Exposições e Eventos

Inn Gallery recebe “A Pintura da Condição Humana”, obra histórica de Doris Homann

Chega a São Paulo a exposição de 60 obras da revolucionária artista de origem alemã Doris Homann (1898-1974), que fica na Inn Gallery de 8 a 18 de outubro. Artista que sobreviveu aos horrores de duas guerras mundiais, soube pintar as dores, lutas e transformações de seu tempo, em um legado artístico ainda pouco conhecido no Brasil, país que escolheu para viver com suas duas filhas, Claudia e Lívia.

Chamada Doris Homann: A Pintura da Condição Humana, a exposição documenta as múltiplas facetas da vida e da obra da pintora, ceramista, escultura e gravurista.

Para a curadora da mostra, Lígia Testa, diz:

“o objetivo é apresentar, de forma inédita, uma biografia de enorme riqueza e uma obra que reflete angústias e também esperanças de períodos tumultuados da história da humanidade”.

Fruto do desejo das filhas em homenagear vida e obra da mãe, a exposição tem sido elogiada pelos artistas e demais visitantes por sua importância histórica. Lívia, a primogênita, conviveu 4 anos ao lado da escritora Clarice Lispector, que a incentivou morar no Brasil, mas faleceu poucos dias antes da abertura da exposição. No entanto, participou ativamente de todo o processo de idealização, formulação e produção.


Artista intensa e apaixonada

Testa destaca que,

“Doris pinta a dor, a terra nos engolindo nas guerras, a lama nos tragando em tons terrosos; os olhos jovens de Doris veem a primeira guerra, quando querem ver os romances da juventude, ao amadurecer, eles veem a segunda guerra, quando querem ver as filhas aninhadas a ela; mulher intensa, apaixonada, pinta também o belo, a paisagem, retrata muita gente, quem pede, quem ela quer, quem encontra pelo caminho; mulher que quer um mundo menos desigual”.

Segundo ela, usando carvão, papel e madeira, Doris não desperdiça nenhum suporte e mostra preferência por cores terrosas.

“Porque a terra permeia sua vida em muitos sentidos, ela trabalha a terra com as mãos e abandona a terra-mãe, uma, depois outra, até mudar-se de continente; mulher que quer um mundo menos desigual”.

Doris não se importava em passar dias trancada em seu atelier por não estar satisfeita com a obra em andamento. Nascida no moralista século 19, estava muito à frente de seu tempo, conforme destaca Lígia.

“Pinta nus, enaltece o sexo, conhece os prazeres femininos muitas décadas atrás e descreve-o detalhado em imagens; pinta visões, gente voando, vultos subindo, quiçá almas saindo dos corpos”.

Doris não se importava em passar dias trancada em seu atelier por não estar satisfeita com a obra em andamento. Nascida no moralista século 19, estava muito à frente de seu tempo, conforme destaca Lígia.

“Pinta nus, enaltece o sexo, conhece os prazeres femininos muitas décadas atrás e descreve-o detalhado em imagens; pinta visões, gente voando, vultos subindo, quiçá almas saindo dos corpos”.

Relevância histórica

Iniciada em Campinas – onde morava Lívia, e vive Claudia, a caçula de Doris, a mostra chega a São Paulo, revelando a importância histórica e o grande destaque que obteve no mundo artístico. A pintora Pama Loiola, por exemplo, evidencia a coragem de Doris, que “não teve medo de lidar com temas fortes, como a dor e a morte”, colocando o dedo na ferida com as suas obras. Já a pintora Rachel Ferrari, criadora de uma obra multicolorida, considera que “Doris expressou com qualidade e dignidade os próprios sentimentos e a visão do mundo que testemunhou”, sendo seu legado artístico um documento visual da história recente da humanidade.

Ouvidor e mestre de cerimônias do Instituto CPFL Cultura, Giancarlo Arcangeli considera que Doris Homann é autora de uma pintura épica, lírica, mostrando com profundidade mas também leveza temas cruciais para o ser humano. Ele evidencia seus “retratos emblemáticos” e entende que muitas das obras de Doris apresentam traços surrealistas. “É uma pintura analítica, investigativa sobre o humano”, resume.


Vida e obra

Nascida em Berlim, no dia 16 de maio de 1898, em família de classe média alta, a artista vivenciou infância e adolescência nos últimos momentos do Império Alemão, sob o domínio de Wilhelm II, até sua abdicação em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial.Com talento precoce, Doris estudou no Konigstaatlisches Lizeum (Liceu Real) e na Academia de Belas Artes, integrando o círculo de artistas reunidos em torno do escultor e pintor Otto Freundlich.

Defendendo ideais libertários durante o período de efervescência na República de Weimar (1918-1933), Doris atuou em vários jornais, ilustrou livros e protagonizou várias exposições, individuais e coletivas, convivendo com grandes expressões da cultura como Vladimir Mayakovsky (1893-1930), George Grosz (1893-1959), Wassily Kandinsky (1866-1944), Bertold Brechet (1898 -1956) e Kathe Kollwitz (1867-1945).

O Café Leon, em Berlim, era um dos principais pontos de encontro da intelectualidade europeia e nele Doris passou bons momentos com o marido, o jornalista e dramaturgo Felix Gasbarra (1895-1985). Nascido em Roma, Gasbarra vivia desde os dois anos com a família na Alemanha. Ele foi colaborador de Erwin Piscator (1893-1966), um dos nomes que revolucionaram o teatro contemporâneo. Data de 1927 o primeiro “coletivo dramatúrgico” fundado por Piscator, em parceria com Gasbarra, e que teria Bertolt Brecht (1898-1956) como um ativo participante.

Com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, a situação política, econômica e social na Alemanha ficou cada vez mais insustentável e logo Doris Homann transferiu-se com as filhas e marido para a Itália, onde, em setembro de 1943, presenciou o bombardeio aliado à cidade de Frascati, onde residia com as filhas. A primogênita, Lívia, foi a primeira a mudar-se para o Brasil.

Livia: Doris Homann, 1965.

Em 1948 chegam ao Rio de Janeiro Doris e Claudia, onde passam a viver. Reconhecida como grande artista, Doris realiza na então capital federal várias exposições de sucesso. A primeira ocorreu no final de 1950, na sede do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, prédio inaugurado em 1943 e considerado marco da arquitetura moderna brasileira Sua galeria durante muito tempo foi considerada a mais badalada do Rio de Janeiro.

Muitas outras exposições e premiações ocorreriam e uma das últimas, em 1967, foi na Galeria Cristalpa, em Copacabana, como parte das homenagens a Herbert Moses (1884-1972), que encerrava seu longo mandato na presidência da Associação Brasileira de Imprensa. A apresentação da exposição teve a assinatura do jornalista e crítico de arte Celso Kelly, que resumiu sobre a artista: “A pintora já acumulou significativa obra plástica, exercitando a pintura nas mais variadas técnicas e revelando a segurança no métier, ao lado de sua vocação para o experimental e para o ilustrativo.

Em algumas realizações, ainda se sente a presença do naturalismo, ao largo de generosas interpretações. Em outras, está na vizinhança da abstração e da decoração. Numas e noutras, a composição é balanceada, as cores estranhas e harmoniosas, os ritmos bem desenhados. Não será demais reconhecer aqui e ali uma tendência surrealista. Em tudo, porém, a marca da artista se verifica na força inegável de seu talento”.


Serviço

  • Exposição: A Pintura da Condição Humana
  • Data: 8 a 18 de outubro
  • Local: Galeria Física Inn Gallery – Rua Dr. Melo Alves, 138 – Jardins, São Paulo
  • Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10 às 19 horas
  • Sábado das 11 às 15 horas
  • Site: http://www.inngallery.com.br/ e https://www.ligiatesta.com.br/
Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

Recent Posts

Roteiro de arte para Dezembro

As férias estão chegando, e São Paulo está cheia de opções culturais imperdíveis! Com uma…

5 dias ago

Como ganhar dinheiro sendo artista: um guia prático

Fizemos um guia prático com dicas para te ajudar a ganhar dinheiro sendo artista.  Hoje,…

1 semana ago

Início do Neoclassicismo – Antiguidade grega, imitação e poesia

Da segunda metade do século XVIII ao início do século XIX ocorreram inúmeras discussões no…

1 semana ago

Michelangelo e a pintura do teto da Capela Sistina

A Capela Sistina iniciada no século XV, deve seu nome ao Papa Sixto IV della…

1 semana ago

A arte grega e seus diferentes períodos

Muitos séculos e fases caracterizaram o período de produção da arte grega. Embora se sobreponham,…

1 semana ago

O “boom” do mercado de arte ultra contemporânea

O termo “arte ultracontemporânea” foi adotado pela plataforma Artnet para designar trabalhos feitos por artistas…

1 semana ago