A Semana de Arte Moderna nasceu no contexto da Primeira Guerra Mundial, que acabou em 1918. Esta foi uma época de inovação em diversas estruturas: culturais, econômicas e políticas da sociedade.
Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões nacionais múltiplas, a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.
O evento lançou a “São Paulo”, provinciana e rica pelo café e se desdobrava em centro industrial para o centro de renovação artística e cultural do país. Mario e Oswald, que não eram irmãos, foram porta-estandartes de outra espécie de emancipação paulista, depois da econômica: a cultural.
O evento, organizado por um grupo de intelectuais e artistas, (Mario de Andrade, Oswald de Andrade e o artista Di Cavalcanti) por ocasião do Centenário da Independência (1822) declarou o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo (rigidez na estética literária e a poesia em soneto), o simbolismo (misticismo, subjetividade, oposição ao realismo e a musicalidade) e a arte acadêmica (rigor nas formas, estéticas e técnicas do estilo das academias de arte).
A pintora paulista Anita Catarina Malfatti, que também era desenhista, gravadora, ilustradora e professora, é uma das mais relevantes artistas brasileiras, com papel determinante na introdução da estética modernista no país.
O pintor paulistano Antonio Paim Vieira, que também era desenhista, gravador, ceramista, cenógrafo e professor universitário, participou da Semana de Arte Moderna. Também foi destaque na Bienal Brasil Século XX, na De la Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950 e no MAB FAAP (Museu de Arte Brasileira).
O pintor Candido Portinari nasceu em Brodowski, interior de São Paulo. Sua técnica de pintura foi se modificando ao longo da carreira. Os temas preferidos eram o homem brasileiro e as questões sociais e históricas do Brasil. Portinari é conhecido por superar o regionalismo de alguns artistas brasileiros, com sua produção com grandes qualidades plásticas, o que vai ao encontro às ideias de Mário de Andrade e ao movimento modernista brasileiro.
O pintor carioca Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti, é um dos expoentes das artes plásticas brasileira. Destacou-se por retratar figuras populares em sua busca constante por constituir uma arte nacional e também atuou como ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo.
O advogado, ilustrador, desenhista, caricaturista e escritor paulistano Inácio da Costa Ferreira, conhecido como Ferrignac, nasceu no interior de São Paulo, em Rio Claro.
O pintor e escultor pernambucano Vicente do Rego Monteiro tinha uma diversificada atuação em áreas como a dança, a poesia, a tradução e a docência. Sua pintura era fortemente inspirada pela cultura indígena e marcada pela simplificação formal.
O pintor paulistano de Rio Claro João Fernando de Almeida Prado, mais conhecido como Yan de Almeida Prado, foi um intelectual, historiador e colecionador de obras de arte e primeiras edições de livros.
A pintora e desenhista Tarsila do Amaral, nascida em Capivari, interior de São Paulo, foi influenciada pela vanguarda europeia, especialmente pelo cubismo. Com isso, criou um estilo próprio, explorando formas, temáticas e cores na busca por uma pintura de caráter tipicamente brasileiro. A artista ingressou na Académie Julian em 1920, quando teve o primeiro contato com a arte moderna e a produção dos dadaístas e futuristas. A pintora não participou da semana pois estava em Paris, mas se juntou posteriormente ao grupo, casada com Oswald.
A pintora mineira Zina Aita também era ceramista e desenhista. A artista realizou seus estudos na Academia de Belas Artes de Florença e, por volta de 1918, retornou ao Brasil, onde iniciou contato com os modernistas. Em 1922 participou da Semana de Arte Moderna, onde realizou ilustrações para a revista Klaxon, publicação dos modernistas paulistas.
O escultor italiano de Farnese Vittorio Brecheret, que viveu em São Paulo, foi um dos precursores do movimento modernista brasileiro nas artes. Sua obra é marcada pela busca incessante de diferentes técnicas da escultura, do mármore à terracota, e de temas relevantes da cultura nacional.
O escultor alemão Wilhelm Haarberg, que também era desenhista, restaurador e professor, residiu em São Paulo, onde se aproximou do escritor e crítico de arte Mário de Andrade. Mário o caracterizava como um escultor da escola expressionista alemã que incorporou traços arcaizantes aos seus trabalhos.
O escultor e artista plástico Hildegardo Velloso, de Palmares Paulista, interior de São Paulo, fez parte da Semana de 22 juntamente com os escultores Victor Brecheret e W. Haerberg. Entre as obras do artista estão os monumentos ao almirante Tamandaré (no Rio de Janeiro, RJ) e a Getúlio Vargas (em Laguna, SC).
O escritor maranhense José Pereira da Graça Aranha foi romancista, ensaísta, dramaturgo e diplomata. Aranha realizou grande parte de seus estudos em casa, ao lado do pai, que mantinha na residência a redação e a tipografia do jornal O País. Graça Aranha foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) e trabalhou como diplomata na Europa. Em 1921, publicou o livro de ensaios A Estética da Vida e, em 1925, Espírito Moderno, que traz seu discurso inaugural na Semana de Arte Moderna de 1922.
O poeta Guilherme de Andrade e Almeida nasceu em Campinas, interior de São Paulo. Também era tradutor, dramaturgo e ensaísta e se formou em Direito. A poesia de Guilherme de Almeida anterior a 1922 caracteriza-se pela intensa influência do parnasianismo e do simbolismo. É o primeiro modernista a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), assumindo sua cadeira em 1930. Sua residência é hoje um Museu do Governo do Estado de São Paulo, com memórias sobre sua vida e obra.
Obras: Mon Coeur Balance, 1916; Leur me, 1916; Nós, 1917; Meu, 1925; Raça, 1925; A Dança das Horas, 1919; Gente de Cinema, 1929.
O poeta pernambucano Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho também era cronista, ensaísta, tradutor e professor. Apesar de não participar fisicamente da Semana de 22, seu poema Os Sapos, lido por Ronald de Carvalho, provocou protestos do público. Sua obra, marcada por aparente simplicidade, vale-se do apuro técnico e da musicalidade ao tratar de temas do cotidiano. Vinculado ao modernismo, nunca deixou de lado as formas tradicionais, como sonetos e redondilhas.
O cronista paulista Mário Raul de Moraes Andrade foi um grande poeta, romancista, crítico de literatura e de arte, musicólogo, pesquisador do folclore brasileiro e fotógrafo. Um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, leu seus poemas no palco do Theatro Municipal de São Paulo e foi vaiado. Neste ano, lançou seu segundo livro, Paulicéia Desvairada, um marco na literatura modernista brasileira. Realizou com Olívia Guedes Penteado (1872 – 1934), Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e outros, uma viagem de estudos às cidades históricas mineiras com o objetivo de mostrar o interior do país ao poeta franco-suíço Blaise Cendrars (1887 – 1961), em 1924.
Obras: Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema, 1917; Paulicéia Desvairada, 1922; A Escrava que não é Isaura, 1925; Macunaíma, O Herói sem Nenhum Caráter, 1928.
O paulista Paulo Menotti Del Picchia foi poeta, contista, romancista, cronista, ensaísta, jornalista, autor de histórias infantis e político. A importância de Menotti Del Picchia para o Modernismo brasileiro é consensualmente reconhecida para além de ter sido o responsável pela apresentação dos pressupostos estéticos durante a Semana de Arte Moderna. O autor militou em favor do movimento em sua coluna diária no Correio Paulistano, tornando-se, assim, um de seus principais cronistas.
Obras: Juca Mulato, 1917; Máscaras, 1920; A Angústia de D. João, 1922; O Amor de Dulcinéia, 1931; Salomé, 1940
O paulista José Oswald de Sousa Andrade foi romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta e jornalista e é considerado um dos principais expoentes da primeira fase do Modernismo brasileiro, aquela que tem lugar na década de 1920, reconhecidamente após a Semana de Arte Moderna (1922). Filho único de família aristocrata, teve sua dedicação à literatura bem recebida desde a juventude, sobretudo por ter como tio o escritor Inglês de Souza (1853-1918). Contribuiu de forma inovadora para a literatura brasileira, como as propostas estéticas formuladas nos manifestos com que inaugurou os movimentos Pau-Brasil (1924) e Antropofágico (1928).
Obras: Mon Coeur Balance, 1916; Leur me, 1916; Memórias Sentimentais de João Miramar, 1924; Pau-Brasil, 1925; Manifesto Antropófago, 1928; O Rei da Vela, 1937.
O carioca Ronald de Carvalho era poeta, ensaísta e memorialista. Em 1914 foi para Lisboa e iniciou contato com o modernismo português, por meio do poeta Fernando Pessoa (1888 – 1935), dos escritores Mário de Sá Carneiro (1890 – 1916) e Luís de Montalvor (1891 – 1947) e da revista portuguesa Orfeu. Participou da Semana de Arte Moderna, assumindo o verso livre Epigramas Irônicos e Sentimentais. Em meio aos eventos de 1922, Ronald declamou o famoso poema Os Sapos, de Manuel Bandeira (1886 – 1968), cujo conteúdo ataca os poetas parnasianos.
Nascido em Campinas, interior de São Paulo, o poeta Tácito de Almeida era irmão de Guilherme de Almeida, primeiro modernista a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1930. Tácito fez parte da organização dos eventos da Semana de 22 e da revista Klaxon. Foi autor de uma obra poética curta, mas significativa das mudanças artísticas e literárias que se vivia à época.
O carioca Heitor Villa-Lobos foi compositor, regente e violoncelista. Filho de Raul Villa-Lobos, músico amador e autor de livros didáticos, ainda criança estudava música com o pai. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, ao lado do crítico Mário de Andrade (1893-1945) e do escritor Oswald de Andrade (1890-1954). Com um catálogo que ultrapassa mil títulos, Villa-Lobos compôs óperas, concertos para violão, piano, violoncelo, música sacra, música de câmara, obras orquestrais, canções e outras peças essenciais para a literatura pianística.
O músico e pianista carioca Ernani Braga conhecido por seus arranjos populares, participou da Semana de 22 ao lado de Villa Lobos, como seu intérprete, o que o destacou no Brasil. Ernani se formou no Instituto Nacional de Música, com distinção e medalha de ouro.
A pianista paulista de São João da Boa Vista construiu sólida carreira no exterior, particularmente nos Estados Unidos. Ficou especialmente conhecida pelas suas interpretações das obras de Chopin e Schumann. Foi importante divulgadora de Villa-Lobos no exterior.
O pintor suíço John Louis Graz também foi decorador, escultor e artista gráfico. Em 1920, veio para o Brasil e, por intermédio de Oswald de Andrade (1890-1954), passou a fazer parte da vida intelectual da cidade. Graz participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e, no mesmo ano, teve um de seus trabalhos publicados na revista Klaxon. Era sócio-fundador da Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), de 1932. Ainda nos anos de 1930, produziu inúmeras capas da revista Ilustração Artística do Brasil e formou o Grupo 7 com Regina Graz, Antonio Gomide, Elisabeth Nobiling (1902-1975), Rino Levi (1901-1965), Victor Brecheret (1894-1955) e Yolanda Mohalyi (1909-1978).
O arquiteto e desenhista Antonio Moya nasceu em Granada, na Espanha, e veio para o Brasil ainda criança. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e é considerado um vanguardista, por ter trazido renovação à arquitetura brasileira.
O arquiteto polonês Georg Przyrembel veio para o Brasil por volta de 1913, tendo vivido em São Paulo. Apresentou projetos em estilo neocolonial durante Semana de 22. Neste estilo, projetou o convento e a igreja de Nossa Senhora do Carmo, inaugurados em 1928 na cidade de São Paulo. Projetou também o Palácio Boa Vista (1938), em Campos do Jordão, residência oficial dos governadores do estado de São Paulo, em um estilo medievalista.
A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fizeram do modernismo um sinônimo de “estilo novo”, diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922.
Realizado entre os dias 13 e 17 de fevereiro, no Theatro Municipal de São Paulo, o festival incluiu exposição com cerca de 100 obras, aberta diariamente no saguão do teatro, e três sessões lítero-musicais noturnas.
Os artistas, influenciados pelas vanguardas europeias e pela renovação geral no panorama da arte ocidental, uniram seus esforços para apresentar suas produções ao grande público. Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas eram a principal base do movimento.
A principal função da Semana de 22 para a história da arte brasileira foi romper o conservadorismo vigente no cenário cultural da época. Não havia um conceito que unisse os artistas, nem um programa estético definido. A intenção era destruir o status quo. E eles conseguiram.
Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930 como a fase em que se evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.).
Tal esforço de redefinição da linguagem artística se articulou a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganhou acento destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundiram e se normalizaram.
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