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Por que a arte com IA está conquistando os jovens colecionadores

A inteligência artificial (IA) já vinha sendo discutida no mercado de arte há algum tempo, mas o assunto atingiu um novo patamar em fevereiro de 2025, quando a Christie’s anunciou seu primeiro leilão composto inteiramente por obras criadas com IA.

Um novo tipo de leilão

Intitulado Augmented Intelligence (“Inteligência Aumentada”), o evento foi anunciado como “o primeiro leilão dedicado exclusivamente à inteligência artificial”. A venda, realizada apenas online, incluiu obras de artistas como Refik Anadol, Charles Csuri, Claire Silver, Holly Herndon e Mat Dryhurst. O sucesso foi notável: 28 dos 34 lotes oferecidos foram vendidos, somando US$ 728.784.

O que mais chamou atenção foi o público: 48% dos licitantes tinham menos de 40 anos (Geração Z e Millennials), e 37% nunca haviam participado de uma venda da Christie’s antes. O ambiente online favorece esse novo público. Segundo o relatório Art Collector Insights 2024, 82% dos colecionadores com menos de 37 anos já compraram arte pela internet.

O apelo da arte com IA

Para Nicole Sales Giles, vice-presidente da Christie’s e diretora de vendas de arte digital, o apelo da arte com IA está diretamente ligado à familiaridade dos jovens com a tecnologia:

“A arte com IA está se tornando mais aceita porque a IA já faz parte do cotidiano. Para os colecionadores jovens, essa familiaridade se traduz em maior valorização da tecnologia e do processo criativo por trás das obras.”

Em um momento em que o mercado busca atrair a nova geração de colecionadores, a arte com IA pode ser um importante ponto de entrada.

Entendendo a diferença: IA, NFTs e arte digital

A arte com IA é muitas vezes confundida com NFTs. É importante diferenciar:

  • Arte com IA: é criada por meio de algoritmos e ferramentas como ChatGPT ou DeepAI.
  • NFTs: são certificados digitais de propriedade baseados em blockchain.
  • Arte digital: é todo trabalho criado com tecnologias digitais, com ou sem uso de IA.

Uma obra pode ser arte com IA e também um NFT, como 5 Mins to Opening (2024), vendida por US$ 11.340 na Christie’s.

Controvérsias e desafios legais

Nem tudo são flores. Após o anúncio da venda, uma petição com mais de 6.500 assinaturas pediu o cancelamento do leilão, argumentando que modelos de IA usam obras humanas sem autorização.

A Christie’s respondeu que os artistas envolvidos possuem práticas consolidadas e usam IA como extensão criativa. O artista franco-turco Sarp Kerem Yavuz reforçou:

“Poucos percebem que a IA é, na verdade, uma ferramenta colaborativa.”

Do ponto de vista jurídico, os direitos autorais de obras geradas por IA ainda geram debate. O Escritório de Direitos Autorais dos EUA afirma que apenas conteúdos com expressão humana são protegidos.

Conexão com a nova geração

Para Neil Hutchinson, da galeria Fellowship, a arte com IA reflete a realidade digital dos jovens:

“Ela captura a vivência dos nativos digitais e oferece mais relevância que formas tradicionais.”

A artista Sarah Meyohas, por exemplo, treinou uma IA com milhares de pétalas de rosa para criar a obra Infinite Petals(2023), que une estética digital e criatividade humana.

O colecionador australiano Daniel Maegaard sintetiza:

“A arte com IA representa nosso momento cultural. Os jovens se identificam porque ela espelha sua experiência digital.”

Um mercado em ascensão

Em novembro de 2024, AI God. Portrait of Alan Turing (2024), criada pelo robô Ai-Da, foi vendida por US$ 1,08 milhão, tornando-se a obra de IA mais cara já leiloada.

Grandes galerias, como Gagosian e White Cube, começam a abraçar essas práticas. Mila Askarova, da Gazelli Art House, acredita que a IA pode ser um portal de entrada para novos colecionadores:

“É o início de algo maior. Certos termos vão perder sentido, e o tempo revelará os grandes talentos.”

Para Hutchinson, o momento atual lembra a chegada da fotografia no século XIX:

“A arte com IA está prestes a deixar de ser uma curiosidade e se tornar parte essencial das coleções contemporâneas.”

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Paulo Varella

Estudou cinema na NFTS (UK), administração na FGV e química na USP. Trabalhou com fotografia, cinema autoral e publicitário em Londres nos anos 90 e no Brasil nos anos seguintes. Sua formação lhe conferiu entre muitas qualidades, uma expertise em estética da imagem, habilidade na administração de conteúdo, pessoas e conhecimento profundo sobre materiais. Por muito tempo Paulo participou do cenário da produção artística em Londres, Paris e Hamburgo de onde veio a inspiração para iniciar o Arteref no Brasil. Paulo dirigiu 3 galerias de arte e hoje se dedica a ajudar artistas, galeristas e colecionadores a melhorarem o acesso no mercado internacional.

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