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Relações de trabalho na Performance Art

Santiago Sierra - Línea de 250 cm tatuada sobre 6 personas remuneradas, 1999

Quanto vale o seu corpo? A sua pele? Seu tempo? Afinal, qual o valor de um ser humano?

Em trabalhos com performance, muito ocorre de os artistas substituírem seu corpo pelo de outras pessoas, os chamados performers. Mas, quanto ele ganha para isso? Bom, varia. Tem alguns que ganham bem, tem alguns que ganham mal, tem alguns que são voluntários… mas o quanto ele significa para o trabalho em si é o quanto ele recebe em troca do serviço?

As relações de trabalho são sempre muito complexas e recheadas de processos burocráticos, seja no Brasil ou seja no exterior; tirando os juízos de valor disso, qual a presença que tais relações carregam para os trabalhos artísticos? Os performers estão dentro dos direitos dos trabalhadores?

Na imagem acima por exemplo, o artista pagou 30 dólares para cada um dos 6 homens cubanos e, com isso, obteve o direito de tatuar a pele deles com um risco. O trabalho carrega, para mim, uma poética incrível. Acho visualmente delicado, é apenas uma linha, mas está inserida no corpo de 6 pessoas distintas que passam a carregar em suas vidas um pedaço uma das outras. Fora minha breve leitura sobre o trabalho, será que 30 dólares é o valor de um pedaço do seu corpo?

Santiago Sierra - '160cm Line Tattooed on 4 People

Santiago Sierra é um artista polêmico. Gosta de explorar em seus trabalhos o valor do dinheiro e o seu significado para as pessoas. Deixa claro o quanto as relações de poder econômico podem influenciar as pessoas e como as relações trabalhistas não abrangem a totalidade dos contextos. No trabalho acima, Sierra pegou 4 prostitutas viciadas em heroína e pagou a elas o valor de uma dose da droga, tendo com isso a autorização e consenso para tatuar o corpo delas.

O valor de uma dose de heroína custava em média 67 dólares na época e, as prostitutas, cobravam 17 por uma sessão de sexo oral. Aproximadamente 4 sessões de sexo oral é o valor de uma dose da droga e, também, o valor de 40cm de tinta preta impregnada em sua pele. Estes são os valores de um ser humano? Mesmo que viciado?

Bom, a idéia desta publicação surgiu após a leitura de uma polêmica (mesmo que antiga) carta que uma bailarina escreveu em negação à participação em uma performance de Marina Abramovic. A carta pode ser lida na íntegra no link abaixo:
http://www.indancingshoes.com/2013/04/carta-aberta-de-uma-bailarina-que-se.html?spref=fb
Porém, basicamente é a bailarina reclamando dos direitos trabalhistas dela como performer, o que é de total direito dela e que finalmente traz para luz estas discussões que ficavam encobertas debaixo dos panos. A artista receberia 150 dólares para ser duramente explorada e correr diversos riscos durante a performance, entretanto, teve a lucidez de se recusar.

Às vezes caímos na ilusão de que talvez um trabalho, por mais explorador e mal pago que seja, irá nos trazer muitos ganhos, seja como artista ou como trabalhador de diferentes áreas, porém, não podemos deixar de lado nossas ideologias e respeito a si mesmo.

Vanessa Beecroft

No trabalho acima, da artista Vanessa Beecroft, são reunídas cerca de 50 modelos em uma sala e este é o trabalho. Vanessa diz que ele surgiu de suas aulas de desenho, nas quais, frustrada pela incapacidade de fiel representação das modelos, resolveu  trazê-las para o trabalho. A artista já realizou ele em diferentes contextos e em cada um ela acrescenta algo ao trabalho, como penteados específicos, maquiagem ou algum adorno. O quanto vale para uma pessoa ficar parada em pé sobre um salto alto por horas? Sentir suas pernas doerem, seus pés desconfortáveis, medo de que o público faça algo impróprio contra você. Isso vale o preço que é pago a elas?

E tudo de uma idéia da artista que surgiu da sua incapacidade da infiel representação. Talvez ela pudesse tirar uma foto e deixar de expor uma pessoa a tais condições. Será que alteraria tanto o trabalho? No meu ponto de vista, a alteração seria para melhor. Talvez um vídeo, um painel. A presença dos corpos só me faz sentir pena das modelos.

Vanessa Beecroft - vb37, 1999

As vezes é necessário que nós, como artistas, curiosos, amantes da arte ou mesmo estudantes, façamos um esforço para pensar além de nossos anseios e impulsos criativos, pensarmos no outro, no seu corpo, no seu psicológico, em tudo que ele pode trazer de interferência ou não para nosso trabalho, a possibilidade de evitarmos estes abusos…. Diversas questões que o uso do corpo alheio na performance acaba nos trazendo e que são importantes de serem pensadas.

Fazemos este esforço e tentamos tornar a performance um meio, ainda expressivo, mas não explorador e opressivo.

Marina Abramović - Rhythm 0, 1974
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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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