Literatura

Por que há tantos falsos cognatos entre português e espanhol?

Falsos cognatos, também chamados de falsos amigos ou falsos conhecidos, são palavras normalmente derivadas do latim que aparecem em diferentes idiomas com ortografia semelhante e que a mesma origem, mas que, ao longo dos tempos, acabaram adquirindo significados diferentes.

Por que existem tantos entre português e espanhol?

Devido a um fenômeno conhecido como “deriva semântica”.  

O que é deriva semântica ?

Trata-se de um fenômeno natural na evolução das línguas, que faz com que as pessoas progressivamente atribuam sentidos ligeiramente diferentes às palavras.

Às vezes isso acontece por causa do sentido figurado ou do uso poético da linguagem, mas pode acontecer simplesmente porque, em situação de isolamento e pouco conhecimento de vocabulário, as pessoas passem a usar as palavras com mais de um sentido para compensar sua ignorância da palavra exata.

Há várias causas para a deriva semântica e somente uma “cura”: a morte da língua.

Porém, se a língua for pluricêntrica (isto é, caso ela seja falada em um território muito grande sobre o qual não haja uma hegemonia cultural eficiente), a deriva semântica tende a criar sentidos diferentes para as palavras em cada uma das regiões onde a língua é falada.

Um bom exemplo disso é o uso tipicamente nordestino da palavra “cabra”, no sentido de “homem”. Em outras regiões do Brasil este sentido é pitoresco, no mínimo, ou desconhecido, na maioria das vezes.

Um Cabra?

Ao longo de muitos séculos, pode ocorrer que o português “nordestino” se torne uma língua independente, na qual o termo para “homem” descenderá da palavra “cabra” (originalmente uma palavra feminina, inclusive). A mesma palavra, igual ou muito parecida, ainda poderá existir em outras línguas e dialetos do português do futuro, mas com o sentido original, ou outro diferente.

Foi isso o que aconteceu com as línguas românicas. Originalmente o latim (latina ou latinis) era a língua de uma pequena região da Península Itálica chamada Lácio (latium), onde se fundou Roma, a cidade que se tornou capital do Lácio e depois de um enorme império onde o latim se tornou a língua principal.

Quando o latim foi implantado em províncias distantes do Lácio, ele começou a se tornar pluricêntrico (porque não havia meios para assegurar a continuidade da influência do Lácio sobre as outras regiões).

Mais tarde, a própria Península Itálica se tornou uma região de importância secundária e o caráter pluricêntrico do latim se acentuou, surgindo centros culturais em certas províncias como a Hispânia, a Gália, a Panônia, a Récia e a África. Nessas regiões o latim já apresentava peculiaridades.

A fragmentação do latim se intensificou depois da dissolução do império e da migração de diversas tribos germânicas para as províncias, dando origem a novos povos e estados.

Inicialmente havia uma relativa unidade dos falares da Península Ibérica, mas já havia forças centrífugas atuando sobre a língua, na presença de celtíberos a noroeste e de cartagineses a sudeste (por exemplo).

Quando os germânicos invadiram, a primeira leva trouxe os suevos (suábios) para a região nordeste, onde já imperara a cultura celtíbera e os vândalos para o sul.

Depois chegaram os visigodos, que expulsaram os vândalos para a África e gradualmente conquistaram os suevos. No século oitavo os mouros (muçulmanos do norte da África) conquistaram a maior parte da Península, mas sua presença foi mais duradoura na região centro-sul, núcleo do desenvolvimento do espanhol (castelhano).

Finalmente, Portugal e Espanha emergiram como estados independentes e rivais desde o século XII e permaneceram assim durante séculos.

Houve, portanto, muita oportunidade para que as palavras, originalmente idênticas ou muito parecidas, assumissem sentidos diferentes, já que nada obrigava um português a saber em que sentido os castelhanos usavam a mesma palavra, ou vice-versa.

Texto original de: Jose Geraldo Gouvea

Leia um artigo sobre Deriva Semântica:

Aqui você pode baixar um artigo sobre deriva semântica de: Paulo Mosânio Teixeira Duarte e Maria Claudete Lima do Departamento de Letras Vernáculas, Universidade Federal do Ceará


Lista com os 100 maiores falsos cognatos em Espanhol

A

Abonar: Pagar
Aceite: Azeite, óleo
Aceitar: Passar óleo
Acordarse: Lembrar-se
Acreditar: Creditar valor, dinheiro
Aderezo: Tempero
Alejar: Afastar
Almohada: Travesseiro
Alza: Aumento
Amador: Amante, que ama
Apellido: Sobrenome

B

Basura: Lixo
Beca: Bolsa de estudos
Berro: Agrião
Billón: Trilhão
Borracha: Bêbada
Botiquin: Maleta de primeiros-socorros
Brinco: Pulo

C

Cacho: Pedaço
Cachorro: Filhote de qualquer mamífero
Cadera: Quadris
Caída: Queda
Calar: Cortar
Camelo: Engano
Chulo: Legal, bonito
Cinta: Fita
Ciruela: Ameixa
Cola: Fila (de pessoas) ou rabo (de animal)
Colar: Coar
Concertar: Combinar
Comisario: Delegado
Conozco: Conheço
Copa: Taça
Corvo: Curvo
Crianza: Criação
Cubierto: Talher
Cueca: Dança chilena
Cuello: Pescoço

D

Desabrochar: Desabotoar
Desperto: Esperto
Despido: Demissão
Dirección: Endereço
Diseño: Projeto

E

Embarazada: Grávida
Embrollo: Confusão
Enojar: Aborrecer
Exquisito: Requintado
Experto: Perito

F

Faro: Farol
Fecha: Data
Flaco: Magro
Frente: Testa

G

Gajo: Gomo
Garrafa: Jarro
Goma: Borracha
Gracioso: Engraçado
Grasa: Gordura

J

Jamón: Presunto
Jubilado: Aposentado
Jugo: Suco
Juguete: Brinquedo

L

Largo: Comprido
Latir: Bater do coração

M

Mostrador: Balcão

N

Novela: Romance

O

Oficina: Escritório
Olla: Panela
Oso: Urso

P

Paladar: Céu da boca
Palco: Camarote
Pasta: Massa
Pastel: Bolo
Pegamento: Cola
Pegar: Colar
Pelado: Careca
Pelo: Cabelo
Pipa: Cachimbo
Platillo: Pires
Polvo: Pó
Presunto: Suposto
Pronto: Logo
Propina: Gorjeta
Pulpo: Polvo

Q

Quitar: Tirar

R

Rico: Encantador

S

Saco: Paletó
Salada: Salgada
Sino: Se não
Sitio: Local, lugar

T

Taller: Oficina
Tapa: Tampa de panela
Tapas: Aperitivos, petiscos
Tasa: Taxa
Taza: Xícara
Topo: Toupeira

V

Vacío: Vago
Vago: Vadio
Vaso: Copo
Vello: Pêlo

Z

Zurdo: Canhoto

Fonte: http://culturaespanhola.com.br/, Quora

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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