O artista morreu, não me lembro qual era a arte dele, acho que era pintura, mas sim, ele era artista.
Mesmo tendo recebido louros em vida, esses louros não foram capazes de lhe dar uma festa maior do que foi o ato do seu velório, olha que ele frequentou grandes festas.
Ouvia-se musas chorando ao invés de um em coro de anjos, mas repito, não eram anjos, era musas. Musas sempre souberam que ser uma musa é um caminho sem volta, sabiam?
Elas não sabiam mesmo, os artistas as colocavam num mundo perfeito de duas dimensões, por fim elas esqueciam a existência das 3 dimensões, elas só conheciam as dimensões que os artistas às apresentavam, duas… altura e largura.
Nossa, como altura e largura era importante para essas mulheres! Elas se debruçavam sobre o seu corpo pedindo desculpas por ter pouca altura, choravam pelo excesso de suas larguras!
Mas fudeu… estavam todas mortas e cobravam inconscientemente as suas dívidas.
A moeda é diferente por aqui! Gritava uma delas pra alma recém liberta dele… na esperança de que voltando ao seu corpo ele procurasse uma casa de câmbio antes de partir… para chegar lá, com a moeda legal.
Mas ele chegou lá duro, sem dinheiro mas por ironia conseguiu levar os seus pincéis.
Sabem… mesmo assim ele as enganou, disse que sua moeda ainda tinha valor e que tinha ali muitas, muitas delas.
– Sentem, posem para mim da forma que eu ensinei.
Mas as musas viraram cobra criada… não aceitaram a imposição. Resolveram que amarrariam e colocariam sentados todos os homens que chegassem daquele lado e assim foram fazendo com cada artista que ali chegou: tomavam-lhes a ferramenta e usavam elas mesmas para incomodar, para provar que eram tão grandes quanto eles, elas desafiavam mostrando:
– Nós conseguimos fazer melhor!
A arte, que já andava devagar, parou, atrofiou de vez neste momento… ela se exercitava em outro plano pra ser reproduzida aqui, num mundo que muitos diziam ser novo.
Os artistas-homem entravam na morte na verdade, através de uma grande gangorra que girava ao invés de subir e descer… então cada vez que um artista saía do mundo uma musa entrava.
Elas que esqueceram que bem e mal giram em torno do mesmo eixo, então cada vez que uma voltava ao mundo se deparava com a tela em branco que o seu artista acabou de deixar… mas ficavam estarrecidas segurando pincéis….é que de vingança… eles não contavam para elas que era de suas almas, que eles retiravam o pigmento para produzir cor…
Gargalhavam vendo as que voltaram, se digladiar.
Pela pintora impressionista, Séraphine…
Por Séraphine…
“Séraphine nasceu numa pequena localidade da França, chamada Arsy no ano de 1864. De família humilde, jamais teve aulas de pintura, e nunca participou do meio cultural de sua época, mas tinha uma paixão secreta: sem que ninguém suspeitasse, ela pintava. Seu pai era um trabalhador e sua mãe veio de uma família de camponeses. Ela perdeu a mãe no dia do seu primeiro aniversário, e seu pai morreu quando ela ainda não tinha completado sete anos; ela é, então, levada por sua irmã mais velha.
Ela trabalhou pela primeira vez como um pastor e, em 1881 foi trabalhar como empregada no Convento das Irmãs da Providencia em Clermont, ofício que desempenhou até 1901. A partir de 1901, ela começou a trabalhar como empregada doméstica nas famílias de classe média de Senlis.
Enquanto trabalhava ela começa a pintar a vela em grande isolamento e realiza um trabalho considerável.” – Fonte
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