A mostra, que abre no dia 19 de agosto, sábado, é composta de cerca de 80 imagens de diferentes séries da artista.
Com uma técnica autoral, na qual elementos recortados das imagens lançam vazios e tridimensionalidades eloquentes, a artista pontua realidades subtraídas em diversos continentes.
Uma geografia que é cada vez mais desumana e destruidora é o mote central da obra da fotógrafa Alessandra Rehder. Baseada em Londres, a artista é na verdade uma viajante inquieta que, ao conhecer e conviver com as distintas paisagens e realidades humanas de países como Camboja, Índia, Indonésia, Filipinas, Jamaica, Jordânia, Japão, Tailândia, Turquia e West Papua (politicamente província da Indonésia), produziu registros sensíveis e inquietantes tanto de pessoas quanto de paisagens. São trabalhos resultantes dessas expedições, como os que pertencem à sua primeira exposição em Paris “Todos os olhos do mundo”, na qual retrata crianças de diversas realidades, que a artista apresenta no Centro Cultural Correios a partir do dia 19 de agosto. A mostra tem curadoria de Wagner Barja e segue em cartaz até 6 de outubro.
Barja destaca a técnica da subtração empregada a suas fotografias como algo que distingue o trabalho da artista. “O emprego de um vocabulário plástico experimental diferencia suas composições da simples documentação. Essa narrativa plástica é construída em consonância com o título da exposição. Após serem ampliadas, as fotos passam pelo ato do cortar e do montar, o que transforma a superfície plana em baixo relevo. A partir dessa ação, o conceito de subtração formal salta aos olhos”, diz o curador, diretor do Museu Nacional de Brasília. Para Barja, com esse sutil e delicado gesto, no qual a sobreposição de pequenos recortes são delicadamente presos sobre a fotografia com alfinetes de cinco milímetros de altura, as imagens tornam-se tridimensionais e Alessandra chama atenção para as questões “dos excluídos e da natureza em declínio”.
Pela primeira vez, contudo, desde que começou a expor suas luminosas imagens de exemplares da flora de todo o mundo, Alessandra, além de subtrair e sobrepor em uma mesma imagem criando florestas “superexuberantes”, exibe as imagens esvaziadas de folhas. “Trago, assim, um olhar dúbio sobre a tecnologia, lançando uma reflexão sobre a possibilidade de ela suprir ou não uma transformação e solução ao que estamos fazendo ao meio ambiente”, pontua.
Já as séries que apresentam pessoas fotografadas, como Todos os Olhos do Mundo, abrem uma janela aqui não para uma natureza que já não está ali, mas para a realidade de uma série de comunidades de países com índices de desenvolvimento humano (IDH) baixos. Essa “Desumana Geografia”, nas palavras do curador Wagner Barja, está sinalizada pela retirada de elementos como baldes, canos, brinquedos e comida. A artista explica: “Durante minha estadia nas comunidades observava em cada fotografia registrada qual era seu melhor problema a ser trabalhado e, então, subtraía um elemento que o simbolizasse”. Nas fotos da Indonésia, por exemplo, cujo maior problema observado em sua imersão é o sanitário, baldes, canos e água potável foram subtraídos e colocados num plano atrás do que esses elementos humanos habitam. A fotógrafa sinaliza, assim, o déficit no espaço. “Já na Índia, há muitos órfãos, falta escola. É possível observar nas imagens de lá a retirada de comida, carteira e brinquedos”, completa a fotógrafa. A questão da moradia, com sem tetos e habitações precárias estarão representadas por imagens capturadas pela fotógrafa no Brasil e em West Papua.
A série Todos Os Olhos do Mundo é apresentada nessa individual em pequenas imagens enfileiradas, compondo um mosaico da infância nos países em que Alessandra atuou em atividades sociais. Nelas, olhares de crianças de diversos países registrados pela artista mesclam a curiosidade e a alegria característicos à infância à desconfiança e dor e, assim, questionam a possibilidade de viver de fato essa fase da vida diante das condições sociais impostas. Alessandra pondera que nunca foi tão desigual o tratamento dado à infância e, com a série, nos convida a refletir se é possível preservar a inocência nessas realidades, nos conduzindo, com sensibilidade, para dentro desses olhares.
Sobre Alessandra Rehder
Alessandra Castrucci Rehder nasceu em São Paulo em 1989. Sempre interessada na questão da imagem e sua representação, mudou-se para Paris em 2009, onde se graduou em fotografia pelo Institute SPEOS. Paralelamente, desenvolvia projetos comunitários em países asiáticos e, ali, inicia seus primeiros projetos fotográficos, representando essas comunidades e a carência material de seu dia-a-dia. Já em Paris, cria a World Wide Women, empresa direcionada a divulgar a produção inovadora de jovens fotógrafas internacionais, e lá exibe pela primeira vez seus trabalhos, na exposição “A Wanderer’s Eyes”, em 2012. Este ano, a artista expôs “Subtração e Forma” no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (MARCO)e uma coletiva em Yamashiro, resultado da residência SCOGÉ Fusion NYC/Yamashiro, e a coletiva “Urban Scapes: dreaming of nature”, em Londres, junto a outros dois artistas. Atualmente vive em Londres.
Serviço:
Exposição: Subtração e Forma – individual de Alessandra Rehder
Curadoria: Wagner Barja
Abertura: 19 de agosto de 2017, sábado, 11h
Exposição: 19 de agosto a 8 de outubro de 2017
Local: Centro Cultural Correios – Avenida São João, s/nº, Vale do Anhangabaú, São Paulo, SP
Horário: de terça a domingo, das 11h às 17h.
Classificação etária: Livre para todos os públicos.
Entrada Franca.
Informações: (11) 2102-3690.
e-mail: centroculturalsp@correios.com.br
site: www.correios.com.br/cultura
Acesso para pessoas com deficiência.
Como chegar:
Metrô – Estação São Bento, saída para o Vale do Anhangabaú.
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