Emanoel Araújo (1940 – 2022), artista plástico, escultor, curador e museólogo possuía uma das maiores coleções privadas de arte do Brasil. O acervo, composto por mais de quatro mil peças, entre pinturas, gravuras, esculturas, joias e obras centenárias de artesanato negro, será inteiramente leiloado em outubro de 2023.
Antes do leilão, está prevista para setembro uma exposição com 600 destaques da coleção na Bolsa de Arte, em São Paulo, que vai organizar o certame para vender a coleção. O evento marca um ano da morte de Araújo e vai ocorrer simultaneamente à Bienal de São Paulo, segundo Jones Bergamin, diretor da instituição.
— A exposição será aberta ao público e vai durar 30 dias. Em seguida, haverá o leilão para vender toda a coleção, exceto as obras de autoria do próprio Emanoel. Será nas mesmas datas da Bienal porque o evento atrai muitos estrangeiros que podem se interessar pelo acervo — diz Bergamin.
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Ele diz que a coleção é a maior em número de peças dedicadas à arte produzida por artistas negros. Há desde artesanato produzido por escravos nos séculos XVII e XVIII até obras de artistas modernistas
— Emanoel era um voraz colecionador, frequentou feiras de arte por décadas para encontrar preciosidades. Tem um acervo invejável de obras do barroco brasileiro, em especial esculturas de santos — ressalta.
Entre os destaques da coleção de arte sacra estão obras de Francisco dos Santos Xavier, conhecido como Xavier das Conchas, artista negro do século XIX que usava conchas marinhas para confeccionar as imagens.
No apartamento de Araújo, a equipe catalogou joias que pertenceram a donos de escravos e coronéis. O museólogo, que tem destacado papel na luta antirracista no país, tinha interesse por objetos que tivessem relação com a história da escravidão na América Latina, em especial a de povos africanos.
Há também peças de artistas modernistas icônicos, entre as quais dezenas de serigrafias do baiano Rubem Valentim (1922-1991).
Estão no acervo, também, cerâmicas e telas de Francisco Brennand (1927-2019), e de pinturas de Carlos Bastos (1925-2004), entre outros. Também há obras de Hector Bernabó, o Carybé (1911-1997), artista argentino radicado na Bahia e que tem como uma de suas marcas retratar orixás, as divindades de religiões de matriz africana.
Outra preciosidade da coleção é uma pequena peça feita pela escultora e cineasta francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002) especialmente para Araújo. A escultura, que ficava no quarto do artista, vem acompanhada de um bilhete datado de 1997. No texto, Niki agradece Araújo, então diretor da Pinacoteca, pela realização de uma exposição de seus trabalhos. Araújo foi diretor da Pinacoteca entre 1992 e 2002, tendo sido responsável pela reforma do prédio que abriga a instituição.
As obras, hoje, estão distribuídas principalmente entre duas casas de Araújo e seus dois ateliês. Há, ainda, de acordo com o espólio de Araújo, 2.718 peças em comodato com o Museu Afro Brasil, ligado ao governo de São Paulo e de onde Emanoel Araújo foi curador. A instituição foi rebatizada com o nome do artista no ano passado, após a sua morte em 2022.
O advogado Rubens Naves, amigo de Araújo e responsável pelo seu testamento, conta que o leilão será formatado para viabilizar que as obras hoje no Museu Afro sejam compradas com a condição de que permaneçam na instituição.
— Essas peças têm integralidade, dialogam entre si, e seria precioso que o museu continuasse com elas. Há um esforço por parte dos organizadores do leilão para que quem as arremate faça uma doação ou mantenha o comodato — diz Naves.
Documentos do acervo, como cartas de Araújo a museus e artistas amigos, não irão a leilão e, por seu valor histórico, serão reunidas em um centro de memória, afirma Naves.
A venda das peças e de todos os demais bens de Araújo, inclusive dos imóveis onde funcionavam seus ateliês, está prevista no testamento do artista. O valor a ser arrecadado será usado para pagar eventuais dívidas e o restante, distribuído entre seus sucessores.
A metade do patrimônio será dividida entre quatro ex-funcionários de Araújo que o auxiliaram por décadas em seus ateliês ou no Museu Afro Brasil, criado e dirigido por ele até sua morte. Os outros 50% serão repartidos entre oito familiares do museólogo, a maioria dos quais vive na Bahia.
O estágio atual da preparação para o leilão é a realização de estudos para atribuir autorias às peças sem certificado de origem.
Com informações de O Globo.
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