Fizemos aqui uma seleção de histórias infantis rápidas mas com uma mensagem profunda. Espero que você goste.
Índice dos contos:
Certa ocasião, uma raposa se encontrava morta de fome, pois estava sem comer há dias. Andava por um pomar quando avistou um belo cacho de uvas.
As uvas negras estavam muito viçosas, maduras e prontas para serem apreciadas. Percebendo que estava sozinha e que o caminho estava livre, aprontou-se para colher aqueles frutos.
Não poupou esforços ao tentar pegá-las, empregou todos os seus conhecimentos e habilidades. Ainda que estivessem fora de seu alcance, não cessou as tentativas.
Depois de tantas investidas fracassadas, além de faminta, agora ela estava exausta e desapontada. Sendo assim, suspirando, deu de ombros, finalmente dando-se por vencida.
Deu meia volta e foi embora. Desolada por conta das tentativas mal sucedidas, a raposa tentou consolar a si mesma dizendo “Na verdade, olhando com mais atenção, consigo perceber que todas as uvas estão estragadas, e não maduras, como elas aparentavam quando as vi pela primeira vez.”
Um cordeiro estava bebendo água em um riacho.
Um lobo chegou à beira do riacho para beber água e viu o cordeiro. Olhando para o ele disse com a voz cheia de ameaça:
– Como se atreve a sujar a água que estou bebendo?
– Senhor lobo, – respondeu humildemente o cordeiro – repare que eu estou bebendo abaixo do local em que o senhor se encontra. Assim é impossível para mim sujar a sua água.
– Isso não importa – disse o lobo arreganhando os dentes – pois você há um ano ficou por ai falando mal de mim, o que me desagradou muito.
– Isso é impossível! Há um ano eu nem era nascido. Tenho apenas seis meses de idade – disse o cordeiro.
– Pois se não foi você, foi o teu pai, teu irmão, ou algum parente seu, e seja quem tiver sido, deve pagar por ele .
Dizendo isso, o lobo atirou-se em cima do cordeiro e o devorou, independente dos argumentos de sua vítima.
Moral da história: Qualquer desculpa servirá a uma pessoa perversa.
Um homem estava perdido no deserto. Ele estava há muito tempo sem beber, nem mesmo uma gota de água. Assim, ele estava destinado a morrer de sede.
Caminhando com muita dificuldade, ele chegou a uma velha cabana, que estava desmoronando, sem janelas e sem telhado.
Andou em volta da casa e quando encontrou uma pequena sombra, acomodou-se para se proteger do calor e do sol do deserto.
Olhou ao redor e viu uma velha bomba d’água, toda enferrujada.
Arrastou-se até ela e, agarrando a manivela, começou a bombear, a bombear e a bombear, sem parar. Mas, nada aconteceu.
Desapontado, caiu prostrado para trás, sentando no chão. Então, reparou que a seu lado havia uma velha garrafa. Pegando-a, limpou-a de toda a sujeira e do pó que a cobria. Havia um rótulo na garrafa, onde ele pôde ler um recado, que dizia:
“Primeiro, você precisa preparar a bomba para que ela possa funcionar. Para tal, derrame nela toda a água que contém nesta garrafa, meu amigo. A bomba vai então funcionar. Beba e use toda a água que necessitar. Depois, antes de ir embora, faça o favor de encher a garrafa outra vez para o próximo viajante.”
O homem retirou a rolha da garrafa, e contastou que estava cheia d’água… cheia d’água!
E viu-se, de repente, num dilema:
Se bebesse a água, ele poderia sobreviver, mas se a despejasse naquela bomba velha e enferrujada e, ela não funcionasse, morreria de sede.
Por outro lado, talvez a bomba jorrasse água fresca, bem gelada, vinda do fundo do poço. Assim, ele poderia levar, toda a água que quisesse.
Mas, talvez a bomba não funcionasse, e a água da garrafa seria desperdiçada.
– O que devo fazer? Derramar a água na bomba e girar a manivela para que ela bombeie água fresca, ou beber a água que está na garrafa, ignorando a mensagem do rótulo?
– E se eu perder toda a água da garrafa, na esperança de que a bomba funcione conforme diz as instruções pouco confiáveis, escritas há não sei quanto tempo atrás?
Com relutância, ele resolveu derramar toda a água na bomba. Em seguida agarrou a manivela e começou a bombear, e a bomba começou a ranger, mas nada acontecia!
A bomba continuava apenas fazendo ruído e então, de repente, surgiu um fio d’água, depois um pequeno fluxo e, finalmente, a água jorrou em abundância! Para alívio do homem, a velha bomba fez jorrar água fresca e cristalina!
Sem perder tempo, o homem encheu a garrafa e bebeu com avidez. Depois, encheu a garrafa de novo e bebeu ainda mais de seu conteúdo refrescante. Encheu-a pela última vez até o gargalho e arrolhou-a deixando-a para o próximo viajante. Antes de partir acrescentou ao recado uma pequena nota:
“Acredite em mim. Faça o que o recado diz. Vai funcionar. Você precisa dar toda a água antes de obtê-la novamente”.
Um homem estava caminhando ao pôr do sol em uma praia deserta do México. À medida que caminhava, começou a avistar outro homem a distância. Ao se aproximar, percebeu que era um nativo. Observou que ele se inclinava, apanhando algo e atirando na água. Repetidamente, continuava jogando coisas no mar.
Ao se aproximar ainda mais, nosso amigo notou que o homem estava apanhando estrelas do mar que haviam sido levadas para a praia pelas ondas e, uma de cada vez, as estava lançando de volta à água.
Nosso amigo ficou intrigado. Aproximou-se do homem e disse:
– Boa tarde, amigo. Estava tentando adivinhar o que você está fazendo.
– Estou devolvendo estas estrelas do mar ao oceano. Você sabe, a maré está baixa e todas as estrelas do mar foram trazidas para a praia. Se eu não as lançar de volta ao mar, elas morrerão por falta de oxigênio.
– Entendo, – respondeu o homem, – mas deve haver milhares de estrelas do mar nesta praia. Provavelmente, você não será capaz de apanhar todas elas. É que são muitas, simplesmente. Você percebe que provavelmente isso está acontecendo em centenas de praias acima e abaixo desta costa? Vê que não fará diferença alguma?
O nativo sorriu, curvou-se, apanhou uma outra estrela do mar e, ao arremessá-la de volta ao mar, respondendo com um argumento:– Fez diferença para aquela!
Jack Canfield e Mark Hansen
Era uma vez um homem que se achava sem sorte.
Parece que tudo o que fazia dava errado. Se resolvia plantar algumas sementes, vinha a chuva e as levava embora ou fazia um sol tão forte que queimava todas as sementes. Muitas coisas ruins aconteciam a ele sem que soubesse o porque.
Sempre que se encontrava com alguém, aproveitava para falar da sua falta de sorte, de como as coisas não davam certo com ele.
Ele se queixava com as pessoas e as pessoas escutavam suas queixas. Da primeira vez com simpatia, depois com um certo desconforto e enfim quando o viam, mudavam de caminho ou entravam para dentro de suas casas fechando portas e janelas, evitando-o assim.
Então alem de sem sorte, o homem se tornou chato e muito só. Ele começou a querer achar um culpado para o que acontecia com ele.
Com o tempo, as pessoas começaram a não querer se encontrar mais com ele, para não ter que ouvir aquelas histórias de como as coisas não davam certo, e isso fez com que se sentisse muito só.
O tempo foi passando e ele sempre sozinho, sem ter com quem falar. Isso deixou-o muito triste.
Um dia, sentindo-se sozinho e tristonho, disse para si mesmo:
— Tenho de fazer alguma coisa. Não posso continuar assim, com tanta falta de sorte. E teve uma idéia:
— Já sei o que fazer! Vou me encontrar com Deus! É claro! Se Deus me fez assim, sem sorte, Ele pode mudar a minha vida e me tornar um homem de sorte!
Preparou as coisas que achava importante levar consigo e, numa manhã, partiu em viagem.
Andou por dias e dias, meses e meses até que, finalmente, chegou a uma gigantesca floresta com árvores muito grandes e galhos que quase atigiam o céu.
— Ah! — disse o homem para si mesmo — esse deve ser o lugar onde vive Deus — e começou a se sentir muito sério porque este era realmente um lugar muito sério.
Pouco antes de entrar na floresta ouviu uma voz:
— Homem, me ajude por favor.
Ele olhou para os lados procurando por quem falou, até que se deparou com um lobo magro, quase sem pelos. Ele estava que só pele e ossos. O lobo falou:
— Há três meses estou assim. Não sei o que está acontecendo comigo. Não tenho forças para me levantar.
Passado o susto, o homem respondeu:
— Bobagem a sua queixa. Três meses? Eu tive azar a vida inteira. Mas faça como eu e procure uma resposta. Eu estou indo falar com o Criador para resolver o meu problema.
— Eu não tenho forças nem para ir ao rio beber água. Você está indo vê-lo, pergunte o que está acontecendo comigo. Faça este favor.
O homem franziu a testa e disse que estava muito preocupado com seu problema, mas se lembrasse, perguntaria. Assim, continuou seu caminho. Andou muito e de repente, tropeçou na raiz de uma árvore e ouviu:
— Cuidado homem! Olhando para cima viu que a árvore tinha apenas duas folhas. Levantou-se e observou suas raízes desenterradas, seus galhos retorcidos, sua casca soltando-se do tronco. Depois, disse:
— Você não se envergonha ? Olhe as outras árvores a sua volta e diga se você pode ser chamada de árvore? Conserte sua postura.
A árvore, demonstrando muita dor na voz, disse:
— Não sei o que está acontecendo. Sinto-me muito doente. Há seis meses que minhas folhas caem. Hoje só restam duas. Por favor procure uma solução com o Criador.
Contrariado , o homem seguiu com mais uma incumbência. Andou muito e chegou a um vale com flores de todas as cores e perfumes. Mas o homem não reparou nisto. Chegou até uma casa onde uma moça muito bonita o convidou a entrar. Eles conversaram longamente e quando o homem deu por si já era madrugada. Ele se levantou dizendo que não podia perder tempo. Quando estava saindo, ela lhe pediu um favor:
— Você pode perguntar ao Criador uma coisa para mim? É que de vez em quando sinto um vazio no peito, que não tem motivo e nem explicação. Gostaria de saber o que é e o que posso fazer por isto.
O homem prometeu que perguntaria e virou as costas e andou muito até que chegou ao fim do mundo. Sentou-se e ficou esperando até que ouviu uma voz, que só podia ser a voz do criador.
— Tenho muitos nomes. Chamam-me também de Criador.
O homem contou tudo sobre a sua triste vida. Conversou longamente com a voz. No final da conversa, se levantou e virando as costas foi saindo, quando a voz lhe perguntou:
— Você não está se esquecendo de nada? Não ficou de saber respostas para uma árvore, para um lobo e para uma jovem?
— Tem razão. Voltou para ouvir o que tinha que ser dito.
Quando terminou de escutar, correu. Depois de um tempo, chegou na casa da jovem, que vendo-o passar, chamou:
— Você conseguiu encontrar o Criador? Teve as respostas que queria?
— Sim! Claro! O Criador disse que minha sorte está no mundo . Basta ficar atento e perceber a hora de pegá-la!
— E você fez a minha pergunta?
— Ah! O Criador disse que o que você sente é solidão. Assim que encontrar um companheiro vai ser completamente feliz, e que mais feliz ainda vai ser o seu companheiro.
Então, a jovem abriu um sorriso e perguntou ao homem se ele queria ser este companheiro.
— Claro que não. Já trouxe a sua resposta e não posso perder tempo com você. Não foi para ficar aqui que fiz toda esta jornada.
Correu então até a floresta onde estava a árvore. Ele nem se lembrava mais dela. Mas quando novamente tropeçou em sua raiz, viu cair a última folha. Ela perguntou se ele tinha uma resposta, ao que o Homem respondeu:
— Tenho muita pressa e vou ser breve, pois estou indo em busca de minha sorte. Ela está no mundo. O Criador disse que você tem embaixo de suas raízes uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. O ferro desta caixa está corroendo suas raízes. Se você cavar e tirar esta caixa, vai terminar todo o seu sofrimento e você vai poder virar uma árvore saudável novamente.
— Por favor ! Faça isto por mim! Você pode ficar com o tesouro. Ele não serve para mim. Eu só quero de novo minha força e energia. O homem deu um pulo e falou indignado:
— Você está me achando com cara de quê? Já trouxe a resposta para você. Agora resolva o seu problema. O Criador falou que minha sorte está no mundo e eu não posso perder tempo aqui conversando com você, muito menos sujando minhas mãos com terra.
Então, correu, atravessando a floresta. Chegou onde estava o lobo, mais magro ainda e mais fraco. O homem lhe disse:
— O Criador mandou lhe falar que você não está doente. O que você tem é fome. Está morrendo de inanição, e como não tem mais forças para sair e caçar, vai morrer ai mesmo. A não ser que passe por aqui uma criatura bastante estúpida, e você consiga comê-la.
Nesse momento, os olhos do lobo se encheram de um brilho estranho. Reunindo o restante de suas forças, o lobo deu um pulo e comeu o homem sem sorte.
Era uma vez um belo jardim com maçãs, laranjas, pêras e lindas rosas. Tudo era alegria no jardim, com exceção de uma árvore que estava profundamente triste. A árvore tinha um problema:
– Não sabia quem era, nem o que tinha de fazer.
A macieira lhe disse que era muito fácil fazer saborosas maçãs.
– Por que não tentar?
– Não a escute, – lhe disse a roseira – é melhor ter rosas. Não vê como elas são belas?
E a árvore desesperada, tentava tudo o que lhe sugeriam, porém não lograva ser como as demais, se sentia cada vez mais frustada.
Um dia chegou ao jardim uma coruja, o mais sábio dos pássaros, e ao ver o desespero da árvore, exclamou:
– Não se preocupe, seu problema não é grave, muitos seres sobre a Terra o têm. Vou lhe mostrar uma nova possibilidade:
– Não dedique sua vida para ser como os outros querem que você seja … Busque ser você mesmo, conhecendo e ouvindo a sua voz interior, ela irá dizer-lhe qual é a sua vocação, a sua missão nesta vida – e dito isso, a coruja desapareceu.
– Minha voz interior…? Ser eu mesmo?… Conhecer-me?… Vocação?… Missão?…
Perguntava a si mesmo a árvore desesperada, quando de repente ela percebeu … E fechando os olhos e os ouvidos, pode abrir o seu coração, e ouvir uma voz interior dizendo:
– Você jamais dará maças porque você não é uma maçieira, nem irá florescer a cada primavera, porque você não é uma roseira. Você é um carvalho, e seu destino é crescer grande e majestoso. Proporcione abrigo para pássaros, sombra para os viajantes, beleza para a paisagem … Essa é a sua vocação .. É para isso que você nasceu. Descubra como se manifestar e cumpra a sua missão.
A árvore se sentiu forte e segura de si mesmo e se preparou para ser tudo aquilo para o qual foi concebida. Assim, logo cresceu e passou a ser admirada e respeitada por todos.
Só então o jardim ficou completamente feliz.
Um conto da Índia
Havia no alto das montanhas da China antiga, um grande mestre na arte do arco e flecha que por muitos anos ensinava seus discípulos a manejarem o arco como arte, maestria e meditação.
Já havia ensinado a muitos alunos, quando um príncipe de uma grande família da região do norte do país resolveu ir até ele para se aperfeiçoar na arte do arco e flecha.
Era uma rapaz forte, de opinião forte, e não aceitava qualquer ensinamento sem que tivesse uma boa explicação.
O mestre muito paciente lhe ensinou várias técnicas e o rapaz era realmente perseverante e treinava intensamente, sem descanso.
Seus amigos ficavam espantados, pois o príncipe rapidamente se tornou o aluno mais preciso e o mais aguçado na arte da mira e na precisão da flecha. Era de pouca conversa e sempre estava treinando dia e noite.
Uma noite o mestre chegou perto dele e disse:
– Huang Kiu, porque você está treinando tão intensamente? Com quem está competindo?
– Ninguém disse o príncipe, estou apenas treinando, pois quero ser o melhor arqueiro da China, e serei.
– Então, disse o mestre, veja como sua mente está presa nesse desejo, o desejo de ser melhor que todos os outros. Porque não apenas se aperfeiçoar na arte do arco e flecha e respeitar o grande Tao? A flecha flui por si mesma, não precisa nenhum esforço. O dia nasce por si mesmo, a noite nasce por si mesma. Nenhum esforço é necessário. Onde há esforço existe a mente envolvida, controlando, o fluxo foi quebrado.
– Isso não me importa, disse Huang Kiu. Tudo isso é bobagem. Quero me tornar o melhor arqueiro e vou.
Na verdade, vejo que já sou o melhor dos seus alunos aqui, agora só me falta superar o senhor. Quando conseguir, partirei. Terei cumprido meu ciclo aqui.
– Então, disse o mestre, treine mais, treine muito mais, e você me superará.
E assim foi feito. Huang Kiu treinava alucinadamente, dia e noite para superar o seu mestre. Os outros alunos se afastaram dele, e viram que ele precisava ter sempre alguém para superar, isso lhe dava a sensação de poder, e ele se sentia desafiado.
Um dia, Huang Kiu chegou perto do seu mestre e disse:
– Mestre, sinto que já o alcancei. Vamos por a prova?
– Sim, claro vamos por a prova sua superioridade, disse o mestre.
– Então vamos até o alvo mais distante que lhe mostrarei que já estou pronto.
– Sim, disse o mestre, vamos ao alvo mais distante.
E foram os dois, ao grande campo verde, onde o alvo estava pronto a espera dos dois arqueiros. Era realmente distante e somente um grande arqueiro conseguiria acertar o alvo naquela distância.
Huang Kiu se posicionou e disparou a flecha, que foi certeira na mosca.
Não se dando por satisfeito, se posicionou novamente e disparou nova flecha que acertou rente a primeira.
O mestre ficou impressionado e disse:
– Huang Kiu você foi muito bem, muito bem mesmo…mas ainda não está pronto.
– Como não, disse Huang Kiu, acertei na mosca a essa distância, foram perfeitos meus disparos.
Não compreendo o que me falta?
– Venha comigo, e lhe mostrarei o que é a maestria.
E foram os dois pelo penhasco caminhando, subindo pelas montanhas até que se depararam com uma ponte frágil que ligava dois morros, isso a uma grande altura, e lá em baixo passava um rio. O vento soprava forte, as árvores e a ponte balançavam.Foi então que o mestre disse:
– Vê, vai até o meio dessa ponte e dali acerte aquela árvore do outro lado, quero ver a sua destreza de arqueiro aqui nesse lugar, nessas condições.
Huang Kiu se assustou:
– Tenho medo de altura, essa ponte não é segura, o vento está forte, tudo balança, posso cair, nem sequer vejo bem o outro lado a neblina me impede de ver com clareza. Isso é uma bobagem. Não vou fazer, sou um grande arqueiro não preciso desse treinamento nessas condições.
E se virou para ir embora, quando viu o mestre no meio da ponte lançando a flecha com total tranquilidade e precisão mesmo em meio a toda aquela diversidade.
Huang Kiu parou, ficou em silencio. Ali naquele instante percebeu que não sabia nada sobre o caminho do arco e flecha. Ali viu como seu ego se havia inflado e ele pode compreender que a mente serena é capaz de vencer todas as adversidades do momento e permanecer fixa no alvo, mesmo que tudo a volta esteja revolto, a paz interior não se confunde, não se abala, ela é sempre presente e age de acordo com o momento, em perfeita sintonia e precisão.
Quando o mestre retornou, Huang Kiu caiu aos seus pés e lhe pediu perdão por ter sido tão arrogante.
– Mestre, me perdoe, agora compreendo o que queria me ensinar. Vejo que fui um tolo e que não é por aquisição de técnica e treinamento que se chega a maestria, mas pelo esvaziamento do ego e pelo silencio da mente… pela ausência de esforço e por se estar em paz, sereno e centrado… a flecha segue o seu caminho por sí só…
– O mestre olhou no fundo dos seus olhos, e lhe disse:
– Vá, agora você aprendeu a lição. Agora você é um verdadeiro arqueiro. Não há nada mais a aprender.
O Verdadeiro arqueiro dispara com o coração…
Querendo atravessar um rio, o escorpião, que não consegue nadar, perguntou à tartaruga:
– Posso atravessar esse rio agitado em suas costas?
– Você está louco? – respondeu a tartaruga – você me picará enquanto eu estiver nadando e me afogarei.
– Querida tartaruga, – respondeu o escorpião – se eu fosse picar você então o que disse seria uma verdade. Entretanto, eu iria com você para o fundo do rio. Ora, que lógica tem isso?
Depois de um momento de reflexão, a tartaruga convencida pelo escorpião, concordou em transportá-lo.
– Sobe, disse ela.
O escorpião subiu no casco da tartaruga e ela se jogou na água. Quando estava atingindo o meio do rio, o escorpião deu-lhe uma impiedosa ferroada. O veneno agiu quase que de imediato paralisando a tartaruga que não conseguiu mais nadar e começou a ir para o fundo, levando junto seu passageiro.
Com ar de indignação, voltando-se para o escorpião, a tartaruga disse:
– Quero lhe perguntar uma coisa: você disse que não havia lógica em você me picar. Por que o fez?
– Não tem nada que ver com a lógica, – respondeu ele – é simplesmente a minha natureza.
Um pescador solitário, ao recolher certo dia sua rede, nela encontrou uma garrafa de bronze com uma rolha de chumbo. Ainda que o aspecto da garrafa fosse muito diferente das que estava acostumado a encontrar no mar, pensou que pudesse conter alguma coisa valiosa. E como a pesca naquele dia não fora boa, no pior dos casos poderia vender a garrafa a quem negociasse com metais usados.
A garrafa não era muito grande. No tampo estava gravado um estranho símbolo, o Selo de Salomão, Rei e Mestre. Dentro dela estava aprisionado um temível gênio. A garrafa fora lançada ao mar pelo próprio Salomão, para que os homens se vissem protegidos do espectro até surgir alguém que pudesse controlá-lo, encaminhando-o para sua função precípua de servir a humanidade.
Mas o pescador desconhecia tal história. Só sabia haver algo naquela garrafa que podia averiguar, retirando disso algum proveito talvez. Seu exterior era brilhante, uma obra de arte.
– Pode ser que aí dentro haja diamantes…- murmurou o pescador, e esquecendo-se da sentença “O homem só pode usar aquilo que aprendeu a usar”, destampou a garrafa.
O pescador revirou a garrafa, que parecia vazia, então colocou-a na posição correta sobre a areia, fitando-a. Aí percebeu um tênue fio de fumaça, que pouco a pouco se adensou até formar um torvelinho. Assumiu então a aparência de um ser enorme e ameaçador, que lhe disse com voz de trovão:
– Sou o Chefe dos Gênios que conhecem os segredos de fatos miraculosos. Fui aprisionado por ordem de Salomão contra o qual me rebelei, e agora vou destruir você!
Aterrorizado, o pescador arrojou-se sobre a areia e gritou:
– Vai destruir aquele que lhe devolveu a liberdade?
– Eu o farei, sem dúvida – retrucou o gênio, – pois a rebelião faz parte da minha natureza, e a destruição é a minha capacidade, embora me tenham mantido imóvel por milhares de anos.
O pescador compreendeu muito bem que, além de não tirar proveito de sua inoportuna pescaria, provavelmente seria destroçado sem nenhuma razão plausível a seu ver.
Ao fitar a rolha e o selo, de repente uma idéia lhe veio à mente.
– Você nunca poderia ter saído dessa garrafa, pois é muito pequena.
– Que diz? Duvida por acaso da palavra do Chefe dos Gênios? – bradou a aparição, logo se dissolvendo em forma de fumaça e retornando ao interior da garrafa.
Mais que depressa, o pescador tampou a garrafa e lançou-a o mais longe que pode, novamente às profundezas do oceano.
Transcorridos muitos anos, certo dia, outro pescador, neto do anterior, lançou sua rede no mesmo lugar, e recolheu a mesma garrafa de bronze.
Colocou-a sobre a areia e estava prestes a abrí-la quando um pensamento se impôs em sua mente. Era um conselho que lhe fora transmitido por seu pai, que por sua vez o recebera do avô do pescador.
Eis o conselho: “O homem só pode usar aquilo que aprendeu a usar”.
E foi assim que quando o gênio, despertado de seus sonhos pelo movimento de sua prisão metálica, disse através do bronze: – Filho de Adão, seja quem for, abra a tampa desta garrafa e me liberte, já que sou o Chefe dos Gênios que conhecem os segredos de fatos miraculosos. O jovem pescador, recordando o rifão secular, colocou a garrafa cuidadosamente numa cova e escalou um rochedo próximo em busca do refúgio de um homem sábio que ali vivia.
Após ouvir a história contada pelo rapaz, o sábio disse:
– Seu adágio é perfeitamente correto, e você tem que fazer isso pessoalmente, ainda que tenha que saber como fazê-lo.
– Mas o que devo fazer? – indagou o rapaz.
– Certamente há alguma coisa que você sente que deve fazer.
– O que desejo é libertar o gênio, a fim de que me possa conceder o conhecimento milagroso, ou talvez montanhas de ouro, e mares feitos de esmeraldas, e todas as outras coisas que os gênios podem conceder.
– Naturalmente você não pensou que o gênio poderia não lhe dar essas coisas ao ser libertado; ou que poderia concedê-las e logo depois despojá-lo delas porque você não dispõe de meios para guardá-las. Isso sem falarmos no que lhe poderia ocorrer quando você possuísse tais coisas, já que “o homem só pode usar aquilo que aprendeu a usar”.
– Então como devo proceder?
– Peça ao gênio uma amostra do que ele pode oferecer-lhe. Pense numa maneira de salvaguardar essa amostra e de testá-la. Procure o conhecimento, não bens materiais, porque sem o conhecimento são inúteis, e esta é a causa de todas as nossas distrações.
Então, como estava atento e reflexivo, o rapaz idealizou um plano de ação enquanto voltava ao lugar onde deixara a garrafa de bronze.
Bateu na garrafa e a voz do gênio se fez ouvir, mais fraca através do metal, mas mesmo assim assustadora:
– Em nome de Salomão, o Poderoso, sobre quem recaia a paz, liberte-me, filho de Adão!
– Não creio que seja quem alega ser e que tenha os poderes que diz possuir.
– Então não acredita em mim? Ignora que sou incapaz de mentir? – bradou o gênio.
– Ignoro – respondeu o jovem pescador.
– Então como posso convencê-lo?
– Faça uma demonstração. Pode exercer algum de seus poderes através dessa garrafa?
– Sim – admitiu o gênio – mas esse poderes não servirão para libertar-me.
– Muito bem; então, conceda-me a aptidão necessária para conhecer a verdade acerca do problema que me preocupa.
Imediatamente após os gênio consumar suas estranhas artes mágicas, o pescador adquiriu consciência da origem verdadeira da sentença herdada de seu avô. Contemplou, também, a cena completa da libertação do gênio da garrafa, vendo além disso como poderia transmitir a outros a maneira de adquirirem tais dotes dos gênios. Mas também percebeu ser isso tudo quanto poderia fazer. Sendo assim, o jovem pescador pegou a garrafa e, como outrora fizera seu avô, lançou-a longe, no mar.
Passou o resto de sua vida não como um pescador, mas sim como um homem que procurava explicar aos demais os perigos que ameaçam “o homem que busca usar aquilo que não aprendeu a usar”.
Mas já que raras pessoas se viram diante de gênios encerrados em garrafas, e como, de modo algum, havia um sábio para aconselhá-los, os sucessores do pescador distorceram o que denominavam seus “ensinamentos” e parodiaram suas descrições. Como o passar do tempo estas se transformaram numa religião, com garrafas de bronze, em que algumas vezes bebiam alojados em templos caros e bem adornados. E por respeitarem o comportamento daquele pescador, esforçaram-se, de todos os modos possíveis, para emular seus atos e seu modo de ser.
A garrafa, agora, depois de muitos séculos, permanece como o símbolo sagrado e fonte de mistério para essas pessoas. Procuram amar-se uns aos outros somente por amarem aquele pescador; e no mesmo lugar onde ele se estabeleceu e construiu uma humilde cabana, se vestem luxuosamente e efetuam rituais sofisticados.
Sem que eles se apercebam, os discípulos do homem sábio ainda vivem; os descendentes do pescador, estes são desconhecidos. A garrafa de bronze jaz ainda no fundo do mar, com o gênio nela encerrado.
Moral da história:
Embora o gênio seja manipulador e sinistro, a capacidade do pescador de responder à ameaça dele é bastante inspiradora. Esta história oferece a seus leitores e ouvintes a lição de que mesmo uma pessoa comum de meios humildes pode superar o mais poderoso dos seres com apenas um pouco de raciocínio claro.
Era uma vez um andarilho muito sábio que vagava de vila em vila pedindo esmolas e compartilhando os seus conhecimentos nas praças e nos mercados.
Ele estava em uma praça em Akbar quando um homem chegou perto dele e disse:
– “Ontem, uma mago muito poderoso me disse que aqui nesta praça eu encontraria um mendigo, que apesar de sua miserável aparência me daria um tesouro de valor inestimável e que isto mudaria completamente a minha vida. Quando vi você percebi de imediato que era o homem que eu procurava. Por favor, me dê o seu tesouro”.
O mendingo olhou para ele sem falar nada, enfiou a mão em um alforge de couro bem desgastado e em seguida estendeu a mão para o homem, dizendo:
– “Deve ser isto então!” Entregando-lhe um diamante enorme.
O outro levou um grande susto e exclamou: – “Mas! Esta pedra deve ter um valor enorme!”
– “É mesmo? Pode ser. Eu a encontrei no bosque.” Disse o mendigo.
– “Muito bem, quanto devo dar por ela?
– “Nada! Para mim ela não serve. Não preciso dela. Se ela lhe serve, leve-a. Não foi isto que o mago lhe disse?”. Perguntou o mendigo.
– “Sim, foi isto que ele me disse. Obrigado”. Muito confuso, o homem guardou a pedra e foi embora.
Meia hora mais tarde ele voltou. Procura o mendigo na praça e encontrando-o diz:
– “Tome sua pedra e me dê o tesouro”.
– “Não tenho nada para lhe dar”. Disse o mendigo.
– “Tem sim! Quero que me ensine como pôde abrir mão dela sem que isso o incomodasse”.
O homem então passou anos ao lado do mendigo até que aprendeu o que era o desapego.
Então, qual é a lição?
Todos os tesouros da vida estão dentro.
Alfredo Volpi nasceu em Lucca na Itália 1896. Ele se mudou com os pais para…
Anita Malfatti nasceu filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth "Betty" Krug, Anita…
Rosana Paulino apresenta um trabalho centrado em torno de questões sociais, étnicas e de gênero,…
Na arte, o belo é um saber inventado pelo artista para se defrontar com o…
SPPARIS, grife de moda coletiva fundada pelo artista Nobru CZ e pela terapeuta ocupacional Dani…
A galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea - que completa 15 anos - apresentará, entre os…