Ei, pessoal! Como vocês estão?
Este mês de setembro está sendo bem corrido para o Mercado Arte Brasileiro, não é mesmo? Tivemos SP-Arte: Rotas, Bienal de São Paulo, Arte Rio… Entre muitos outros eventos que aquecem o mercado e nos dão um indicativo para onde a arte contemporânea está caminhando.
Tendo em vista essa animação toda, escrevei este artigo para você que quer conhecer mais sobre a cena artística de galerias na cidade de São Paulo.
Sem mais delongas, simbora!
O mercado de arte primário no Brasil atualmente se destaca por sua natureza livre, com custos iniciais acessíveis e sem obstáculos significativos para entrada. No entanto, a organização das galerias de arte neste cenário é notavelmente diferente das estruturas modernas e burocráticas, como notado por Max Weber. Em sua obra “Economia e Sociedade”, Weber distinguiu organizações com autoridades carismáticas de organizações com autoridades racionais, onde o primeiro se refere ao âmbito cultural e religioso, enquanto o segundo à corporações, bancos.
Neste sentido, organizações com autoridades carismáticas, como galerias, tendem a ter um modus operandi diferente de instituições financeiras ou corporações que buscam maximizar o lucro.
Enquanto Weber explorava figuras como revolucionários, heróis e líderes espirituais em seu estudo, nosso foco aqui é direcionado para o estudo da distribuição geográfica de 67 galerias de arte na cidade de São Paulo e que atuam no mercado primário. O objetivo principal foi entender como estes agentes estão distribuídos em solo paulistano, o que pode ser útil para avaliar a concentração de atividades culturais ou artísticas em diferentes áreas da cidade e tomar decisões com base nesses dados.
Nesta pesquisa, examinei 67 galerias de arte na cidade de São Paulo que operam no mercado primário. O propósito principal consistiu em compreender a disposição geográfica desses intervenientes na cidade de São Paulo, uma abordagem que pode se revelar valiosa para a avaliação da concentração de atividades culturais ou artísticas em distintas regiões urbanas e, a partir dessas informações, tomar decisões fundamentadas.
Para isso, utilizei as galerias contidas no relatório da FGV sobre o mercado de artes visuais brasileiro de 2021, no qual eu fui pesquisador, e atualizei a amostra retirando galerias que encerraram suas atividades ou se tornaram outros agentes do mercado (como institutos, centros culturas e etc).
Em seguida busquei a localização de cada galeria em São Paulo utilizando o google maps. A partir deste dados, pude segmentar as galerias por Zona (norte, sul, leste e oeste) e bairro. Para tal me apoiei no google sheets.
Gostaria de ressaltar alguns pontos:
É emocionante pensar que, apenas na cidade de São Paulo, existem 67 galerias de arte! Bora conhecer mais sobre elas:
A análise mostrou que a maior parte das galerias, 42, está localizada na região Oeste da cidade de São Paulo, enquanto 20 estão localizadas no Centro e 5 na região Sul. Não foi possível observar a presença de galerias de arte que atuam no mercado primário na Zona Leste ou Zona Norte.
Por sua vez, a frequência de bairros que contém galerias variou por cada zona. Enquanto o Centro e a Zona Oeste continham, respectivamente, 8 e 11 bairros, a Zona Sul continha apenas 3 bairros.
É interessante notar a frequência de galerias por Zona, não é mesmo? Mais interessante ainda foi analisar a distribuição de galerias por bairro!
Pode ser observada uma distribuição variada de galerias de arte nos bairros do centro de São Paulo, com Barra Funda liderando em número de galerias. Os bulletpoints que seguem, trazem uma análise sucinta deste cenário.
Barra Funda: Com 8 galerias, o bairro Barra Funda aparenta ser o mais proeminente em termos de atividades artísticas e culturais na região central de São Paulo. Essa alta concentração pode sugerir uma cena artística vibrante nesse bairro.
Higienópolis: Higienópolis conta com 3 galerias, indicando uma presença significativa de galerias de arte, embora em menor número em comparação com Barra Funda. Esse bairro é conhecido por sua atmosfera cultural e histórica.
Vila Buarque: Assim como Higienópolis, Vila Buarque também abriga 3 galerias, o que destaca a presença de atividades artísticas na área central de São Paulo.
Consolação: Com 2 galerias, o bairro da Consolação mostra uma presença moderada de galerias de arte, o que sugere algum interesse cultural em sua comunidade.
Pacaembu, República, Santa Cecília e Bela Vista: Esses bairros têm 1 galeria cada, indicando que eles também têm uma presença artística, mas em menor escala em comparação com os bairros mencionados anteriormente.
No geral, foi possível notar uma presença diversificada e considerável de galerias de arte na Zona Oeste de São Paulo, o que demonstra um cenário cultural vibrante nessa parte da cidade. Cada bairro contribui de maneira única para a cena artística da região, e essa distribuição pode ser um indicativo do interesse e do apoio à arte em cada área.
Jardins (sem o jardim europa): Este bairro da Zona Oeste lidera a lista com um total impressionante de 18 galerias de arte. Isso sugere uma presença cultural significativa e um grande interesse pelas artes nessa área. Gostaria de lembrar que esse “bairro” é formado pelo Jardim América e Jardim Paulista.
Jardim Europa: Embora ligeiramente menor do que “Jardins”, o bairro Jardim Europa ainda conta com 7 galerias, o que indica uma forte cena artística na região. Faz sentido haver um número menor de galerias do mercado primário nessa região, dado o elevado preço dos imóveis.
Pinheiros: Pinheiros é conhecido por sua atmosfera cultural e boêmia, e a presença de 6 galerias reflete o compromisso contínuo com as artes nesse bairro.
Vila Madalena: Carregando a mesma atmosfera que pinheiros, Vila Madalena possui 3 galerias, destacando sua importância para o mercado de arte primário.
Itaim Bibi: A região que abriga parte do centro financeiro de São Paulo possui 3 galerias. Pessoalmente, eu esperava que o Itaim ficasse atrás do Jardim Europa e Jardins, mas não com um número tão baixo de galerias do mercado primário.
Cerqueira César: Cerqueira César, assim como a Vila Madalena e Itaim, também tem 3 galerias, sugerindo uma cena de galerias que contribui para a riqueza cultural da Zona Oeste.
Sumarezinho e Butantã: Esses bairros têm 1 galeria cada, indicando que também fazem parte da cena artística da Zona Oeste, embora em menor escala em comparação com os bairros mencionados anteriormente.
Sendo uma região com apenas cinco galerias, a Zona Sul demonstrou presença modesta, mas ainda significativa, de atividades do mercado primário.
Moema: O bairro de Moema possui um total de 2 galerias de arte. Os moradores e visitantes de Moema têm acesso a pelo menos duas opções para explorar a cena artística local.
Vila Nova Conceição: Assim como Moema, Vila Nova Conceição também tem 2 galerias de arte. Isso indica que ambos os bairros compartilham uma presença artística semelhante, proporcionando oportunidades culturais para seus residentes e visitantes.
Morumbi: O bairro do Morumbi tem 1 galeria de arte, sugerindo uma presença mais limitada em comparação com Moema e Vila Nova Conceição. No entanto, a existência de pelo menos uma galeria ainda contribui para a cena artística local.
No geral, essa tabela reflete uma presença cultural modesta, porém significativa, de galerias de arte na Zona Sul de São Paulo. Cada bairro contribui de maneira única para a cena artística da região, proporcionando oportunidades para os amantes da arte explorarem diferentes exposições e eventos culturais.
Se você chegou até aqui, talvez tenha se perguntado: “Afinal, quais são os bairros com maior número de galerias”. Aqui está um ranking com base no número de galerias em cada bairro mencionado:
Esses números indicam a vitalidade da cena artística em São Paulo e indicam certa tendência do surgimento de novos bairros contribuindo para a panorama de galerias do mercado primário!
Antes de chegarmos ao mapa, gostaria de compartilhar uma visão com vocês, e para isso precisarei definir o conceito de de galerias “avant-garde”.
Conforme descrito por Velthuis (2008), uma galeria avant-garde se distingue pelo seu envolvimento em produções em pequena escala e pela sua dedicação principalmente a artistas, especialistas, críticos e um público restrito composto por “insiders”. Essas galerias operam dentro do circuito de produção avant-garde, onde ocorre uma distinção entre uma parcela jovem e ainda não reconhecida, e outra já estabelecida e bem-sucedida no campo cultural. O foco principal aqui não é necessariamente a lucratividade imediata, mas sim o sucesso a longo prazo. É importante notar que o circuito avant-garde abriga uma ampla variedade de galerias, desde pequenas empresas idealistas que auxiliam artistas iniciantes a mostrar seu trabalho até grandes corporações globais com presença em todo o mundo.
Tanto em Amsterdã quanto em Nova York, as galerias de arte avant-garde escolhem locais longe das áreas de compras movimentadas, dos pontos turísticos e das regiões de grande tráfego de pessoas. Isso significa que, em termos de localização, elas deliberadamente se separam da economia mais ampla da cidade. Porém, interessantemente, essas galerias têm a tendência de se agrupar em ruas, bairros ou mesmo prédios específicos.
Em Nova York, podemos traçar ao longo do tempo os movimentos desses agrupamentos de galerias, como se o mercado de arte na cidade fosse um grande bloco de gelo que lentamente se move e deixa marcas por onde passa. No passado, a West 57th Street era o centro do mercado de arte contemporânea nas décadas de 1950 e 1960, enquanto SoHo se tornou o epicentro a partir da metade dos anos 1970. No entanto, poucas galerias avant-garde podem ser encontradas lá atualmente, pois a maioria delas se concentra em Chelsea. Vale destacar que, desde o final dos anos 1990, algumas galerias menos comerciais e menos reconhecidas, do ponto de vista da crítica de arte de Bourdieu, surgiram no bairro de Williamsburg, no Brooklyn, onde muitos artistas vivem e trabalham.
De acordo com András Szántó em seu estudo “Transformações de Galerias no Mundo da Arte de Nova York na Década de 1980”, na época em que as galerias começaram a se mudar para o Chelsea e SoHo, ambos os bairros eram em grande parte industriais. Embora ambos os bairros tenham passado por gentrificação desde então, nenhum deles abrigava muitas outras lojas de varejo, bares ou restaurantes na época em que as primeiras galerias começaram a se estabelecer lá.
Ainda na ótica de Velthuis (2008), essas migrações coletivas de galerias de arte são impulsionadas, em primeiro lugar, pelos preços dos imóveis: quando os negociantes já não podiam mais pagar os aluguéis das galerias que estavam ocupando ou quando desejavam expandir seus espaços de exposição, eram atraídos para novos territórios virgens devido aos aluguéis baixos ou preços de imóveis oferecidos lá. No entanto, essas migrações não eram significativas apenas do ponto de vista econômico. Algumas galerias afirmaram estar se mudando de SoHo exatamente por causa do aumento de popularidade do bairro e da entrada de lojas de moda e butiques de luxo com as quais não queriam ser associadas. Deixando de lado os motivos envolvidos, sejam econômicos ou simbólicos, a localização de uma galeria ou o momento de sua mudança em si são fontes de prestígio dentro da comunidade artística.
Qual a semelhança entre a migração que ocorreu em Nova York nos anos 80 e 90 para São Paulo atualmente?
A migração das galerias de arte em São Paulo, especificamente de regiões tradicionais como os Jardins, Pinheiros e Vila Madalena para a Barra Funda, pode ser compreendida à luz das dinâmicas observadas por Velthuis (2008) em cidades como Amsterdã e Nova York no contexto das galerias avant-garde. Embora as cidades e os cenários sejam distintos, os princípios subjacentes podem ser aplicados para uma análise mais profunda dessa transição.
No gráfico abaixo é possíbel observer a localização das oito galerias na Barra Funda. Três delas (1,6,8) estão localizadas na mesma rua.
Primeiramente, a ideia de que as galerias avant-garde se dedicam principalmente a artistas, especialistas, críticos e um público restrito de “insiders” é relevante para entender a migração. Em bairros tradicionais, como os mencionados, as galerias passaram a estar situadas em proximidade a áreas movimentadas de compras e/ou a pontos turísticos. No entanto, ao se deslocarem para a Barra Funda, as galerias podem estar buscando um ambiente mais exclusivo, distante das multidões, voltando-se para um público mais especializado e alinhado com uma visão de sucesso a longo prazo.
A escolha da localização segue um padrão semelhante ao observado em Amsterdã e Nova York. Assim como as galerias avant-garde optam por se estabelecer longe de áreas de grande movimento nessas cidades, as galerias em São Paulo escolheram a Barra Funda, uma região industrial que historicamente não era reconhecida pelo comércio agitado ou pela presença de turistas. Esse movimento pode ser interpretado como uma estratégia deliberada de separação da economia mais ampla da cidade, algo similar ao que ocorre em outros centros artísticos ao redor do mundo.
As imagens abaixo mostram um pouco deste movimento.
Em Nova York, observamos a mudança de galerias de um bairro para outro ao longo do tempo, influenciada por fatores como gentrificação e preços imobiliários. Em São Paulo, a migração das galerias para a Barra Funda também pode ser atribuída a fatores econômicos, como o aumento dos aluguéis. De acordo com a Loft, em 2023, os bairros Jardim Europa, Jardim América, Vila Madalena, Jardim Paulistano e Pinheiros estavam entre os 15 bairros com imóveis com o maior valor médio do m². Enquanto a Barra Funda, nesta mesma apuração, está na posição 34.
Além dos fatores econômicos, conforme destacado por Velthuis (2008), algumas galerias podem estar buscando evitar a associação com o crescimento de áreas comerciais e de luxo, o que poderia impactar negativamente sua imagem e identidade artística.
Em relação ao prestígio dentro da comunidade artística, a mudança de localização das galerias em São Paulo pode também ser vista como uma forma de afirmação e diferenciação. Estar na vanguarda dessa migração pode conferir status e autenticidade às galerias, demonstrando sua disposição para se adaptar e inovar, sem se restringir apenas a áreas tradicionais.
É extremamente interessante observar a semelhança entre São Paulo, Nova York e Amsterdã.
Mas e aí, onde está o mapa? Segue o print!
Todos esses ícones em cinza são galerias de arte. Algumas estão identificadas e outras não. O motivo de eu não ter divulgado uma lista com o nome das galerias ou ao menos a identificação no mapa é porque estou pensando em lançar um curso sobre Arte Contemporânea brasileira e/ou o Mercado de Arte Contemporânea, também brasileira. Ainda é uma ideia, mas existe a possibilidade de serem utilizados nestes cursos dados como estes, mas melhor trabalhados. Isto tornaria ambos os cursos mais próximos da realidade. O que vocês acham?
Em conclusão, a análise das galerias de arte na cidade de São Paulo revelou um cenário cultural vibrante e diversificado. Com um total de 67 galerias de arte no mercado primário, São Paulo se destaca como um importante polo de atividades artísticas contemporâneas no Brasil. A distribuição geográfica dessas galerias demonstra uma concentração significativa na região Oeste da cidade, seguida pelo Centro e, em menor número, na Zona Sul. Surpreendentemente, não foram identificadas galerias de arte atuando no mercado primário nas Zonas Leste e Norte.
A análise bairro a bairro revelou que os “Jardins (sem Jardim Europa)” lideram o ranking, com um impressionante total de 18 galerias de arte, seguidos por Barra Funda, com 8 galerias, e Jardim Europa, com 7. Esses números refletem a vitalidade da cena artística em São Paulo, indicando a presença de diversos polos culturais na cidade.
Além disso, essa análise sugere que a cena artística em São Paulo está em constante evolução, com novos bairros emergindo como importantes centros culturais. A migração das galerias de arte em São Paulo, à semelhança do que ocorreu em Nova York, destaca como as dinâmicas observadas em diferentes contextos urbanos podem convergir em busca de um ambiente mais propício ao desenvolvimento artístico e à consolidação de uma identidade artística distinta. Esse paralelo entre São Paulo, Nova York e Amsterdã ilustra a universalidade das tendências que moldam o mundo da arte contemporânea e enfatiza a relevância das escolhas estratégicas das galerias na construção de suas trajetórias e reputações.
Essa tendência demonstra a capacidade da cidade de se adaptar e acolher novas expressões artísticas, enriquecendo ainda mais o cenário cultural paulistano.
Bom, pessoal! Hoje paramos por aqui.
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