O Paço Imperial apresenta a primeira mostra individual de Mirela Cabral no Rio de Janeiro, sob curadoria da crítica Ligia Canongia, com abertura, no sábado, 3 de agosto, a partir das 14h. Intitulada Olhos cheios, a exposição ocupa três salas do Paço [Trono, Dossel e Amarela], com 20 pinturas, 17 sobre tela e três sobre papel, todas dos anos 2020.
Mirela se considera autodidata nas artes visuais, embora tenha frequentado programas de arte na Parsons Paris, na Academia de Cinema de Nova York [NYFA] e na Universidade da Califórnia [UCLA]. Paralelamente graduou-se em Comunicação Social, com habilitação em Cinema, pela Fundação Armando Alvares Penteado [SP].
O conjunto inédito que a artista mostra agora é de pintura abstrata, mas nem sempre foi assim. No início, Mirela pintava figurativo. “Explodi a figura e ela se tornou paisagem, para ganhar mais pluralidade, mais rítmica e melhor negociação com o espaço”, revela Mirela.
Sua relação com o suporte é original: pinta a mesma tela em várias posições, porque “sempre penso nas bordas, se o trabalho funciona em todos os sentidos”, diz ela. A artista também consegue trabalhar em várias pinturas simultaneamente, gosta de sentir que uma contamina a outra, enquanto alguma chama mais à finalização.
Mirela leva para a tela o que está no seu caminho, a observação diária dos cantos, da arquitetura do ateliê, da rua, as experiências cotidianas, a pesquisa, e trava, em sequência, um embate com a própria matéria.
No passado, a artista fotografava recortes de paisagem para transportar para a pintura. Hoje faz marcas na superfície pictórica com carvão “para esvaziar a mente e não tornar a tela branca tão intimidadora”, como ela desabafa. Atualmente, evita fotografar para se submeter ao resíduo da memória, do que ecoa no pensamento, para transferir em imagem.
O que Mirela deseja entregar ao espectador são pistas, gestos sugestivos a cenas, sem afirmar permanências e sem compromisso com a representação fiel. “Quero mostrar o acúmulo de pistas para o observador encontrar o percurso da pintura na própria pintura”, ela sugere.
A crítica de arte Ligia Canongia, atesta, no texto inédito sobre a exposição, que “A pluralidade de gestos sucessivos e simultâneos, a diluição das formas e o relacionamento convulsivo das cores fazem dessa pintura uma verdadeira escrita automática, um complexo de planos justapostos, que jamais se estabilizam na superfície e que parecem se mover continuamente ao nosso olhar”.
Sobre o que permanece desde que começou a pintar, Mirela conta que o tempo de ateliê, a rotina diária seguida fielmente e a bidimensionalidade são suas aliadas mais constantes.
[1992] nasceu em Salvador, foi criada em São Paulo, onde mora e trabalha. Dedica-se inteiramente às artes visuais.
Em 2023, Mirela fez a individual Coisas Primeiras, na Paulo Darzé Galeria, em Salvador, Bahia, e Between Handrails, no Kupfer Project, em Londres, Inglaterra, sob curadoria de Penelope Kupfer. Ainda no ano passado, participou da coletiva Acordes, no Espaço Largo das Artes, e da SP Arte, com a galeria Portas Vilaseca.
Com a galeria Kogan Amaro, esteve na SP Arte de 2020, 2021 e 2022, e fez uma individual na Kogan Amaro de Zurique, Suíça, e outra mostra solo na Kogan Amaro de São Paulo, com curadoria de Agnaldo Farias, ambas em 2021. Entre 2018 e 2020, participou da ArtRio, da Feira Latitude, da Feira Parte, na Galeria Emma Thomas, sob curadoria de Ricardo Resende, entre outras coletivas.
Mirela Cabral tem trabalhos nas coleções do Museu FAMA, Itu, São Paulo, e na Yuan Art Collection, de Lucerna, Suíça.
Situado no corredor cultural do Rio de Janeiro, o Paço Imperial é um raro exemplo de monumento histórico que, em diferentes momentos, foi palco de importantes acontecimentos de nossa história.
Antiga residência do governador e do Vice-Rei no século XVIII, o Paço Imperial no Rio de Janeiro foi o centro das movimentações políticas e sociais da época, registrando importantes fatos históricos do Brasil Colônia, Real e Imperial. Entre eles, o Dia do Fico, a Abolição da Escravidão e a Proclamação da Independência do Brasil. Em 1808, com a vinda de Dom João VI, o local passou a se chamar Paço Real e recebeu o atual nome em 1822, com Pedro I e Pedro II, até a Proclamação da República, em 1889.
Atualmente, é um espaço multicultural com programação de artes visuais, artes cênicas, música, seminários e serviços de lojas e restaurantes. As expressões do mundo atual dialogam com as referências do passado, convidando o visitante a passear pelos tempos. Sua programação diversificada inclui exposições de artes visuais, arquitetura e design, espetáculos de artes cênicas, concertos musicais, seminários e palestras.
Exposição “Olhos cheios”, de Mirela Cabral
Abertura: sábado, 3 de agosto, a partir das 14h
Data: até 20 de outubro. De terça a domingo e feriados, das 12 às 18h.
Local: Paço Imperial | Praça XV de Novembro 48 | Centro | Rio de Janeiro – RJ
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