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Mercado da Arte: dinamismo x falta de investimento institucional

Que a economia brasileira cresceu já não é mais novidade, mas a crescente valorização do mercado de arte brasileiro é algo que nem todos tem conhecimento.

Já não mais frágeis e instáveis como há 10 anos atrás, as galerias brasileiras deixaram de conduzir seus negócios de forma empírica e isolada e passaram a agir unidas em um setor que contribui visivelmente com a economia do país, como aponta a recente implementação de uma Pesquisa Setorial sobre o Mercado de Arte Brasileiro, o projeto Latitudes.

Na sua mais recente pesquisa, publicada em julho de 2013, o projeto aponta para um importante crescimento de 22,5% do Mercado de arte do Brasil comparado à 2012, três vezes mais do que o crescimento medio mundial. A pesquisa indica que o mercado nacional de arte está num momento singular e positivo de amadurecimento e expansão de suas “asas”, que já trabalham sobre uma estrutura muito mais sólida que anos atrás.

Em consequência a esta euforia do mercado, novas galerias não param de surgir e não poupam esforços para entrar na cena nacional e internacional de arte. Entre as feiras mais frequentadas pelas galerias brasileiras ­ SP ­Arte, Arte­Rio, Art Miami Beach e a Frieze, em Londres ­ a SP­Arte, a maior feira de arte da America Latina, é a responsável por 83% das vendas de nossas galerias. Em 2012 a feira teve o fechamento de R$99 milhões em vendas, um pouco mais que o dobro do que o ano anterior, encerrado em R$49 milhões.

Por trás do glamour que encontramos no aparente sucesso das feiras e eventos artísticos por todo o mundo, existe grandes esforços para manter o crescimento e a dinâmica do setor, um dos grandes responsáveis pela economia criativa do país. Dentre as principais atividades e responsabilidades das galerias, existe uma série de processos administrativos, de pesquisa, comercialização e representação dos artistas, tais como: a promoção dos mesmos no cenário de arte mundial através de parcerias nacionais e internacionais para melhor posicionamento de seus trabalhos; o acompanhamento de sua produção, com possíveis auxílios financeiros e críticos; a organização de exposições individuais; a documentação das obras e de seus projetos artísticos; e o possível financiamento de obras e publicações ligadas à carreira ou de seus portfólio artísticos. Tais atribuições demandam tempo, recursos, equipes qualificadas e uma ampla rede de contatos de colecionadores, marchants, galerias, museus e instituições culturais, fora o planejamento estratégico de médio e longo prazo para a inserção dos artistas no mercado. Sem dúvida o papel das galerias é extremamente importante tanto no cenário econômico quanto cultural, uma vez que não comercializam apenas as obras mas também documentam e fomentam a produção de arte nacional.

Outra questão relevante para o entendimento dos mecanismos presentes no mercado de arte, é o papel que as instituições culturais exercem sobre o contexto da cultura e do mercado especificamente. Existe uma grande lacuna de incentivos e investimentos por parte do governo, que ainda não dá a devida importância ao fomento das artes visuais e da cultura como um todo.

A fragilidade do colecionismo institucional brasileiro pode ser observada através do número de obras adquiridas por coleções públicas do Brasil em comparação ao colecionismo privado e internacional. A economia criativa brasileira é impulsionada sobretudo por colecionadores privados, responsáveis por 70% do volume dos negócios das galerias, enquanto as instituições brasileiras ficam com a margem de apenas 5% de compra e venda. Estes números apontam para o triste fato de que a produção contemporânea de arte brasileira está mais bem representada em coleções privadas no Brasil e no exterior, do que nos nossos próprios museus e instituições culturais.

Caberia então às galerias, que visivelmente dinamizam mais este setor do que o segmento institucional, aumentar suas ações de fomento e promoção da arte através de iniciativas sociais e culturais? Caberia à elas cobrir o buraco da cultura e da arte que é cavado há anos no nosso país, através de ações que aproximem a arte de um público fora do âmbito de colecionadores, entendedores e especialistas?

Uma iniciativa que veio crescendo nos últimos 8 anos é o esforço que galerias onlines têm feito para tornar a arte um pouco mais acessível. A história começou com os franceses fundadores da Yellow Korner, Alexandre de Metz e Paul­Antoine Briat, que em 2006 lançaram um blog e uma loja em Paris que comercializavam fotografias autorais e obras de fotógrafos mais consagrados, como é o caso de Man Ray e Dorothea Lange. A lógica da galeria é simples: aumentar a quantidade de tiragem de obras para baratear o custo, incentivando novas pessoas à comprar obras de arte. Esse conceito de galeria chegou ao Brasil com a Urban Arts, a Lume Photos e a Galeria Photoarts, da mesma linha de mercado. Essas galerias ocupam apenas 2% do total de obras vendidas no mercado, mas não dá para negar que colaboram de uma certa maneira com a abertura do circuito de arte, possibilitando o surgimento de novos colecionadores. Afinal estamos na era da reprodutibilidade técnica, não estamos?

De um lado, um mercado mais dinâmico, quente, que conta a cada ano com mais galerias e colecionadores, tendo participação ativa no mercado mundial, do outro, a falta de investimento público para manutenção, conservação e fomento do patrimônio artístico de um país que, apesar de crescer, conta com uma grande defasagem nas questões básicas da educação e cultura. Talvez este seja um momento propício para o surgimento de iniciativas público­-privadas que busquem superar a defasagem do circuito institucional e cultural brasileiro, promovendo condições adequadas para o desenvolvimento sustentável do sistema de artes como um todo: para que a produção, o mercado e o público possam atuar e desfrutar da rica diversidade cultural e artística brasileira.

Por Clarissa Ximenes

Fonte: Pesquisa setorial. O mercado de arte contemporânea no Brasil ­ 2a edição, julho 2013 ­ Latitudes.

 

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