art paris 2025
Em abril de 2025, duas das maiores feiras de arte do mundo abriram suas portas simultaneamente, mas em hemisférios opostos: a SP-Arte, no icônico Pavilhão da Bienal em São Paulo, e a Art Paris, no recém-reinaugurado Grand Palais, no coração da capital francesa. Ambas promovem a arte contemporânea e moderna em sua pluralidade, mas também revelam realidades profundamente distintas — tanto em estrutura de mercado quanto em cultura de consumo. A cobertura feita pelo Arteref nos oferece uma perspectiva privilegiada para comparar essas duas potências culturais.
Ambas as feiras ocorreram em espaços icônicos de suas cidades. A SP-Arte ocupou o modernista Pavilhão da Bienal, projetado por Oscar Niemeyer, símbolo do Brasil moderno e da sua tradição utópica em arquitetura. A Art Paris retornou ao Grand Palais histórico — agora restaurado — um dos espaços mais reverenciados do mundo para eventos culturais, carregando a tradição de séculos de mecenato europeu.
Essa diferença já marca o tom simbólico de cada evento: enquanto o Brasil se ancora em uma modernidade ainda recente, a França ostenta sua longevidade institucional no mundo da arte.
A França opera em um patamar de mercado muito mais consolidado e robusto que o Brasil. A Art Paris conta com 170 expositores de 25 países e uma seleção de quase 1.000 artistas. A feira promove prêmios de alto impacto, como o BNP Paribas de 40 mil euros, além do Her Art Prize, voltado para artistas mulheres.
Na SP-Arte, o volume de negócios é expressivo, mas ainda proporcional a um mercado emergente e menos internacionalizado: o número de galerias estrangeiras ainda não retornou ao patamar pré-pandêmico, segundo a fundadora Fernanda Feitosa, e cerca de 90% das galerias expositoras são brasileiras.
No entanto, apesar das diferenças de escala, ambas indicaram ótimos resultados de vendas, o que demonstra vitalidade mesmo em tempos de desaceleração global do mercado de arte. É importante notar que a indicação dos resultados de vendas é feitas pelos próprios agentes e precisa ser recebida com reserva.
As duas feiras se mostram cada vez mais inclusivas e abertas à diversidade de linguagens e narrativas. A Art Paris 2025 teve como foco a pintura figurativa, mas também deu espaço ao design, quadrinhos e arte bruta, destacando artistas como Enki Bilal e promovendo jovens galerias com menos de 10 anos de existência por meio do setor Promesse.
Na SP-Arte, o foco foi em narrativas decoloniais, indígenas e periféricas, com destaque para obras de artistas como Allan Weber e Hal Wildson, oriundos de favelas e estados periféricos. Há uma clara intenção de reafirmação da identidade brasileira, com forte valorização da “brasilidade” e da memória.
Aqui está uma das diferenças mais marcantes:
• Na França, há uma cultura histórica de colecionismo institucionalizado, com museus e grandes fundações participando ativamente do circuito.
• No Brasil, a cultura de consumo de arte é mais recente, personalizada e familiar, com um crescimento recente de jovens colecionadores, muitos vindos do setor financeiro.
A Art Paris funciona como um “salon” no sentido clássico: lugar de encontros, debates e aquisições estruturadas. Já a SP-Arte, embora cada vez mais internacionalizada, ainda mantém traços de um evento festivo e espontâneo, como descreve a art adviser e minha amiga, Ana Paula Cestari: “a feira é uma festa”.
Ambas têm ambições globais, mas a Art Paris já está inserida de forma profunda no circuito europeu e internacional, recebendo galerias de regiões tão diversas quanto o Kuweit, Japão, Guatemala e China.
A SP-Arte, por sua vez, ainda luta por visibilidade nesse mesmo circuito — embora eventos como a Bienal de Veneza de 2024 (curada pelo brasileiro Adriano Pedrosa) tenham fortalecido a presença da América Latina na cena global, algo refletido na edição de 2025 da feira.
Apesar das diferenças de escala e maturidade, as semelhanças entre as feiras são reveladoras:
• Ambas investem em novos talentos e diversidade regional;
• Mantêm o foco em educação do público, com conversas, talks e premiações;
• São plataformas essenciais para o mercado primário de arte (a venda direta de artistas representados por galerias);
• Funcionam como termômetros para o restante do ano artístico, em seus respectivos contextos.
SP-Arte e Art Paris são mais do que feiras — são reflexos vivos de suas culturas. A França, com séculos de tradição artística, atua como palco de consagração. O Brasil, por outro lado, ainda ocupa o papel vibrante de laboratório cultural, onde vozes antes marginalizadas começam a ocupar o centro do palco.
Enquanto a Art Paris oferece estabilidade e projeção, a SP-Arte oferece descoberta e transformação. Ambas são vitais. Ambas nos lembram que a arte é, antes de tudo, uma linguagem comum — ainda que falada com sotaques distintos.
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