“Na vida não tem sentido ficar apegada às coisas. Quando se almeja algo novo é preciso abandonartudo o que veio antes”
Teresa Nazar
Em circunstâncias diferentes de sua carreira artística, Teresa Nazar sempre entendeu que a arte é uma forma de ampliação de conhecimentos. Consciente das múltiplas transformações temporais, utilizou em suas obras nos anos 1960, como estratégia básica de comunicação, materiais e técnicas atualizadas, explicitando e, de certo modo, facilitando a apreensão e a intelecção das incertezas e das aspirações da sociedade dessa época, em oposição à massificação crescente pós Segunda Guerra Mundial, que absorvia os progressos científicos e tecnológicos, consumindo-os sob a ótica de interesses menores e imediatistas.
Entendeu, com antecedência, que a arte da segunda metade do século XX não se prestaria apenas para fins expressivos pessoais, de uma sensibilidade mais ou menos aguda ou de uma visão alienada socialmente – desligada do seu tempo e das dificuldades pessoais de seus conterrâneos. Antecedeu assim os preceitos elaboradospelo principal manifesto da vanguarda brasileira, elaborado e
publicado na cidade do Rio de Janeiro por Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Lygia Pape, Maurício Nogueira Lima e entre outros, Lygia Clark, em janeiro de 1967 e conhecido como Declaração dePrincípios Básicos da Vanguarda Brasileira.
Para a artista, viver e criar sempre foi um desafio instigante, uma relação dialógica estabelecida por intermédio de signos, formas e cores – vivenciais aos usufruidores de suas criações plásticas. Um diálogo que tinha como propósito principal ser expressão mútua, não somente uma forma de falar por outro ou para o outro, mas com o outro – uma manifestação igualmente significativa para o público e para a própria artista.
Uma maneira de transpor a impessoalidade da vivência social, capaz de despertar no ser humano a consciência de si mesmo, de construir ou de reconstruir seus valores, intensificar experiências, reelaborar o mundo que o envolve sobre o qual age, mas também que o pressiona e o modela.
Teresa Nazar, desta forma, compreende a configuração estética tecnologia que evoluciona e revoluciona o cotidiano – unindo sentimentos que interferem no processo criativo dos artistas e que transcendem o meramente particular para projetar-se esteticamente no universal.
Assim, os fragmentos e os recortes de materiais industrializados se transformam em ferramentas primordiais para a sua criação plástica. Uma forma talvez de sinalizar um tempo difícil, não só para o Brasil, sua pátria adotada, mas para o mundo em geral.
Visionariamente, a pintora entendeu os fatos, hoje considerados históricos (o Ato Institucional Número 5, a prisão dos estudantes do 3º Congresso da UNE, a proibição da exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro de artistas brasileiros selecionados para representar o Brasil na Quinta Bienal de Paris, o Pacto de Varsóvia, o fim da Primavera de Praga, as grandes manifestações estudantis e greves em Paris, o assassinato do líder pacifista Martin Luther King e até as transgressões criativas do Festival de Woodstock). Enfim, um tempo que exigia posicionamentos claros, sem subterfúgios. A artista reformula radicalmente a sua obra situando-a neste novo contexto histórico, traduzindo em criações visuais seu engajamento social, estético.
Objetos subtraídos do cotidiano, industrializados são apropriados como matéria de ressignificação poética. Destituídos de seu destino original, desprovidos de qualquer tipo de glamour, ganham uma nova potência quando migram para a arte. Denunciam o estado efêmero da vida, ressignificam valores.
Os cânones tradicionais do bom gosto, se aplicados à primeira vista na obra desta fase da artista, são inutilizáveis. Teresa Nazar deliberadamente incorporou e ao mesmo tempo ultrapassou as características artísticas das correntes reinantes da época: Novo Dadaísmo, Novo Realismo, Nova Figuração, Pop-Art.
Assim como Susan Sontag, Teresa Nazar entendeu a significativa contribuição da estética Camp para aquele período. A pintora decisivamente eliminou o que seria assimilável facilmente, substituindo-o por uma composição vigorosa à margem do caudal da arte de imediata intelecção e consecutiva comercialização, à procura de uma arte objetual, entre a pintura e a escultura, uma crítica direta à sociedade industrial de consumo, que lhe possibilitou uma visão particular do mundo, índice da liberdade artística alcançada pela imaginação irrestrita desta artista.
Independente e livre de objetivos esculturais, os materiais industrializados escolhidos pela artista impulsionam e dinamizam a composição final da obra: lâminas finas, maleáveis são recortadas arqueadas, dobradas, sanfonadas. Além dos metais,Teresa Nazar acrescentou em seus painéis materiais plastificados, tecidos variados, pregos e até parafusos.
Perfeitamente integrados à composição, adquirem certa autonomia de aparência inesperada, incomum. Apesar de optar pela não utilização de materiais considerados nobres e sacralizados pelas artes plásticas, seus painéis superam vicissitudes e alcançam densidades unívocas. As emendas e as suturas, resolutivamente visíveis ressaltam não apenas as precariedades destes materiais, mas da própria humanidade. As confrontações formais e figurativas aparentemente contraditórias reforçam ainda mais a proposta inicial da artista, um confronto direto com o conturbado momento histórico da época.
Ao expor fragmentos e detritos da decantada sociedade tecnológica, a artista realiza uma experiência estética diferenciada: uma crítica ao estatuto real da contemporaneidade que privilegia os processos produtivos tecnológicos vigentes, em detrimento da humanidade. Daí a aparente instabilidade criada em suas obras, tensão permanente entre superfícies e volumes.
Felicitada pelos principais críticos de arte brasileira, Teresa Nazar aprofundou ainda mais as suas pesquisas estéticas.
Mário Schenberg, ao escrever sobre esta nova fase da artista, afirmou: “Na VIII Bienal, Teresa causou uma grande surpresa pelo progresso rapidíssimo que realizara em pouco tempo. Verdadeiro salto. Sua pintura ganhara um arrojo e uma liberdade imprevisíveis, graças à sua audácia no emprego de novos materiais e a virada para novas formas de realismo… Sua visão do mundo não podia ser transmitida adequadamente pela simples representação gráfica e colorística tradicional”.
Em 1966, Frederico de Morais acrescentou: “Do último ano para cá, Teresa Nazar transformou radicalmente sua temática, iniciando uma série interessantíssima sobre vôos de astronautas, na qual usa materiais dos mais diversos – placas de metal, restos de objetos industrializados, etc. – como que a sugerir a mesma ambiência dos vôos interplanetários… É preciso prestar atenção em TeresaNazar”.
“Teresa Nazar abandonou a pintura de cavalete e dedica-se a serrar, parafusar, pregar elementos dos mais variadospara a realização de seus quadros. É uma pintora da vanguarda paulista”.
Harry Laus
“A temática ‘pop’ é adequada às novas realizações da artista… Teresa Nazar utiliza-se de objetos e chapas prateadas, que revitalizam a sua composição…uma pintura inovadora e anticonformista, baseada numa temática da nossa época, como a da navegação sideral, com os seus foguetes, cápsulas e astronautas, heróis modernos empenhados na aventura da conquista do cosmo”.
Antonio Bento, em 1966
“A artista destacou-se por suas interpretações pictóricas do cotidiano, bem como pela série de quadros dedicados aos astronautas e aos vôos espaciais, servindo-se então de uma linguagem claramente influenciada pela Pop norte-americana”.
José Roberto Teixeira Leite confirmou:
Apesar de Teresa Nazar não concordar, muitos críticos inseriram a sua produção visual na Pop-Art. A artista, em depoimento para o Jornal do Brasil, discordou:
“Há muito tempo – por necessidade e obrigação – acabei com a pintura de cavalete. Creio nos materiais que procuro e utilizo porque, através deles, chego a concretizar um pedaço do tempo no qual existi”.
Teresa Nazar
Em seguida completou:
“Minha arte é bem distinta daquilo que os pop-art americanos mostram em suas obras, pois, sendo o artista um termômetro de sua época, ele retratará os símbolos do mundo que o rodeia dentro de seus limites geográficos. O homem americano não tem tempo de parar para pensar. Por isso a Pop-Art americana reflete um mundo agitado, cheio de cartazes luminosos, produtos alimentícios e garrafas de coca-cola”.
Teresa Nazar
Em depoimento, iconoclasticamente, a autora reforça a sua independência estética afirmando que as nomenclaturas e as classificações artísticas deviam ser eliminadas:
“Chegou um momento que você não precisa dizer: isto é uma pintura, um desenho, uma gravura ou uma escultura. Você pode utilizar todos os materiais escultóricos, gráficos, pictóricos em uma única obra”.
Apesar da não concordância explícita da artista, de sua filiação à Pop-Art, algumas de suas obras (distantes do marketing e da apologia de consumo) se aproximam, tangenciam conceitualmente esta corrente artística.
Após ser aclamada pelo crítico Mário Schenberg como “artista da vanguarda paulista” e alcançar visibilidade nacional por intermédio de suas participações com grande destaque em duas Bienais Internacionais de São Paulo – a pintora foi convidada (em plena ditadura militar) para realizar junto com os mais importantes artistas daquela época: Hélio Oiticica, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Nicolas Vlavianos, Pedro Escosteguy, Maria Helena Chartuni e Carlos Vergara – de um dos mais polêmicos eventos da década de 60: o Happening na Avenida São Luís/
Galeria Atrium de São Paulo, que, segundo Carlos Vergara, foi para desmitificar a arte:
“Somos realistas. As coisas devem ser vistas como são. Vamos tirar o paletó da obra de arte para que o público se sinta à vontade para ver”.
Em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo Teresa acrescentou;
“o propósito do apeningue é social e artístico servindo-se da psicologia do choque para despertar no espectador o impacto ante a obra de arte… algo momentâneo, que pode chocar o meio mostrando a insignificância das coisas e das idéias, o desprezo pelos valores estabelecidos e também algo mais: avalidade na escolha dos meios de expressão artística”.
Este evento, um manifesto iconoclasta, na época foi aclamado e ao mesmo tempo detestado pelo público e parte da crítica de arte. Os críticos mais engajados com a arte contemporânea o defenderam. O diretor do Museu de Arte de São Paulo – MASP, Pietro Maria Bardi, com discernimento e firmeza afirmou:
“a arte brasileira continua a se desenvolver como estava previsto, participando sempre, e cada vez com mais intensidade, dos movimentos de renovação que surgem agora, uns após outros, em toda parte. Para muitos isto é errado; para outros, justo… tudo o que escapa do campo do conhecimento fácil e corriqueiro ainda não é aceito”.
Pietro Maria Bardi
Ao se apropriar e adequar para a arte objetos e materiais até hoje relegados culturalmente, a pintora institui formalmente uma nova leitura, um novo olhar. Para esta artista não existiam materiais nobres ou menos nobres.
Cabia unicamente ao criador rever e superar padrões e convenções estipulados por antigas gerações de artistas e ou historiadores de arte. Assim, telas de arame, palhas de aço (Bombril), tecidos, placas metálicas recortadas ou dobradas, madeira, gesso misturado com estopa e cola PVA, parafusos, interruptores, cabos elétricos, arrebites – objetos côncavos ou convexos – convivem formalmente nas composições e alegorias visuais de Teresa Nazar.
Metáforas que abrigam objetos, formas e cores vibrantes: operações simbólicas desvinculadas de relações imediatistas de significados-significantes, somente testemunhas da realidade circundante. Para a artista, os materiais funcionam como coautores da obra, pois expressam intrinsecamente o essencial, o indisfarçável, certa verdade inalcançável à arte por outros meios. Os materiais, muitas vezes constroem tensões, integrantes e inseparáveis do ideário visual concretizado pela artista. Uma cosmogonia visual que redimensiona as discussões sobre a própria criação artística (iniciada por Teresa Nazar com as suas pinturas dos anos 1950), para um diálogo mais amplo com diferentes técnicas e diversificados materiais, assim os seus quadros avolumam-se e testam os limites sacralizados da pintura: uma tradução particular, convincente, sensível de Teresa Nazar.
Com esse resgate histórico da produção plástica de Teresa Nazar nos anos 1960, a Galeria Berenice Arvani reforça a opinião de Walter Zanini que, em 2005, afirmou que Teresa Nazar “criou múltiplos campos de imagens, construídos através de grande liberdade de formas articuladas, singulares… é recorrente o assemblage de coisas industrializadas … descobrimos em seus cenários geralmente conturbados, uma presença significativa
de razões femininas, sócio-culturalmente e psicologicamente entre as maiores de um período de luta por emancipações … A contribuição de Teresa Nazar permanece.”
11
João J. Spinelli
1 SCHENBERG, Mário. “Teresa Nazar”. Galeria Atrium, São Paulo, 18 de agosto de 1966.
2 MORAIS, Frederico. “A melhor Exposição é a de Teresa Nazar”. O Globo, Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1966.
3 LAUS, Harry. “Coexistência Pacífica”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1966.
4 BENTO, Antonio. “Os Astronautas de Teresa Nazar”. Última Hora, Rio deJaneiro, 16 de setembro de 1966.
5 LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura. Rio de Janeiro: ArtLivre, 1988. p. 349. Verbete Nazar, Teresa.
6 A Arte de Impacto de Teresa Nazar. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1966
7 FAAP. Departamento de Pesquisa e Documentação de Arte Brasileira daFundação Armando Álvares Penteado. São Paulo, 27 de setembro de 1977.
8 Vamos participar desse apeningue. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 deagosto de 1966.
9 Apeningue, o que é? O Estado de São Paulo. 12 de agosto de 1966
10 BARDI, Pietro Maria. Simpatia para com o “happening” dos artistas. Diáriode São Paulo, 17 de agosto de 1966
11 ZANINI, Walter. Sobre Teresa Nazar. In Tereza Nazar na Vanguarda Paulista.
Spinelli. João. [ET alii]. São Paulo. Museu de Arte Brasileira – FAAP – 2005 p. 14
Teresa Nazar nasceu no dia 1º de abril de 1933 em Mendoza, Argentina. Faleceu em 16 de junho de 2001 em São Paulo, cidade adotada e amada pela artista.
Antes de vir para o Brasil, recebeu na sua cidade natal uma formação artística e humanística exemplar ministrada pela Universidade Nacional de Cuyo, que lhe outorgou, em 1961, uma bolsa de intercâmbio cultural.
A artista, para se aprimorar em litografia, veio para São Paulo, onde estudou na FAAP com Marcelo Grassmann e Darel Valença. Este intercâmbio lhe possibilitou, além de seu aperfeiçoamento em gravura, ser assistente da professora Hebe de Carvalho na própria FAAP e ser selecionada para participar como monitora da VI Bienal Internacional de São Paulo.
Estas experiências e o contato direto com os mais importantes artistas que participaram dessa mostra determinaram, depois de seu retorno à Argentina, um desejo de voltar a São Paulo e aqui permanecer.
Em entrevista, Teresa Nazar explicou o motivo dessa sua escolha:
“eram anos de grande agitação político-social e, na capital paulista, florescia um movimento cultural de grande envergadura. Nela gostaria de realizar o que penso em pinturas. Depende, no entanto, de várias circunstâncias”
Para Vergniaud Gonçalves a artista acrescentou:
“Odeio a rotina. Gosto de São Paulo também porque, quando acordo, nunca sei o que vai me acontecer. Estou descobrindo um novo mundo.”
Em 1962, a artista aqui fixou residência definitiva, instalou seu ateliê e se casou em 1965 com o escultor grego Nicolas Vlavianos, com quem teve dois filhos: Myrine e Gabriel.
Desde o início de sua carreira artística em Mendoza, Teresa Nazar reconfigurou plasticamente a representação da humanidade.
No começo, solidária, registrou aspectos significativos da cultura dos indígenas argentinos, seus conterrâneos esquecidos pelo poder público. Esta fase foi elogiada pelo jornal Los Andes, de Mendoza. Esta publicação destacou de imediato o seu surpreendente domínio técnico concluindo: “não obstante, apesar de jovem, em suas composições com figuras indígenas, pode-se apreciar a incorporação de alguns elementos que já apontam para um estilo pessoal.”
Além dos especialistas em arte da Argentina, os brasileiros também reconheceram a extensão dos conhecimentos técnicos compositivos e pictóricos de Teresa Nazar. A sua primeira exposição individual, aqui apresentada na antiga Galeria Selearte, foi referendada pelos críticos dos principais jornais paulistas. Geraldo Ferraz, considerado até hoje um dos críticos mais exigentes do Brasil, além de valorizar as suas habilidades técnicas afirmou:
“A jovem pintora trata a pintura a óleo em cuidadosa matéria, sobre ritmos e coloridos de uma conscienciosa elaboração … Teresa é
uma figurativa que não cede a nenhuma transação no mundo
abstrato… busca, isto sim, correspondências plásticas de vibração ativa e de enquadramentos dinâmicos… tudo isto em favor de uma pintura que se arma sem esforço numa espontaneidade admirável.”
Geraldo Ferraz
Na mesma época, José Geraldo Vieira, Quirino da Silva, Mário Schenberg e Sergio Milliet também enalteceram esta sua primeira mostra no Brasil. Quirino da Silva admirado escreveu: “sua obra é toda estruturada por um desenho forte que se harmoniza com um colorido depurado.”
José Geraldo Vieira acrescentou: “Teresa Nazar apresenta uma objetividade figurativa em teor majestoso … uma intuitiva composição proto-cubista e também expressionista entre Georges Braque e Rouault …” Assim Vieira sinalizava as heranças e influências positivas dos grandes mestres na obra de Teresa Nazar.
Para Sergio Milliet: “Teresa Nazar tem a recomendá-la, antes de tudo, um conhecimento perfeito da composição. Uma composição sem dúvida geométrica, mas não fria, mesmo porque adquire como predileção pelas curvas, uma sensualidade realçada ainda pela cor e pelo amor a matéria. A seriedade da sua arte é ademais, extremamente simpática nesse momento de tantas seduções estéticas.”
Já para Mário Schenberg,
“a pintura de Teresa Nazar se filia a um expressionismo figurativista de marcado caráter cubista … esta jovem artista possui uma visão vigorosa das paisagens e das pessoas … a cor é ainda subordinada ao desenho e à composição dos volumes … que acentuam os vários planos de seus espaços cubistas, sem constituir o meio principal de expressão.”
Mário Schenberg
Raramente, não só no Brasil, um artista plástico em sua primeira mostra individual conseguiu tanto apoio e o reconhecimento de suas qualificações técnicas, temáticas, coloristas e compositivas.Apesar do sucesso desta e das outras exposições apresentadas pela artista nas principais galerias de arte de São Paulo e do Rio de Janeiro (Astréia, Atrium, PetiteGalerie, Goeldi), a pintora entendeu que não poderia parar no tempo, se acomodar, mesmo com essa excelente aceitação dos críticos e dos principais colecionadores de arte da época. A partir daí, Teresa sentiu a necessidade de enfrentar novos desafios em sua carreira. Em entrevista para um jornalista, a pintora afirmou:
“Na vida não tem sentido ficar apegada as coisas. Quando se almeja algo novo é preciso abandonar tudo o que veio antes.”
Teresa Nazar
Apesar de realizada como artista e de ter suas obras disputadas pelos principais galeristas e colecionadores da época, Teresa
Nazar, paralelamente às suas atividades artísticas, desenvolveu um profícuo e elogiado trabalho como professora na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, destacando-se, até hoje, entre os mais respeitados mestres deste centro universitário. Em depoimento,entre tantos outros artistas, Alex Vallauri ressaltou a contribuição das aulas de desenho ministradas na FAAP por Teresa Nazar, considerando-as de fundamental importância para a sua formação artística.
Inquieta e audaciosa, Teresa nunca se acomodou. Ela entendeu que a arte está sempre em movimento, sintonizando o mundo e a humanidade em permanentes mudanças e mutações.
Por isso, nunca aceitou repetir meramente o já alcançado, estruturado de suas criações plásticas. Por isso, liberta, procurava incessantemente os meios libertadores do pensar visualizar e fazer arte. Assim, a pintora se distanciou cada vez mais de soluções fáceis e repetitivas impostas pelo ainda insípido mercado sul-americano de artes visuais.
Nazar, até o fim de sua vida, em tempo algum, afastou-se de seus valores pessoais e de suas convicções estéticas. Isenta de proselitismos e de soluções traiçoeiras da arte, jamais embarcou nas ondas da moda. Só lhe interessava a expressão e a representação dos anseios de uma humanidade livre que também lutasse a favor da liberdade da vida e da arte, suas principais metas de vida.
Uma parte da crítica de arte entendeu esse novo momento criador de Teresa, surpresos com seus progressos em tão pouco tempo, muitos críticos a selecionaram e a indicaram para importantes mostras coletivas, ao lado dos mais significativos artistas plásticos brasileiros dos anos 1960.
Sem medo de errar, avançou cada vez mais em suas pesquisas de materiais e técnicas inovadoras. Desistiu definitivamente da pintura a óleo de cavalete, à procura de outros e inusitados suportes para as suas novas criações.
Depois de afirmar que as nomenclaturas e as classificações artísticas precisavam ser abolidas, rechaçadas, defendeu o uso livre de elementos gráficos, pictóricos e escultóricos em uma única obra, preconizando um novo tempo, um novo momento de sua carreira.
Com materiais inusitados, Teresa idealizou duas novas séries.
Segundo o crítico Mário Schenberg a sua nova “visão de mundo não podia ser transmitida adequadamente pela simples representação 1965,
“Teresa continuou a progredir muito. Houve, sobretudo, uma transformação radical na sua temática, que se tornou atualíssima, tratada de maneira convincente. Basta mencionar a sua série interessantíssima de quadros sobre os voos dos astronautas em que utiliza largamente placas e outros elementos metálicos assim como objetos. O tratamento tão vivo e sugestivodas figuras é característico de sua fase atual. Também nas telassobre temas cotidianos, como no quadro com as mulheres no cabeleireiro, Teresa revela uma capacidade de apreensão realista pop muito original e uma eficácia de comunicação artística … A posição de destaque de Teresa Nazar na vanguarda da pintura paulistana se consolidou e, sua presença já se faz sentir mais amplamente em todo o movimento neo-realista brasileiro.”
Nos anos 1960 Teresa Nazar participou das principais manifestações de vanguarda das artes plásticas brasileiras: do primeiro happening de São Paulo, junto com Helio Oiticica que apresentou pela primeira vez em São Paulo neste evento passistas da Escola de Samba da Mangueira usando os seus Parangolés; de importantes mostras organizadas por Walter Zanini no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e inclusivede bienais de São Paulo – as de 1965 e 1967. Nesta última, também conhecida como a “Bienal da Arte Pop”, suas obras foram destacadas pela ousadia formal, técnica e temática incomuns em paralelo à produção inovadora da representação dos Estados Unidos que na ocasião expôs obras de Jasper Johns, Andy Warhol, RoyLichteinstein e entre outros Robert Rauschenberg.
A pesquisa de novas técnicas e materiais insólitos fundamentou o processo criativo de Teresa Nazar nos anos 1960. Liberdade, ousadia e inovação desmedidas, em especial para uma artista que dominou com maestria, desde o início de sua carreira, as técnicas tradicionais do desenho e da pintura a óleo, uma forma irreverente distante dos convencionalismos da representação artística em um momento difícil da história do Brasil, em plena ditadura militar.
Assim,presentificou e questionou em suas obras, de forma eloquente, a permanente equação: razão versus emoção frente às máquinas cada vez mais robotizadas do dia a dia do cidadão comum.
Quando questionada sobre as influências da Pop-Art em sua produção plástica, Teresa Nazar respondia: “Para mim a arte universal não tem fronteira”, reafirmando, mais uma vez, com antecedência o primeiro item da Declaração de Princípios Básicos da Vanguarda Brasileira.
texto de: João J. Spinelli
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