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Sobre a fotografia de Mauro Restiffe

Sempre dedicado a discutir a relação entre fotografia e arquitetura, algo notável na recente mostra San Marco, sobre afrescos de Fra Angelico em um mosteiro florentino, o paulista de São José do Rio Pardo Mauro Restiffe retoma o debate em Interseção. As quinze imagens reunidas na exposição do Centro Universitário Maria Antonia se dividem em duas séries. Vertigem traz registros da Casa Serralves, localizada no Porto, em Portugal, cujas colunas típicas do período art déco criam impressões perturbadoras no espectador ao aparecer em enquadramentos verticalizados. O outro conjunto traz o Edifício Cícero Prado, um marco do modernismo arquitetônico paulistano, na Avenida Rio Branco, no bairro de Campos Elíseos. Projetado pelo arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik — homenageado, aliás, em outra sala do Maria Antonia com desenhos e fotografias de projetos —, o prédio possui geometrias inusitadas encontradas pela câmera de Restiffe a partir das amplas sacadas e dos pilotis do térreo.

Como parte do projeto do Núcleo de Pesquisa e Mediação do Centro Universitário Maria Antonia – USP, “Imediações” consiste em conversas com teóricos, artistas, críticos e curadores, registradas em vídeo e disponibilizadas no site, a fim de ampliar o alcance das discussões realizadas pelo Núcleo.
Neste vídeo, Heloisa Espada aborda questões da fotografia contemporânea a partir da produção do fotógrafo Mauro Restiffe. Entrevista cedida em fevereiro de 2014 pelo Centro Universitário Maria Antonia.

Ainda, para aprofundar, o curador e crítico de arte Agnaldo Farias escreve sobre a sua exposição no Centro Maria Antônia:

Já em sua primeira individual, em 2000, Mauro Restiffe sinalizou que pensaria a relação entre arquitetura e fotografia sob ângulos imprevistos. Não que suas fotos tivessem a arquitetura como tema exclusivo. O assunto preponderante era o lugar da fotografia, a plasticidade com que se aproxima e se afasta do mundo. Isso e mais sua problematização como produto do olhar, do fotógrafo e do visitante que, diante de suas fotos, percebe-se percebendo.

Desde o princípio, Restiffe resolveu demonstrar que a arquitetura podia converter-se em fotografia, além de lhe servir como tema privilegiado. Como? Na mostra de 12 anos atrás, ele, em lugar de simplesmente pendurar as fotografias, abriu “três janelas” na longa parede situada à esquerda da entrada da sala expositiva, revelando o muro alto e branco que separava, da casa do vizinho, o lote da casa onde funcionava a galeria, o corredor estreito onde jaziam, até então ocultos, despojos das tralhas típicas de montagens de exposições, e finalmente a vista parcial do tronco de uma árvore emparedada. Fechadas com vidro, as aberturas, por efeito de sua transparência e reflexividade, embaralhavam as imagens de dentro e fora.

A obsessão pela arquitetura volta nessa mostra de agora sob a forma de imagens extraídas de dois edifícios, a Casa Serralves, o belo exemplar de Art Déco português construída no Porto, de autoria de Charles Siclis e José Marques da Silva, e o Edifício Cícero Prado, obra do introdutor da arquitetura moderna no nosso país, Gregori Warchavchik.

A disposição das imagens na sala confirma a importância que Restiffe confere à relação entre fotografia e arquitetura. Na parede principal, sem portas ou janelas, “Vertigem”, a sucessão de imagens com o mesmo formato, todas reverberando os ritmos escandidos da Casa Serralves. Nas outras três paredes, coerente com as perturbações das aberturas, o jogo com tamanhos e ângulos propiciado pelas linhas de fuga verticais do Cícero Prado.

Se a arquitetura, como a música, destrava-se no tempo dispendido caminhando-se em seu interior, Restiffe adverte-nos que ela também acontece quando se olha para cima e para baixo; quando se mira torto; quando se mergulha no infinito inventado pelos ocos das escadas; quando se alça ao sublime do teto intangível. Suas fotos convertem arquiteturas em imagens e, impregnadas por elas e pelo espaço em que estão expostas, flexibilizam-se, ficam de frente, de lado, de cabeça para baixo; seus tamanhos expandem-se e contraem-se, com as maiores imantando à distância, com as menores trazendo para perto, convidando a escrutinizar seus detalhes.

 Por Agnaldo Farias, via Maria Antônia. 

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