Arte brasileira

Claudia Andujar: fotografia e a luta Yanomami como forma de resistência

Claudia Andujar é um dos nomes mais emblemáticos da fotografia contemporânea brasileira. Sua trajetória é marcada não apenas por uma produção visual esteticamente potente, mas também por um compromisso ético e político com os povos indígenas, especialmente os Yanomami. Este artigo convida você a conhecer como sua arte se tornou ferramenta essencial de ativismo e resistência, unindo estética e ética em defesa dos direitos humanos e ambientais.

Claudia Andujar e o compromisso com os Yanomami

Desde os anos 1970, Claudia Andujar direcionou seu olhar para a Amazônia e os Yanomami, uma das maiores etnias indígenas da América do Sul. Fugindo do Holocausto na Europa, a artista suíço-brasileira encontrou no Brasil não apenas um novo lar, mas também uma causa vital: documentar e proteger os povos originários ameaçados por invasões e desmatamentos.

“Vertical 12”, da série Marcados (1981–1983), por Claudia Andujar. Fonte: Itaú Cultural

Sua série fotográfica mais famosa, “Marcados”, apresenta retratos dos Yanomami com números pintados em seus corpos — uma estratégia inicialmente desenvolvida para facilitar o acesso à saúde, mas que também ecoa a memória do extermínio vivenciado pela própria artista durante a Segunda Guerra Mundial. Outra obra icônica é a série “A luta Yanomami”, que registra os desafios diários da comunidade em meio à destruição ambiental e às violações de seus direitos.

A ética na fotografia de Claudia Andujar

O trabalho de Claudia Andujar levanta discussões essenciais sobre os limites e responsabilidades da fotografia documental. Como representar o outro sem exotizar? Como transformar imagens em instrumentos de mudança real? Inspirando-se em debates internacionais sobre fotografia e ética — como os promovidos por plataformas como Smarthistory — Andujar adotou um método colaborativo, envolvendo os próprios Yanomami em decisões sobre como seriam fotografados e para que fins as imagens seriam utilizadas.

Retrato de Claudia Andujar. Foto de Helen Salomão/ Instituto Moreira Salles

Essa postura não só fortaleceu a luta indígena, mas também estabeleceu novos paradigmas para a fotografia engajada. Suas imagens não são meros registros; são manifestações políticas que colocam em questão a desigualdade social, o etnocídio e a crise ambiental.

Onde ver as obras de Claudia Andujar

Para quem deseja conhecer de perto o trabalho da fotógrafa, algumas instituições abrigam acervos significativos de suas obras. O Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro e em São Paulo, possui uma vasta coleção dedicada a Andujar, incluindo fotos, documentos e materiais audiovisuais. A série completa de “Marcados”, por exemplo, faz parte desse acervo. O Museu de Arte de São Paulo (MASP) também já sediou grandes exposições retrospectivas da artista, consolidando sua importância no cenário da arte contemporânea brasileira e mundial.

“Indio Yanomami” (1976), por Claudia Andujar. Fonte: Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Em abril de 2025, o Instituto Inhotim reinaugurou a galeria que leva seu nome, agora intitulada Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano (“casa de terra”, em Yanomami). A nova proposta amplia o diálogo entre a fotografia histórica de Andujar e a arte indígena contemporânea, reunindo obras de 22 artistas indígenas da América do Sul, além de novas imagens inéditas da fotógrafa. Com curadoria de Beatriz Lemos e Júlia Rebouças, o espaço reafirma seu papel como território de resistência e memória, promovendo uma experiência imersiva com arte visual, audiovisual e documentação histórica.

Por que este tema é sempre atual

A luta dos Yanomami permanece urgente, especialmente diante dos atuais desafios ambientais e políticos no Brasil. Por isso, revisitar a obra de Claudia Andujar é mais do que um exercício estético: é um ato de consciência crítica. Ao unir arte e ativismo, sua fotografia nos convida a refletir sobre nosso papel na preservação da diversidade cultural e ambiental.

O que a fotografia de Claudia Andujar nos ensina?

A fotografia de Claudia Andujar nos ensina que a arte pode — e deve — ser uma ferramenta de resistência. Em tempos de crise climática e ataques aos direitos indígenas, sua obra permanece não só atual, mas essencial. Para jornalistas, ambientalistas e fotógrafos, sua trajetória é uma inspiração poderosa sobre o potencial transformador da imagem.

Leia também – Lygia Clark e o Corpo como Obra: A Arte que se Move com o Espectador

Não foi possível salvar sua inscrição. Por favor, tente novamente.
Sua inscrição foi bem sucedida.
Equipe Editorial

Os artigos assinados pela equipe editorial representam um conjunto de colaboradores que vão desde os editores da revista até os assessores de imprensa que sugeriram as pautas.

Recent Posts

Pinacoteca de São Paulo celebra 120 anos com livro inédito

A Pinacoteca de São Paulo celebra 120 anos de história com o lançamento de publicação…

15 horas ago

Cecília Maraújos apresenta ‘Autoficções’ no Ateliê 31 – Rio de Janeiro

O Ateliê 31 apresenta Autoficções, exposição individual de Cecília Maraújos com curadoria de Martha Werneck,…

15 horas ago

Damien Hirst | Reflexões polêmicas sobre a mortalidade

Damien Hirst (1965) é um artista contemporâneo inglês nascido em Bristol. Trabalhando com instalações, esculturas,…

3 dias ago

Diversidade na arte contemporânea: como ela evoluiu nos últimos 50 anos?

A representatividade e diversidade na arte contemporânea global referem-se à inclusão de artistas de diferentes…

3 dias ago

“Not Vital – Tirando onda”, no MAC Niterói com obras recentes e inéditas

O MAC Niterói (Museu de Arte Contemporânea de Niterói) recebe a exposição “Tirando Onda”, do…

3 dias ago

MASP exibe exposição de artista-xamã que retrata cosmologia Yanomami

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand exibe, de 5 de…

3 dias ago