminados que se avolumam repetidamente. Neste trabalho, o artista faz referência àquilo que é visível através destas supostas janelas e, como em outras obras, remete à possibilidade de coexistência de diversos espaços simultaneamente. A multiplicação infinita de elementos de luz e sombras sugere um percurso virtual onde os limites deixam de existir.
Claudio Alvarez (1955) nasceu em Rosário, na Argentina, e desde 1977 vive e trabalha em Curitiba. A emblemática coletiva Como vai você geração 80?, realizada em 1984 no Parque Lage, no Rio de Janeiro, marcou sua entrada no cenário artístico no Brasil e abriu precedentes para uma série de exposições nacionais e internacionais.
O artista investiga a ordem conceitual e histórica sobre o papel da arte no mundo tecnológico, e convida o público a experienciar vivências lúdicas por meio de suas obras.
Já expôs individualmente em instituições como Sesc Paço da Liberdade (Curitiba), Museu PUC (Curitiba) e Museu de Arte Contemporânea (Curitiba) e em coletivas como Bienal de Curitiba, Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro), Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), Casa da América Latina (Portugal), Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (São Paulo) e Museu da Casa Brasileira (São Paulo). Sua obra integra coleções públicas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Museu da água (Lisboa), Museu Oscar Niemeyer, entre outras.
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