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Trecento, o período da arte pré-renascentista


Definição

O termo “trecento” é a abreviação de “milletrecento” (“mil e trezentos”), ou seja, o século XIV. Um período altamente criativo que testemunhou o surgimento da pintura pré-renascentista, bem como escultura e arquitetura durante o período de 1300-1400.

O trecento é frequentemente usado como sinônimo de arte proto-renascentista — isto é, a ponte entre o gótico medieval e o início da renascença.

O século seguinte (1400-1500) é conhecido como o quattrocento, e o outro (1500-1600) como o cinquecento.


A localização do Trecento

O trecento representa a preparação para o Renascimento e é um fenômeno basicamente italiano, mais especificamente da cidade de Florença, polo político, econômico e cultural da região, embora outros centros também tenham participado do processo, como Pisa e Siena, tornando-os a vanguarda da Europa em termos de economia, cultura e organização social, conduzindo a transformação do modelo medieval para o moderno. Acontece durante todo século XIV, e antecede o que se chama de Quattrocento, a primeira fase do Renascimento.


Contexto histórico

A economia era dinamizada pela fundação de grandes casas bancárias, noção de livre concorrência e forte ênfase no comércio. A região cada vez mais se estruturava em moldes capitalistas, onde a tradição foi sacrificada diante do racionalismo, especulação financeira e do utilitarismo.

O sistema de produção desenvolvia novos métodos, com uma nova divisão de trabalho organizada pelas guildas e uma progressiva mecanização, levando a uma despersonalização da atividade artesanal. A Itália nesta época era um mosaico de pequenos países e cidades independentes.

O regime republicano com base no racionalismo fora adotado por vários daqueles Estados, e a sociedade via crescer uma classe média emancipada intelectual e financeiramente que se tornaria um dos principais pilares do poder e um dos sustentáculos de um novo mercado de arte e cultura.


A falência dos Bardi e Peruzzi

O início do século vive intensas lutas de classes, com prejuízo para os trabalhadores não vinculados às guildas, e como consequência instala-se uma crise econômica, que tem um ponto culminante na bancarrota das famílias Bardi e Peruzzi em torno de 1328-38, gerando uma fase de estagnação que, não obstante, levaria a pequena burguesia pela primeira vez ao poder.

Esta situação é comentada depreciativamente pelos poetas célebres da época – Boccaccio e Villani – mas constitui a primeira experiência democrática em Florença, durando um intervalo de cerca de quarenta anos.

Tumultos políticos e militares, além de duas devastadoras epidemias de peste bubônica, provocam períodos de fome e desalento, com revoltas populares que tentam modificar o equilíbrio político e social, mas só conseguem assegurar a permanência dos burgueses no governo.


A ascensão dos Médici

Lorenzo, o Magnífico (1449-1492). Membro mais ilustre e conhecido da Família Médici

Os Médici, banqueiros plebeus, assumem a liderança da classe e logo se revestem da dignidade da nobreza. Um sistema oligárquico volta a dominar a cena política, muitas vezes se valendo da corrupção para atingir seus fins, mas também iniciando um costume de mecenato das artes que seria fundamental para a evolução do classicismo no século seguinte.

Na religião, a mudança foi assinalada pela busca de explicações racionais para os fenômenos da natureza; por uma nova forma de ver as relações entre Deus e o homem, pela ideia de que o mundo não deveria ser renegado, mas vivenciado plenamente, e que a salvação poderia ser conquistada também através do serviço público e do embelezamento das cidades e igrejas com obras de arte, além da prática de outras ações virtuosas.

Deve-se frisar que mesmo com a crescente influência clássica, que era toda pagã na origem, o Cristianismo jamais foi posto em xeque e permaneceu como um pano de fundo ao longo de todo o período, criando-se a síntese original que conhecemos hoje.


A arte no Trecento

O Trecento é basicamente um seguimento da arte bizantina, pois, muitas de suas características vieram dessa época da arte.

Duas escolas dominaram a pintura no século XIV. A conservadora Escola Sienesa de pintura, liderada por Duccio de Buoninsegna (1255-1318), que promoveu o estilo antigo da arte bizantina, incluindo sua variante moderna conhecida como gótico internacional (c.1375-1425); e a Escola Florentina Proto-Renascentista liderada por Giotto de Bondone (1267-1337).

Os principais tipos de arte praticados durante o período do trecento mostraram relativamente pouca mudança dos tempos românicos. Eles incluíram: pintura em afresco, painéis de têmpera, pintura de livros, ourivesaria, trabalhos em metal, escultura em relevo e mosaicos.


As pinturas da Escola de Siena apresentavam grande devoção pela figura da Virgem Maria, tema recorrente na arte da cidade. Ainda no século XIV, os irmãos Pietro e Ambrogio Lorenzetti foram os últimos representantes da escola de Siena.

Duccio de Buoninsegna. Madonna e Criança (c.1290–1300)
Duccio de Buoninsegna. Maestà (c.1308-1311).
Retábulo. Dimensões: 370 x 450 cm

O período posterior, de influências italianas, foi visível na Escola de Florença, que pouco privilegiava o misticismo e se mostrava mais preocupada com o realismo das obras. Giovanni Cimabue e Giotto de Bondone (1266-1336) foram os representantes desta fase da pintura gótica.

Após o falecimento de Giotto, a escola florentina mostrou-se incapaz em dar continuidade aos avanços iniciados por este artista, que perseguiu incessantemente o realismo. Assim, ao final do século XIV, houve um retorno ao estilo de Siena e as escolas europeias de pintura apresentavam estilos quase idênticos.

Giotto. Políptico de Bolonha (c.1334)
Pinacoteca Nazionale di Bologna
Giotto de Bondone. O Beijo de Judas (1306)
Afresco na Capela Scrovegni, em Pádua (Itália).

Em razão desta similaridade, os historiadores denominam esta fase como gótico internacional. As pinturas deste período são caracterizadas pela influência das cores vivas nas iluminuras góticas.

O pai da escultura renascentista italiana do século XIV foi o artista de Pisa Giovanni Pisano (1250-1314), que esculpiu uma Madonna e uma criança para a Capela Scrovegni em Pádua.

Giovanni Pisano. Virgem e Criança (c.1305)

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